O credelec teve os seus momentos de diva, enfurecido por ser ignorado; e água alturas em que ameaçava ser cortada. Sobrevivi à época dos ventos, existe mesmo!, e enfrentei, pela primeira vez, tornados de lixo capazes de sedimentar objetos de origem desconhecida em sítios improváveis como as ingénuas das minhas orelhas.
“Eish” é, provavelmente, a palavra que melhor define uma aventura em tudo diferente do que tinha imaginado mas da qual não abdicaria. As “mamãs” proliferam nos passeios largos das principais avenidas, vendendo essencialmente fruta e legumes.
Encontrei algumas das mais belas expressões faciais de sempre, rostos repletos de vida, sedentos por descobrir. Conheci dois pescadores, em Bilene, que não faziam ideia que existiam pescadores em Portugal e, caso existam (reconheceram eles), só poderiam ser negros.
A cidade das Acácias, como é falaciosamente conhecida, por erro do pré-25 de Abril, oferece o charme de um local em construção, cheia de possibilidades e enigmas, mas também acorrentada a medos e problemas que só o tempo poderá ajudar a curar.
O Verão e o Inverno vão-se sobrepondo numa harmonia que os dias, curtos, alimentam sem artifícios. Neste país, que se estende ao longo de mais de 2.000 quilómetros, a vida não adquire a dimensão pesada de futuro que na Europa tanto significa. O presente é o que realmente importa, e cada dia é mais um dia que passa numa vida que pode não ser a melhor que mas usufrui de um equilíbrio tão difícil de alcançar.
Moçambique faz-se de encontros com a Suazilândia, África do Sul e Lesoto. É união das estradas de Inhambane, do mercado da Macia e do frango de Xai-Xai (aquele que um dia alguém disse não saber onde ficava). O jazz escuta-se ao longo de toda a cidade, repleta de cultura, criações e possibilidades. As molduras querem ousadas, o enquadramento pouco equilibrado e o grão quanto mais intenso melhor.
Guardar África no Word é o encerrar de um capítulo. Durante seis meses descobri experimentei uma nova forma de olhar o ser humano, debati geopolítica, descobri o jazz africano, desconfiei várias vezes que iria ser roubado e ri, ri muito, quando menos esperava. No fundo, guardo África com saudade mas também certeza de que não lhe pertenço. Vivi-a, venturei-me, deslizei na neve e bebi água de coco. Tirei fotografias e tomei decisões. A Mamã África, de facto, domina o tempo, não vive apenas em casas de zinco, e surpreende. É o ritmo da marrabenta que seduz, o marisco que afinal não abunda e o chapa que desafia qualquer um.
Maputo é mais do que a selva urbana em que vive, a cidade que parece em estado sítio permanente, com tanto ainda por fazer mas que já alcançou tanto. É também a casa de milhares de portugueses, o sítio onde se pode vislumbrar o pôr-do-sol a partir de 33 andares, acompanhar a construção de uma ponte megalómana, ouvir a simplicidade das suas gentes e atravessar o rio para almoçar.
Os chocolates a que não resisti, os silêncios que tanta falta faziam e as aventuras domésticas compõem seis meses de uma fase que deixa saudade.
Obrigado Mamã África.
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Ricardo Grilo na Reserva Natural na Suazilândia
Ricardo Grilo em Sani Pass - Lesoto e África do Sul.jpg
Artesanato típico de Moçambique
Bairro dos Pescadores Maputo
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Ricardo Grilo (segundo a contar da esq.) no Cabo da Boa Esperança
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Criança montada num burro no Lesoto
Encontro de fronteiras - Moçambique, Suazilândia e África do Sul
Ilha de Bazaruto
Ilha de Bazaruto - Província de Inhambane
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Inhambane
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Ponte suspensa na Suazilândia
Pôr-do-Sol do prédio mais alto de Maputo
Praia de Bilene
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Rio no Lesoto