Descubra os segredos da Moita na Ria de Aveiro em Ovar Carlos Gomes, Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Ovar Ondas da Serra
domingo, 12 novembro 2017 22:41

Descubra os segredos da Moita na Ria de Aveiro em Ovar

Classifique este item
(3 votos)

Em Ovar existe um local que passa frequentemente despercebido, o lugar da Moita, junto da Ria de Aveiro, Canal de Ovar. Este lugar é caracterizado pela sua beleza e ruralidade, que contrasta com a cidade que fica muito próxima. Nós passeamos com regularidade pelos seus caminhos de terra batida, ladeados de vegetação, apreciando o canal da ria, campos agrícolas, aves, insetos, flores, águas e os estreitos esteiros. Os quadros variam com as estações, humores do tempo, pessoas, fauna e flora. Pela sua importância, riqueza e localização, a Moita merecia mais atenção das pessoas e entidades oficiais para a sua proteção e divulgação.  

Conheça o lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

O cheiro da Ria de Aveiro é inconfundível e em cima da pequena ponte da Moita a vista alcança e abrange toda a linha do horizonte. Este é o ponto de encontro dos pescadores desportivos ou observadores de aves.

Pelos seus caminhos em terra batida encontramos pescadores, agricultores, turistas ou caminhantes ocasionais. No final da estrada em terra batida resiste ainda e sempre um casebre familiar, os seus moradores já se cruzaram connosco e nós parecemos não lhes inspirar confiança, lá terão as suas razões, nem todos sabem respeitar o “dono” da terra.

A formação da Ria de Aveiro remonta ao século XVI

“A Ria de Aveiro formou-se no século XVI, como resultado de um recuo do mar e, posteriormente, uma formação de cordões litorais e que originaram uma laguna.” 1

Extensão da Ria de Aveiro

Moliceiro na Ria de Aveiro

“A ria tem uma extensão de 45 quilómetros e aproximadamente 11 quilómetros de largura, no sentido este-oeste, tem uma foz que envolve 11 mil hectares, dos quais, mais de seis mil estão permanentemente cobertos de água. A Ria, que ao afastar terras as junta, ao mesmo tempo, numa grande e forte união entre as gentes, tem um papel fundamental na agregação do território e do seu desenvolvimento.” 1

A Ria de Aveiro, tem na sua zona mais larga entre as margens da Torreira e o Cais do Bico na Murtosa, uma extensão de 1500 metros.

Ria de Aveiro localização

A Ria de Aveiro, também conhecida como Foz do Vouga, é uma laguna que existe na região de Aveiro, entre os concelhos de Ovar e Mira.

  • Área: 75 km²;
  • Localidades: Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mira, Murtosa, Ovar e Vagos;
  • Afluentes principais: Rio Vouga, Rio Antuã, Rio Boco e Rio Cáster;
  • Comprimento: 45 km;
  • Distritos: Distrito de Aveiro; Distrito de Coimbra;
  • Canais: A ria divide-se em três canais/zonas: o Canal de Ovar, o Canal de Ílhavo e o Canal de Mira;
  • Canais Urbanos de Aveiro: 1 A Ria de Aveiro forma cinco canais urbanos na cidade de Aveiro, que são sobretudo utilizados para fins turísticos, onde se realizam passeios em embarcações tradicionais, onde se destacam o moliceiro e o mercantel:
    • Canal Central;
    • Canal do Côjo;
    • Canal das Pirâmides;
    • Canal de São Roque;
    • Canal dos Santos Mártires (também conhecido por Canal do Paraíso). 

Breve história dos cais da ria de Aveiro e atividades

Bateira na Boca da Marinha - Ria de Aveiro - Murtosa

Durante séculos a economia da região lagunar da Ria de Aveiro esteve exclusivamente baseada na exploração dos seus recursos locais (Sarmento, 2005, p.207). As populações dos concelhos que rodeiam a Ria de Aveiro sempre mantiveram uma forte afinidade com este ecossistema, vivendo em função do que a Ria lhes concedia, a pesca, a recolha do moliço, bivalves e crustáceos, o sal, o tráfego lagunar e a agricultura. Ao longo dos séculos estas populações desenvolveram atividades agro marinhas, em que a conjugação entre a pesca marítima e a lagunar associada à agricultura assegurava a base da economia doméstica. 2

