Rosto Solidário para enfrentar os problemas sociais
O rosto não é apenas o conjunto da testa, sobrancelhas, olhos, nariz, maxilas e faces. Rosto é também oferecer resistência à falta de pensamento crítico e reflexão, enfrentar os problemas sociais das comunidades e procurar soluções, dar nome a números de flagelos e crises, melhorar o estado de espírito das pessoas.
Rosto é expressão de emoções, sem discriminação ou preconceito. A anatomia de cada emoção vive nos projetos da Rosto Solidário, nas ações que promove, nos valores que defende, nos voluntários que acolhe e na proximidade que mobiliza.
História do Rosto Solidário
O padre Pires, ou Manuel Caridade Pires, é um dos fundadores da associação e atual presidente da direção: “Lancei a ideia, sendo uma opção dos passionistas, e começamos a trabalhar em 2007. A Rosto Solidário surge pela vontade de não querermos ignorar o que se passa à nossa volta. Precisamos de nos implicar em áreas como o apoio à família e a educação para o desenvolvimento, numa ideia de mudança de formas de pensar e que percorrem as ruas como uma inundação. 11 anos depois, ainda há um longo trabalho a fazer”.
Há mais de 30 anos em Santa Maria da Feira, depois de estudar em Espanha e passar por Arcos de Valdevez e Barreiro, é o mentor da Rosto Solidário. No entanto, define-se como “um cidadão comum”.
Paulo Costa é o coordenador de projetos da Rosto Solidário desde 2009, focado na cooperação para o desenvolvimento e a educação e cidadania global. Licenciou-se em Economia para compreender o mundo. Um projeto de voluntariado de três anos em Angola determinou o seu futuro e sucessivas especializações na área social e do desenvolvimento moldaram-lhe a acção. É pelas e nas pessoas que compreende o mundo: “Acredito que nunca angariamos fundos nem coisas. Angariamos pessoas e precisamos de as fidelizar porque sem elas não temos fundos, recursos nem voluntários”, defende. “Numa sociedade tão individualista e competitiva, temos um espaço e metodologias que promovem uma abordagem contra a corrente atual, sem a concorrência de hoje, e o trabalho colaborativo”, remata.
De acordo com Paulo Costa, a Rosto Solidário tem algumas ações regulares como o gabinete de social, o banco de recursos, a educação para o desenvolvimento e acompanhamento psicológico.
Gabinete de Serviço Social
Gestão de casos que aparecem na Rosto Solidário, com apoio a vários níveis como resolução e mediação de problemas, falta de recursos para alimentação, doação de roupa e mobiliário, entre outros.
Acompanhamento psicológico
Técnica da Rosto Solidário que trabalha exclusivamente com crianças que precisam de acompanhamento psicológico, mas que os pais não têm recursos para pagar.
Banco de Recurso
Recolha, angariação e distribuição de alimentos, roupa, têxteis-lar, mobiliário, eletrodomésticos, entre outros. “Nos casos dos cabazes alimentares, acabamos por trabalhar com outras associações e não tanto diretamente com as famílias. Em 2017, distribuímos cerca de 13 toneladas de alimentos”, explica Paulo Costa.
Educação para o desenvolvimento
Surgiu para falar sobre os problemas em África há décadas. Na última década, o mundo mudou substancialmente e a pobreza absoluta é uma realidade disseminada em vários pontos do Globo: “Há uma série de problemas, entre eles as alterações climáticas, e que nos fazem pensar que os problemas não são os dos outros e os nossos, mas são cada vez mais globais. Portanto, temos de falar de cidadania global”, considera Paulo Costa. É, por exemplo, a partir de projetos de voluntariado ligados ao programa Erasmus que a organização trabalha esta dimensão de educação e cidadania global. Também trabalham com escolas, em que promovem workshops, por exemplo, e que têm um lado prático extremamente vincado.
Projetos para pensar
Segundo o economista de formação, a Rosto Solidário tem vindo a trabalhar em projetos com propostas inovadoras para pensar temáticas: “Temos trabalhado com vários parceiros, dentro e fora de Portugal, para promover esta cidadania global. Enquanto organização não vivemos fechados sobre nós próprios. Temos relações locais alargadas, desde outras associações, à Câmara Municipal e empresas. Estamos ainda há três anos na direção da plataforma nacional das ONGD”.
“Os projetos que queremos fazer agora de educação para a cidadania global, ligados com as questões do desenvolvimento sustentável, juntando pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias, são os 5 eixos do desenvolvimento sustentável, para que as pessoas façam uma reflexão localmente e depois decidam o que querem fazer por elas e serem capazes também de influenciar a mudança, por exemplo fazendo sugestões à Junta de Freguesia”, conclui Paulo.
Formas de participação
O voluntariado
Está na génese da Rosto Solidário e representa um compromisso para uma cidadania ativa e responsável.
Em 2009, 2015 e 2017, a organização foi distinguida com o prémio concelho solidário, na categoria de voluntariado, no âmbito do I, IV e V Mosaico Social promovidos pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, em parceria com a ADRITEM – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado de Terras de Santa Maria. A associação promove dois tipos distintos de voluntariado: passionista e serviço voluntário europeu.
“Os nossos voluntários acrescentam alguma coisa. O voluntariado não é um fim em si mesmo. O fim é o que é que mudamos na sociedade e o que é que mudamos nos próprios voluntários. Ver uma transformação duradoura”, defende Paulo Costa. O Padre Pires acrescenta: “Os nossos voluntários para Angola, por exemplo, passam por um processo de preparação, formação e integração de dois anos antes de irem para o local. Queremos promover um compromisso mais sólido entre voluntários e associação, embora isso não signifique que seja sempre assim”. Sobretudo focado no voluntariado jovem, a associação está agora a trabalhar para promover o voluntariado junto de adultos e evitar assim um voluntariado mais sazonal.
Consignação fiscal
A consignação fiscal é extremamente importante para a Rosto Solidário. “O valor de há dois anos atrás, no volume anual deste ano, representava cerca de 15% do nosso orçamento”, explica o gestor de projetos, com o seu lado de economista a ser evidente. “Significa que há muita gente a acreditar no que fazemos e a dar uma ajuda”, termina.
Outras
Cada um decide da forma como se pode envolver. Paulo Costa declara: “Não tem tempo, não tem muito dinheiro, como é que faz para ajudar? Temos pessoas que nos ajudam a reproduzir, ou a usar, materiais pedagógicos que desenvolvemos e que têm imenso valor. Falo de um documentário [“Mamãs do Papelão – disponível http://www.edegenero.pt/documentario.php] com imensa qualidade, feito em Angola e que trabalha as questões de género, que nos coloca a pensar no que é ser homem e mulher. Isto pode ser utilizado por professores, formadores, líderes de grupos, entre outros”. Existem ainda as possibilidades de realizar donativos ou de se tornar sócio/a."
A Rosto Solidário tem inspiração cristã e orienta a sua ação na doutrina social da Igreja. A paixão pela paz e pelo mundo determina a sua atuação, com base na promoção da justiça, na preservação do planeta e na construção da paz. O desenvolvimento social e humano é a sua missão há 11 e assim permanecerá, com a liberdade, a educação, a igualdade, a educação, a cultura e a participação como fundações basilares.