O que visitar na Serra da Arada no belo Trilho das Bétulas Serra da Arada - São Pedro do Sul, aldeia de Póvoa das Leiras Ondas da Serra

O que visitar na Serra da Arada no belo Trilho das Bétulas

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Saltando sobre picos montanhosos, cruzamos a imensidão da Serra da Arada, no concelho de São Pedro do Sul, que irrompeu pelo Maciço da Gralheira, no reino das Montanhas Mágicas e aventureiros descobrem a Rota da Água e da Pedra. Nesta serra trilhamos a Rota das Bétulas, que começa junto do Retiro da Fraguinha, que encerra religiosamente um pedaço de turfeira, antigo tesouro do tempo das glaciações. Do alto do espetacular Miradouro da Ribeira Escura, vislumbramos as aldeias de Candal e Póvoas das Leiras, que se fazem acompanhar pela Ribeira de Paivó e uma levada que parte da Lagoa da Fraguinha. Os modernos moinhos de vento chegaram como maquiavélicas criaturas, dotados de eólicos braços, que prostrados em cimo dos penedos ameaçam tudo o que a vista alcança, brandindo as suas facínoras espadas. Vamos então viajar e conhecer estes recantos, onde tão desrespeitado tempo viajou para paragens mais afortunadas e bafejadas pela agitação, desassossego e humano desatino.

Serra da Arada na transição da Beira Litoral com a Beira Alta

Miradouro da Ribeira Escura - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Portugal parece uma criatura bipolar, junto do litoral tudo se amontoa no meio do desassossego, se organizar criando desorganização, guerreando com o tempo, em sucessivas batalhas perdidas, abafam-se pessoas, direitos, ética, respeito, paciência e consideração, num egoísmo exacerbado pelo "salve-se quem poder". Contudo basta vencer uns poucos quilómetros para o interior, para encontramos estradas desprovidas de caótico transito, de pessoas esbaforidas e maus modos matinais. As aldeias vão surgindo, amarradas a um passado que teima em manifestar-se, embora já com poucos naturais para as confortarem, manterem e alegrarem.

A Serra da Arada obedece a este princípio, partilhado com as suas irmãs das Montanhas Mágicas, Montemuro, Freita e São Macário. Foi por estas razões que nascemos, por elas contamos as histórias e como as sereias cantamos para vós atrair a estes magníficos grossos mares de Portugal.

Serra da Arada é uma elevação de Portugal com 1120 metros de altitude

“A Serra da Arada é uma elevação de Portugal Continental, com 1120 metros de altitude, cota esta obtida no Alto das Minas de Chãs. Localiza-se a Noroeste da cidade de São Pedro do Sul, de onde está a cerca e 10 quilómetros de distância e em cujo concelho se situa maioritariamente fazendo ainda parte do concelho de Arouca. Faz parte do Maciço da Gralheira, situando-se na transição da Beira Litoral para a Beira Alta.

Com início na falha geológica da linha do Rio Frades e Rio Teixeira de onde se separa da Serra da Freita estende-se a norte ao longo de várias elevações acima de 1000 metros até ao rio Paiva, comportando várias aldeias históricas de Portugal com construções de xisto, de onde se destacam a Aldeia da Pena, Drave e o Fujaco, entre outras.

A cerca de mil metros de altitude, encontra a famosa Garra, uma encosta montanhosa esculpida pela água, que faz lembrar a garra gigantesca de uma ave. A primavera é a melhor altura para apreciar a vista, pois a Garra fica coberta de carqueja e urze e parece pintada de amarelo e rosa.” 1

PR2 – Rota das Bétulas – São Pedro do Sul

PR2 – Rota das Bétulas – São Pedro do Sul

Fomos conhecer a Serra da Arada, através do PR2 – Rota das Bétulas - trilho de São Pedro do Sul, que começa junto do Retiro da Fraguinha, onde funciona um parque de campismo, no meio de um frondoso bosque atravessado por um ribeiro. 

