Fuste | História de um cão
À saída da aldeia as setas pareciam indicar que deveríamos entrar pelo pátio particular duma casa. Mas não havia outra alternativa e tivemos mesmo que seguir as indicações e passar numa pequena abertura que dava acesso a um pátio interior, onde floresceu uma sombreira ramada. Aqui fomos encontrar nas tarefas quotidianas o casal habitante dessa casa. A senhora lavava roupa num tanque e o homem mexia em ferramentas. Paramos um pouco a falar com eles e fizemos festas a vários animais, como fizemos a outros nesta aldeia e deve ter sido isso que despoletou a história que se segue.
Começamos o percurso e verificamos que um pequeno cão de cor creme, bem tratado, com coleira, com postura feliz e carinhosa, nos seguia muito contente e dava correrias de forma energética.
Nós pensamos que a dada altura ele regressaria aos donos como é habitual nestes casos. Mas ele não parava de nos seguir, nem com os nossos insistentes pedidos. Uma ocasião fomos mais “duros”, durante breves instantes o cão desapareceu, para regressar logo de seguida em espetacular correria e passar a toda a velocidade por nós.
Nesta fase do trajeto pensamos nós que a companhia do animal era desígnio superior e que já estávamos longe o suficiente para não termos a certeza que ele regressava em segurança a casa. Soubemos logo nessa altura que ele teria no final de ser entregue aos donos.
E assim foi, parecia que o cão era nosso, quando nos ultrapassava ficava à nossa espera com as orelhas arrebitadas, quando ficava para trás, dava uma corrida para nos apanhar. Por vezes desaparecia por entre a vegetação ou molhava-se nos pequenos ribeiros que encontrava.
O percurso foi duro, este tem locais muito perigosos, onde até colocaram arames para as pessoas se segurarem. Em alguns pontos o caminho não tem mais de um metro de largura, uma queda pode ser a morte certa. No entanto alheio ao perigo o cão passava por nós a correr a todo a velocidade, ficávamos com o coração nas mãos, alguém ia-lhe dizendo, “O pá ainda vais cair lá baixo”.
Paramos para retemperar forças, no vale junto à Cascata da Ribeira do Covela, claro que o pequeno cão estava com fome depois de ter gastado alguma da sua energia. O “farnel” não era muito, mas lá comeu um pouco das nossas sandes. comeu de tudo; menos de banana..., devíamos pensar que ele era um macaco.
Retomando o caminho, a dada altura, o cão parou em postura defensiva com as orelhas arrebitadas. Nós não vimos nada, mas ele pressentiu algum perigo e mais tarde ficamos a saber que por ali vivem lobos que têm matado cães e ovelhas por aquela região.
Já perto do nosso destino em Rio de Frades surgiu outro cão que logo fez amizade com o “nosso”. Bem um cão ainda vá lá, mas dois já era de mais, mas constatamos que este tinha a sua casa ali próximo.
Chegamos ao destino e o nosso animal vendo a casa da Srª Alice Silva com a porta aberta depressa entrou lá para dentro, para comer a ração do gato. Mas a chegada repentina da proprietária levou-o fugir com medo, apesar das suas insistências ele não mais entrou e ela foi obrigada a deitar-lhe comida no exterior.
O tempo passou a correr e o crepúsculo aproximava-se e como ainda tínhamos que regressar a Fustes por caminhos de montanha, pedimos boleia à Sr.ª Fátima Tavares de Arouca, que se encontravam ali perto a descarregar achas de madeira. Este foi a única vez que o cão teve medo quando pegamos nele para ir aos nossos pés na cabine. Estávamos a ver que ele se iria enervar, mas lá com uma festas o conseguimos acalmar.
Bem próximo do destino o cão “finalmente” deu mostras de cansaço, colocando-se entre as nossas pernas. Mas acabamos por chegar, também nós já estávamos fatigados. Ali perto encontramos três mulheres, que tinham estado a trabalhar nos campos, Maria Ribeiro, Adília Duarte e Adília Ferreira, que nos indicaram quem era o dono do animal.
Uma delas veio connosco indicar-nos a casa, que por sinal era a que foi mencionada no começo desta jornada. Os donos eram o Alcino Silva e a Palmira Moreira que ao verem o animal ficaram muito contentes e aliviados. O dono disse já ter ido perguntar aos vizinhos pelo cão e ficado desconfiado que ele tivesse ido com os senhores da caminhada. Ficaram todos estupefactos com a história e que o cão não costuma fazer isso, já que é habitual passarem pessoas por ali nas caminhadas.
Finalmente soubemos o seu nome “Bobi”, tem dois anos, está registado e tem chipe. Isto deu motivo para ficarmos bastante tempo no local a falar, acompanhado pelo vinho que amavelmente nos ofereceu e que depois de tão grande esforço nos pareceu o néctar dos deuses, ainda que alguns não bebam por norma álcool. Partilhamos histórias do Ondas da Serra e eles dos lobos que atacam a região e que serão tratadas noutro artigo. O cão, esse ficou algum tempo no colo do dono a dar-lhes lambidelas no rosto. Não fosse ele querer fugir novamente o mesmo foi fechá-lo dentro de casa.
Agora quando formos novamente a Fuste vamos cumprimentar o nosso amigo “Bobi” e os seus donos.
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Fátima Tavares (direita)
Adília de Almeida Ferreira, Adília de Almeida Duarte, Maria Emília Martins Ribeiro (esq. para dt.)
Alcino Silva, dono do Bobi
Alcino Silva, dono do Bobi