Rua do Azulejo de Ovar - Reportagem fotográfica Ovar cidade museu do azulejo. Fachada de casa com azulejos antigos. Ondas da Serra
domingo, 20 novembro 2016 21:09

Rua do Azulejo de Ovar - Reportagem fotográfica

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Ovar é conhecida pela “Cidade museu dos azulejos”, tendo sido feito um levantamento fotográfico dos azulejos das ruas mais antigas do centro da cidade. Esta arte representa uma parte importante da identidade vareira e a forma como os azulejos conferem à cidade de Ovar uma atmosfera especial, típica e bairrista, em contraste com os edifícios modernos, que podem ser muito funcionais e ter a sua beleza, mas que não representam a alma de um povo.

História de Ovar Cidade Museu do Azulejo

Ovar Cidade Museu do Azulejo

Ovar possui sinais de ocupação remota desde a pré-história, em termos de documentação só existem notícias das suas gentes a partir do século XI. Sendo uma terra de lavradores, pescadores, comerciantes de sal e artesãos, a cidade foi crescendo e ganhando importância, tendo recebido foral por D. Manuel I, em 10 de Fevereiro de 1514. As difíceis dificuldades da vida levaram muitos pescadores vareiros a tentar a sorte pelo resto da costa portuguesa e do outro lado do Atlântico, sendo este último facto apresentado importante para entender o surgimento do fenômeno do azulejo na cidade em conjunto com o Carnaval.

Rua do Azulejo - Núcleo principal dos azulejos da cidade de Ovar

Ovar Cidade Museu do Azulejo


O verdadeiro núcleo da azulejaria de Ovar encontra-se concentrado no centro da cidade nas Rua Dr José Falcão e Padre Ferrer, embora por toda a cidade e freguesias se encontre este traço característico do concelho, em monumentos religiosos, públicos e privados. Esta moda do azulejo de fachada foi trazida por imigrantes vareiros que retornaram a Ovar e trouxeram na bagagem de Manaus - Brasil esta forma de construção, as suas casas eram popularmente conhecidas como "As casas do Brasileiro". Um dos problemas que as casas de Ovar enfrentavam naquela altura era a humidade, este material além de resolver o problema, era atrativo, brilhante e bonito.

Azulejos da zona histórica de Ovar datam dos séculos XIX e XX

Ovar Cidade Museu do Azulejo

A larga maioria dos azulejos de Ovar data dos séculos XIX e XX. De realçar as ruas da zona histórica da cidade de Ovar que apresentam um conjunto fora do comum de casas com revestimentos azulejares, o qual torna-as num autêntico museu vivo do azulejo. O revestimento das fachadas com azulejo semi-industrial começou, no século XIX, por ser uma moda "importada" por emigrantes "brasileiros" enriquecidos. Os emigrantes oitocentistas, retornados do Brasil, investiram as suas poupanças em habitações com características semelhantes às que existiam no outro lado do Atlântico.

A moda "pegou" porque nos arredores do Porto e em Aveiro surgiram, entretanto, unidades industriais capazes de vender azulejo em quantidade e por baixo preço. Mas "pegou", também, porque o azulejo permite manter as fachadas das casas com um aspecto limpo e luminoso ao mesmo tempo que protege as paredes das humidades e das variações da temperatura. Para preservar o património edificado de Ovar, nas suas várias vertentes e alertar para a importância - pela quantidade e variedade - da sua componente cerâmica, incidindo, sobretudo, no azulejo de fachada, a C.M. Ovar criou o Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo.1

Importa comentar o facto destes emigrantes brasileiros regressados endinheirados das Américas investirem nos azulejos e trazerem também outras culturas que foram assimiladas pelos Ovarenses, sendo de destacar o Carnaval, o basquetebol e o reforço do futebol. O Estádio Marques da Silva foi oferecido à cidade por um destes emigrantes, recebendo em troca o seu nome. Neste trabalho só nós vamos debruçar sobre o azulejo, contudo é de salientar que já no guia turístico de 1959 se fazia grande referência ao Carnaval.

Rafael Salinas Calado, o homem que ajudou ao reconhecimento de “Ovar Cidade Museu do Azulejo”

Uma das pessoas que contribuíram para Ovar ser reconhecida como “Ovar Cidade Museu do Azulejo” foi Rafael Salinas Calado, falecido com 69 anos em 27 de Dezembro de 2006. Foi um dos maiores especialistas em cerâmica que Portugal já conheceu. Foi fundador e Diretor do Museu Nacional do Azulejo, Conservador do Museu Nacional de Arte Antiga, escreveu e colaborou em vários artigos e obras sobre cerâmica. 

Rafael Salinas Calado"Ovar é um museu vivo do azulejo – frase dita e redita, quase “slogan” – que exige, no entanto, uma clara explicação, sobretudo para dar aos vareiros, conscientemente bairristas, uma dimensão mais exata da importância nacional daquilo que têm sabido estimar e conservar e exemplarmente defender. (…) Portanto, as ruas de casinhas cobertas da cor e variedade dos motivos dos seus azulejos, expostos à privilegiada luz da Ria, fazem de Ovar um magnífico museu. Ele recria, mostra e ensina, com invulgar evidência, os verdadeiros recursos de originalidade e beleza conseguidos na coerente simplicidade de um gosto enraizadamente nacional. É uma lição de prazer estético o deixarmo-nos passear pelas praças e ruas, encharcando os olhos nas mais variadas descobertas, sempre renovadas. Fachadas de cerâmica, singelamente enriquecidas pela cor e pelo brilho a que a eloquente sabedoria popular conseguiu – à custa de um modesto material – fazer ganhar, através de enfeitiçantes reflexos, uma escala monumental. Também por isso, Ovar é – toda ela – um monumento. (…)”1

Rafael Salinas Calado, 1981

Foi a partir deste pequeno texto por ele assinado que se assistiu por parte da Câmara Municipal a revalorização deste património. Este especialista estava permanentemente a ser solicitado, de norte a sul de Portugal, sempre disponível para dar a sua colaboração sobre este tipo de arte em Portugal, pelo que qualquer biografia que lhe seja feita a título póstumo pecará sempre por omissão.

Este mediatismo vindo duma entidade externa levou o poder político a olhar com outros olhos para este património e pressionando-os a agir. Os vareiros acordaram para a riqueza que tinham à sua frente e acrescentaram-no à sua identidade. A autarquia compreendeu o seu valor e depressa começou a transmitir a ideia de que este fenômeno é único e específico de Ovar, o que deixando de lado o "bairrismo salutar" não será bem assim. O importante é que levou à protecção deste património que de outro modo se iria perder. 

Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo Ovar

Ovar Cidade Museu do Azulejo

"O “Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo” é um serviço do Patrimônio Histórico da Divisão da Cultura, criado com o objetivo de incentivar e apoiar a salvaguarda, preservação e recuperação do património edificado de valor patrimonial, artístico e histórico, em particular dos azulejos e dos ornamentos cerâmicos, de fachada, do século XIX/XX. Para tal, promove um conjunto de ações e medidas de divulgação, prevenção, recuperação, formação, investigação, turísticas e lúdico-pedagógicas." 1

Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 – Câmara Municipal de Ovar

Galeria de fotografias de Ovar "Cidade Museu do Azulejo"

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Autor

Ondas da Serra

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