Esta caminhada encheu-nos de energia e felicidade pelo sossego apresentado, paisagens desfrutadas e aldeias em xisto. Estas povoações seguem paradas no tempo, desprovidas de ambição, pessoas e movimentação, onde os animais se fazem sentir em lugar das humanas vozes. Por vezes paramos e contemplamos o silêncio, recortado pelo cantar apaixonado dos pássaros, sibilante vento ou esganiçado troar dum garnisé.    

“Este é um percurso idílico para os amantes das montanhas e das suas nuances, onde não raras vezes o belo se contrasta com o austero. Parte do Retiro da Fraguinha, bem perto do bosquete de bétulas que lhe dá nome, e sobe até ao topo da Serra da Arada, uma das que integram o impressionante Maciço da Gralheira.

No topo da serra é muito provável que se veja acompanhado de gado bovino itinerante, que parece não ter limites na sua diária exploração destes recantos isolados. No miradouro da Ribeira Escura os horizontes são de perder a vista. Serranias nuas, de matos rasteiros e ásperos, cada uma com sua cor, interrompidas aqui e ali por profundos vales encaixados. A descida até ao Candal é longa e sinuosa, por antigo caminho talhado em granito.

Nas duas aldeias, surpreenda-se com a arquitetura vernacular e com os muitos canastros ainda hoje necessários. A viagem de retorno à Lagoa da Fraguinha acompanha, logo à saída de Povoa das Leiras, uma extensa levada que há séculos alimenta estas povoações. Cuidado neste troco! O caminho é estreito e a encosta muito ingreme.” 2

Rota das Bétulas – Pontos de interesse

  • Dificuldade: Média
  • Distância: 9,45 Km
  • Duração: 3h30
  • Desnível: 443m
  • Tipo: Circular

Casa em xisto na aldeia do Candal - São Pedro do Sul

  • Bétulas
  • Miradouro-Ribeira Escura
  • Candal
  • Ribeira do Paivô
  • Póvoa das Leiras
  • Levada
  • Lagoa da Fraguinha

Lagoa da Fraguinha

  • Lobo-ibérico
  • Margarida-das-rochas
  • Genciana
  • Narciso-das-turfeiras
  • Margariça
  • Rela

Fauna e flora da Rota das Bétulas - anfíbio Rela

Linha A - Arada

  • A1 – Poços da Ponte Teixeira
  • A2 – Poço Azul
  • A3 – Pedras Boroas da Landeira
  • A4 – Moinhos do Pisão
  • A5 – Mariolas da Arada
  • A6 – Turfeira da Fraguinha (Nesta visita)
  • A7 - Minas de Rio de Frades
  • A8 – Poços do Paivô
  • A9 – Minas de Regoufe
  • A10 – Lagoas de Drave
  • A11 – Portal do Inferno (A 15 quilómetros)
  • A12 – Livraria da Pena (A 15 quilómetros)
  • A13 - São Macário (A 15 quilómetros)
  • A14 - Vale do Deilão

Rota da Água e da Pedra | Linha A - Arada | A6 – Turfeira da Fraguinha

Aldeias de Candal e Póvoa das Leiras

Serra da Arada - Aldeia de Candal - São Pedro do Sul

“As aldeias de Candal e Póvoa das Leiras, separadas pela Ribeira do Paivô, parecem emergir dos contornos das montanhas, tamanha a naturalidade da sua implantação e dos terrenos agrícolas em socalcos, cada vez mais raros nestas latitudes. Se a cenografia à distância é avassaladora, no percurso entre as duas aldeias um velho e denso carvalhal promete abraçar quem o atravessar. A água corre livre e selvagem e a flora parece ser dona de si própria.” 2

Bétula a árvore generosa dos mil afazeres

Bétulas - PR2 Rota da Bétulas - Retiro da Fraguinha - São Pedro do Sul

Este percurso tomou o nome da árvore que o acompanha na sua primeira etapa entre o Retiro da Fraguinha e o Parque Eólico do Candal/Colheira. No interior do parque de campismo poderá encontrar um frondoso bosque, onde esta árvore é rainha.