Segundo Sarmento (2005, p.208) “nos séculos XII e XIII, a pesca marítima e a pesca fluvial estavam claramente diferenciadas”, sendo, no entanto, exercidas em simultâneo com o trabalho agrícola. Segundo o mesmo autor, a evolução da morfologia costeira, sobretudo a partir do século XVI, provocou a decadência da pesca lagunar, levando a que muitos pescadores se dedicassem a esta faina no mar. Já no século XIX, após a abertura e fixação da barra (1808), as atividades lagunares registam um forte incremento, suscitando a necessidade de medidas de proteção dos recursos, como a instituição de um período de defeso (1868) e a regulação dos usos. 2

Ao longo dos séculos e até meados do século XX a Ria de Aveiro, funcionou como o mais importante eixo de comunicação entre as populações ribeirinhas, na ausência de grandes eixos rodoviários (a estrada que liga Ovar a São Jacinto foi construída em 1952, EN327). O vento e “os canais lagunares foram aproveitados para o transporte e deslocação entre as margens” (Sarmento, 2005, p.219), sendo rotineiras as travessias e comuns a associação entre habitações e bateiras nas margens da Ria. Este contexto dá lugar à criação de uma grande diversidade de embarcações e de cais e locais de acostagem. 3 

Carlos Gomes com a sua bicicleta "Rosita"

Carlos Gomes - Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

Neste dia encontramos a passear com a sua bicicleta "Rosita", Carlos Gomes, natural da Ribeira e residente em São Miguel de Ovar, casado, com 67 anos de idade, trabalhou 47 anos na empresa Batista e Irmãos em Ovar. De olhar sereno e temperamento calmo, contou-nos que antigamente aqueles campos junto à ponte eram mais verdes e as águas mais doces, agora entra água mais salgada que mata tudo e a vegetação fica queimada.

Os problemas da Ria de Aveiro

Segundo o Carlos Gomes, este problema teve início há cerca 20 anos quando fizeram as obras na barra que permitiram às águas entrar e sair com mais pressão e velocidade. As preias-mar também são maiores e atingindo a água maior altura. Indicou-nos com o braço o local junto à ponte onde já se está a formar uma lagoa. A própria força da corrente traz consigo lodo e areia branca. Foi a área que o levou naquele dia à Moita, porque essa areia chama robalos e há uns dias um amigo seu pescou ali muitos destes peixes. Há muitas décadas os pais do seu amigo cultivavam um térreo ali perto, ele ainda criança com o amigo andavam por ali a cortar mato até junto do braço de ria, mas agora está tudo queimado sem vegetação. Frisou que antigamente naquele local existiam muitas terras de cultivo e indicou-nos duas terras que se vê da ponte da Moita para norte conhecidas pela Ilha e Boca do Rio.

A fauna do Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

Libélulas - Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

Mas lá o deixamos ir embora a pedalar para fazer aquilo que disse gostar mais, ver a paisagem. Pelo caminho fomos vendo aves, insetos e plantas. Se estivermos atentos aos pormenores podemos ver o microcosmo do universo, com foi o caso daquele casal de libélulas apanhadas em flagrante cena amorosa. Na ida e no regresso podemos ouvir e ver um bando de corvos que parecem ser os arruaceiros do local. De todas as vezes que ali vamos, vemos sempre estas aves a esvoaçar e pousar nos campos. Fazem de tal maneira barulho que até parecem que se estão a divertir ou chateados com a nossa intrusão nos seus domínios, pela algazarra que fazem. 

A família de etnia romani a viajar de carroça

Família de etnia romani - Lugar da Moita - Ria de Aveiro - Canal de Ovar

Já no nosso regresso fomos surpreendidos por uma família de etnia cigana, a viajar de carroça, que permitiu que tirássemos umas fotos para alegria das suas duas crianças. Nas nossas passagens posteriores pelo local podemos verificar que é habitual encontrar por aqui pessoas desta etnia, também eles gostam da natureza, mas devem também ter outro motivo mais prático, que havemos de descobrir.

Caminhe no distrito de Aveiro e pedale de bicicleta pelo norte de Portugal

O distrito de Aveiro tem dezenas de caminhadas e percursos pedestres muito bonitos, na serra, junto do mar, ria e rios, que pode aproveitar para os conhecer. No norte de Portugal há muitas ciclovias, ecovias e ecopistas que se pode percorrer, a caminhar ou de bicicleta, muitas delas por antigas linhas ferroviárias, agora convertidas em pista para as pessoas passearem. 

Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - riadeaveiro.pt
2 - Esboço da História Contemporânea de Pardilhó: O Almocreve da Ti Rendeira. 1. ed. Rio de Janeiro: CBAG EDITORA, 1982. 70 p. v. 1
3 - Robaina, M. and Martins, F. and Figueiredo, E. and Albuquerque, H., Nunca mais voltas ao Cais? Perceções sociais e políticas sobre os Cais da Ria de Aveiro. RIA, Aveiro, 1981

Galeria de fotos do lugar da Moita em Ovar

Lida 2644 vezes

Autor

Ondas da Serra

Ondas da Serra® é uma marca registada e um Órgão de Comunicação Social periódico inscrito na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com um jornal online. O nosso projeto visa através da publicação das nossas reportagens exclusivas e originais promover a divulgação e defesa do património natural, arquitetónico, pessoas, animais e tradições do distrito de Aveiro e de outras regiões de Portugal. Recorreremos à justiça para defendermos os nossos direitos de autor se detetarmos a utilização do nosso material, texto e fotos sem consentimento e de forma ilegal.     

Itens relacionados

Capelas dos Passos: Tesouro religioso no coração de Ovar

As Sete Capelas dos Passos, ficam localizadas no centro de Ovar, tendo sido construídas no século XVIII, com o objetivo de recriar a Via Sacra de Jesus Cristo, para expiar os pecados dos homens, pelas ruas de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até ao Calvário. Estes templos possuem uma forte carga simbólica, emocional e religiosa, pelas cenas da paixão de Cristo e Santos Bíblicos representados. Os artistas recriaram estes quadros com frescos e centenas de esculturas que parecem imbuídas de vida, transparecendo dor, emoção, justiça e vingança. No passado estas procissões da quaresma eram feitas com capelas de lona portáteis e santos de palha, tendo sido substituídas por estes templos que foram erigidos com o dinheiro de um curioso imposto da venda de vinho. Neste trabalho fizemos uma exaustiva pesquisa para dar a conhecer a sua localização, história, aspetos técnicos, simbologia, representação, descrição e curiosidades. Em cada uma das capelas fizemos também uma recolha fotográfica de forma a os visitantes saberem de antemão quem são as figuras bíblicas representadas e frescos pintados. Este património está classificado como de interesse público, mas tem problemas de conservação, restauro e projeção que vamos enumerar. Nós tivemos o privilégio de rever e redescobrir estas capelas participando num evento organizado pelo município vareiro, através duma visita guiada e encenada denominada “Passo a Passo”, tendo por cicerone, "Zé dos Pregos", interpretado pelo artista Leandro Ribeiro, da Sol d'Alma - Associação de Teatro de Válega. 

Trilho dos Socalcos do Sistelo revela paisagens incríveis

O percurso pedestres PR24 – Trilho dos Socalcos do Sistelo, desenvolve-se nesta freguesia do concelho de Arcos de Valdevez. Esta caminhada é caracterizada pelos socalcos que contribuíram para ter ganho o título de ser uma das “7 Maravilhas de Portugal”, na categoria de Aldeia Rural. Esta forma que os seus antepassados arranjaram para moldar a paisagem e conseguirem cultivar as terras para o seu sustento, mudam de tonalidade e beleza conforme as estações do ano. Pelo caminho poderão ser encontrados traços da sua ancestralidade e práticas agrícolas. Por vezes nos lugares mais inusitados descansam ou pastam bovinos da raça Cachena, alheios ao tempo e curiosidade dos forasteiros. Os socalcos, muros, espigueiros e casas em granito, das aldeias de Sistelo e Padrão conferem um caráter respeitoso e austero, da sua velha longevidade, mas que lentamente estão a morrer degradados pelo abandono. Subir estas encostas e ver Sistelo ao longe, rodeado de socalcos é uma das melhores formas de abarcar a sua beleza paisagística e de o celebrar.

Biólogo Rafael Marques: A Flora dos Sapais na Ria de Aveiro

No âmbito do evento “Descobrir e Experienciar a Ria”, realizado pelo município de Estarreja, conhecemos o biólogo Rafael Marques. O mesmo foi o nosso cicerone numa visita guiada entre a Ribeira do Mourão em Avanca e a Ribeira do Telhadouro em Pardilhó, onde identificou e caracterizou os ambientes de transição e flora dos sapais da Ria de Aveiro. Rafael Marques é coautor do “Guia de Flora do Baixo Vouga Lagunar" que foi utilizado como auxiliar na identificação das plantas que encontramos neste percurso e nos deu a conhecer as suas propriedades medicinais, comestíveis ou decorativas. Foi também salientada a importância dos sapais para a biodiversidade, depuração das águas e proteção contra as alterações climáticas.