Apresentação do livro "MAR E OUTROS POEMAS", de Fernando Pinto
"À primeira vista, as sessões de lançamento de uma obra literária são todas iguais. Escolhido o local, sentam-se a uma mesa o autor e a pessoa convidada para tecer comentários, por regra elogiosos, sobre os dois. Do outro lado alinham-se os destinatários da mensagem, muitos à espera de um autógrafo. A dimensão do aparato e a sua divulgação dependem do impacto do autor e do meio onde ocorre o acontecimento. Esta análise é discutível, mas aí está.
A apresentação do primeiro livro do jornalista Fernando Manuel Oliveira Pinto, "MAR e outros poemas", levada a efeito no dia 25 de novembro de 2016 na Biblioteca Municipal de Ovar, obedeceu ao esquema acima alinhado, mas não só. Foi muito além. Entrou no foro de uma confissão. A empatia do autor com a plateia fez o resto... O lado intimista como Fernando Pinto ligou a obra à sua própria vida deram à reunião autor/assistência o cunho de uma conferência sobre a arte de (bem) viver. A faceta de humanidade de Fernando Pinto, a sua sensibilidade e a forma simples como abordou o tema, que era o livro, prenderam a atenção das pessoas e iludiram o tempo. Que passou a correr, sem ninguém dar por isso. Comecemos pelo "objeto de estimação" que é a amizade. Trazer uma colega de curso para falar sobre a sua obra (e o autor) mostra que os laços de amizade ficaram e perduram. Destacar a presença das dezenas de amigos que enfrentaram a intempérie para estar ali – como salientou – e apontar a dedo os nomes de amigos de “lides artísticas” pode parecer igual ao que sucede nestas ocasiões. Mas no caso de Fernando Pinto isto não é um gesto de conveniência, é genuíno, como genuíno é o sorriso que lhe emoldura as palavras.
Na abordagem do ato de criação literária do livro que nos levara lá, o autor não se ficou pela forma, de que também falou – gosta de poemas curtos e de palavras simples, palavras nuas: mostrou paixão pela sua terra, pelas raízes, tema subjacente à maioria deles. O Furadouro, os pescadores, o pôr do sol, as gaivotas, o MAR. Sempre o MAR. E a vida. A família... Foi ao falar da família que Fernando Pinto mais sensibilizou os amigos ali presentes. E se emocionou... Primeiro dando palco à filha Inês, de 12 anos de idade, ao incluir no livro ilustrações da sua autoria, depois falando no seu filho Leonardo, de nove aninhos, "um menino muito meigo, especial".
Os pescadores, uma das "traves mestras" do livro, fizeram Fernando Pinto relembrar, com emoção, o avô, também ele pescador e "protagonista" do filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha, pois fazia parte da tripulação do barco que merece destaque no filme. A certa altura, quando a apresentadora e amiga Oriana Pataco lia um excerto do poema "Lobos do Mar", Fernando Pinto não resistiu e declamou ele o poema. Todo. E então vimos que não eram as palavras escritas no papel que Fernando Pinto lia: ele expõe-nos a própria alma. O livro contempla poemas desde os quinze anos do autor, escalonados por várias fazes da vida. Quando alguém da assistência pergunta se estão alinhados cronologicamente, Fernando Pinto responde que não, que estão intercalados, mas que os leitores o irão descobrir por eles. Belo desafio. Depois de ler o livro “MAR e outros poemas” e de esta crónica já ir longa, talvez seja altura de me despedir com um verso dito pela Mãe do poema sobre os búzios: Agora dorme. Anoiteceu."
TEXTO: Jacinto Guimarães (escritor de Válega, Ovar)
VÍDEO: Fernando Pinto e Inês Pinto (filmado na Praia do Torrão do Lameiro, Ovar)
FOTO DA CAPA: Fernando Pinto
O livro "MAR E OUTROS POEMAS", de Fernando Pinto, pode ser adquirido na Biblioteca Municipal de Ovar.