“A Bétula é a árvore rainha de um percurso que entra no coração de um território suspenso no tempo. Árvore da família Betulaceae, da qual fazem parte também o amieiro (Alnus glutinosa) e a aveleira (Corylus avellana), terá surgido há mais de 30 milhões de anos e longas glaciações que nos antecederam. De perfil reto e tronco não muito largo, de casca lisa, alcança entre 10m e 15m de altura, ocorrendo em Portugal as espécies Bétula pubescens, Bétula celtiberica e Bétula pendula.

As sabedorias tradicionais e científicas concordam quando a definem como uma árvore generosa. Tem a extraordinária capacidade de alterar as condições dos solos, enriquecendo-os em nutrientes e em auxinas, hormonas de crescimento que permitem o florescer de outras vidas e favorecem em especial o crescimento de carvalhos. Dela tudo pode ser utilizado: a madeira branca, as folhas jovens, a seiva primaveril e mesmo a fina casca. Uma árvore generosa.” 2

Turfeira da Fraguinha – Das mais bem preservadas a sul do Douro

Rota da Água e da Pedra | Linha A - Arada | A6 – Turfeira da Fraguinha

Antes de começar o trilho, peça autorização na portaria do Retiro da Fraguinha para visitar no interior do parque de campismo, com o seu frondoso bosque e onde subsiste uma antiga turfeira (A6 - Linha A - Arada), que foi necessário vedar para a proteger de incautas pisadelas.

“Dentro do parque de campismo da Fraguinha encontra-se uma das mais bem preservadas turfeiras a sul do Douro. As turfeiras são ecossistemas relíquia do tempo das glaciações que ocorreram há cerca de 10.000 anos, tendo vindo a regredir paulatinamente, e estando hoje confinadas a pequenos refúgios no alto das montanhas. São, por isso, muito importantes já que em escassos metros quadrados têm espécies únicas que não se encontram em mais lugar nenhum.

A base destes ecossistemas são as águas oligotróficas (pobres em nutrientes) do cimo das serras que determinam uma flora e fauna únicas onde o esfagno, musgo que é o ser vivo com maior capacidade de absorção de água existente, é o elemento dominante e origina a turfa, solo quase 100 % orgânico.“ 2

Património construído

Parque eólico de Candal/Colheira, um dos tetos da Terra de Lafões

Parque eólico de Candal/Colheira, um dos tetos da Terra de Lafões

Depois do Retiro da Fraguinha, apresenta-se uma subida que se dirige temerosa para o Parque eólico de Candal/Colheira. Neste recanto da serra, o sibilar do vento é quebrado pelo brandir das afiadas espadas das torres, que na brincadeira dizíamos aos colegas da caminhada se queriam dar uma volta no seu louco carrocel ou para se afastarem não fossem levar uma mocada na cachimónia, pelo sim pelo não, um casal amigo até se afastou.

“O Parque eólico de Candal/Colheira situa-se no topo do Maciço da Gralheira, um diversificado conjunto montanhoso, situada entre o Vouga e o Paiva, que engloba, entre outras, as serras da Arada, de São Macário e da Freita, configurando um dos tetos da Terra de Lafões.

O Património construído aqui identificado, arqueológico, arquitetónico e etnológico é pontuado por uma curiosa convergência entre construções antigas (pré-históricas) e modernas, indicadores da exploração destas terras, através do pastoreio, da agricultura de subsistência e também da mineração (minas das Chãs).

É comum encontrar sepulturas pré-históricas sob montículos circulares de pedras e terra (mamoas ou pequenos túmulos), que representam as primeiras arquiteturas de pedra da região, e outras mais recentes, onde se incluem muros de pedra-seca, definindo limites entre propriedades, cercadas para gado ou cultivo, e ainda, abrigos pastoris de vários tipos, não esquecendo os pináculos de pedras sobrepostas que mais parecem obras de arte ao ar livre.

A imposição de uma sazonalidade na presença humana no cimo do maciço, devido ao clima adverso em boa parte do ano, foi contrariada pela consolidação de um povoado permanente, a aldeia de Coelheira, apostada em explorar os recursos disponíveis, no amplo vale alcandorado situado entre os dois núcleos do parque eólico. As acessibilidades, de e para o vale, são evidências por alguns caminhos reforçados por granito e pela presença de alminhas.

Os domínios monásticos também aqui chegaram como se comprova pela presença das discretas marcas de termo do Mosteiro de São Cristóvão de Lafões evidenciadas por uma cruz e letras S e C insculpidas em afloramentos.“ 2

Miradouro da Ribeira Escura | Um olhar soberbo sobre as montanhas mágicas

Miradouro da Ribeira Escura - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Depois de vencermos com os sentidos despertos, os braços das terríveis torres do Parque Eólico de Candal/Colheira, quais sorvedores de ventanias, que nos fornecem energia renovável, sem o encanto dos moinhos de vento, a natureza apresenta-nos um dos pontos altos desta caminhada, através dos novos horizontes do Miradouro da Ribeira Escura.

Por entre uma prenunciada frecha rochosa, rebentada entre duas vertentes montanhosas, abre-se uma janela por onde se entrevê a aldeia de Póvoas das Leiras. Esta assoberbada paisagem, foi decorada com trabalhosos socalcos, esculpidos durantes séculos, com aturado labor agrário, irrigados pela sua levada da Fraguinha e iluminada pelo irradiante sol ou sucumbida por tementes tormentos. Um olhar mais atento no sope da encosta pode-se vislumbrar a aldeia de Candal e os vales das Ribeiras Escura e do Paivô.

A Primavera fez florescer pelos jardins montanhosos, diversificadas tonalidades de arbustivas plantas rasteiras, com amarelados tons torrados, da carqueja e das giestas, dos brancos, rosas ou lilases das várias famílias de urzes.

Os vales da Ribeira Escura e Ribeira do Paivô

Vale da Ribeira Escura - Serra da Arada - São Pedro do Sul

“A toponímia permite-nos muitas vezes compreender a razão dos nomes das coisas, dos rios, das serras, das povoações, etc. A vertente escarpada que daqui se observa e na qual tem origem a Ribeira Escura, por estar voltada para norte e bastante encaixada nas serranias e elevações que a ladeiam, é uma zona com exposição solar muito residual ou praticamente inexistente, sobretudo no inverno. Por isso os altos índices de humidade desta vertente e a consequente geração e conservação de um ecossistema muito específico e circunscrito, no qual nasce a Ribeira Escura, que algumas centenas de metros mais abaixo, aflui ao caudal da Ribeira do Paivô, o curso de água que separa Candal de Póvoa das Leiras.” 2

A floresta relíquia que varia de temperamento consoante as estações

“A partir deste ponto avista-se entre as aldeias de Candal e Póvoa das Leiras uma mancha florestal que varia de cromatismo conforme as estações do ano. Trata-se de uma notável mancha de carvalhos que, além de intermediar estas duas povoações, juntamente com uma considerável mancha de pinheiro bravo, acompanha neste setor o curso da Ribeira de Paivó, que de sul para norte se dirige ao Rio Paiva, acrescentando o seu caudal.

Na primavera, esta paisagem é mercada pelo verde das novas folhas dos carvalhos; no outono, pelos tons amarelo alaranjados que sucedem ao nascimento e queda dos furtos (as bolotas); e no inverno, despida de folhas e cor, restam nos solos os matos acastanhados da folhagem caída.” 2

Património histórico

Aldeia de Candal - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Aldeia de Candal –São Pedro do Sul

Depois do miradouro o trilho desce longamente até à aldeia do Candal, abandonando as nuvens e fazendo uma lenta aproximação em linha reta e entrando na terra como se invadíssemos um quintal privado.

“Candal, localidade serrana do concelho de São Pedro do Sul, Distrito de Viseu, abrange uma área aproximada de 1551 hectares. Esta povoação situa-se na extremidade norte do concelho de São Pedro do Sul, circunscrita pelo de Arouca, distrito de Aveiro.

Esta localidade tem duas aldeias vizinhas: Póvoa das Leiras e Coelheira, tendo como freguesias limítrofes a de São Martinho das Moitas, Manhouce, Santa Cruz da Trapa e Carvalhais. Devido à localização em encostas, tanto da aldeia de Candal, como Póvoa das Leiras, poderemos observar extensas escadarias de leiras. Candal, situado em plena serra da Arada e Gralheira, distando vinte quilómetros da sede de concelho.“  3

Aldeia de Candal – Referências históricas

Aldeia de Candal –São Pedro do Sul

“As referências documentais mais precisas a este território datam do século Xl. O território encontrava-se povoado e organizado em características unidades de exploração agrária (“villas”) disseminadas pelas zonas de vale, a coberto das eminências castro-castelejas.

Sabe-se que no reinado de D. Dinis o concelho de são Pedro do Sul se agrupava sob o designativo de Lafões, aparecendo no arrolamento do imposto geral sobre os tabeliães de todo o reino estabelecido em 1287-90, incluído no Bispado de Viseu e com três tabeliães, entre Trancoso (com quatro, que era o número máximo) e Viseu (com dois).” 3

O real Gado da raça Arouquesa de São Pedro do Sul

Gado Arouquês

Num caminho mais apertado fomos travados pelo andar majestoso e atlético porte de três vacas Arouquesa, que não avançaram sem nos estudar, admirar e deixar fotografar. O que nos deixou admirados foi aquela vaca, com nipónico olhar. A senhora devia ser turista, pensámos nós, e andar por ali a passarinhar, ou mais grave, teria fumado "daquilo que faz rir", mas que no futuro faz chorar e estar a cozinhar a "mocada", ai se a família sabe da ofensa!

“A raça Arouquesa é uma raça bovina autóctone portuguesa, assim nomeada em honra às terras de Arouca. Existiam 3 divisões desta raça na região, uma delas já extinta, a raça dos Arouqueses Caramuleiros, sendo as duas restantes a raça dos Arouqueses Paivotos e raça dos Arouquesa de São Pedro do Sul, que aqui encontramos.

Em Portugal existem outras raças autóctone de bovinos, mas poucas serão tão especiais como a Arouquesa. Além da sua extraordinária capacidade de caminhar e explorar vertentes montanhosas muito pedregosas e ingremes, lembrado que as fêmeas chegam a pesar 400kg, são capazes de produzir leite de alta qualidade, de trabalhar como animais de tração e claro, de produzir uma carne nacionalmente reconhecia com selo de DOP.” 2 

A Primavera no Vale da Ribeira de Paivô

Ribeira de Paivô - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Foi no caminho entre as Aldeias de Candal e Póvoa das Leiras que ao passar pela Ribeira de Paivô, pintada pelo renascimento primaveril, onde o colorido, disputa a grandeza com os aromas de todo o reino desperto da natureza, tendo até o sol mudado de intensidade, para nos conceder o privilégio de tirar um instantâneo perfeita desta fugaz realidade. Antes de continuarmos, fizemos o nosso puja5, observamos do cimo da ponte as águas a cantar, agradecendo as maravilhoso ofertadas pelo Criador, que nada pede em troca, apenas que não semeemos a maledicência e respeitamos o que nos rodeia e busquemos a integridade.

Aldeia de Póvoas das Leiras - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Aldeia de Póvoas das Leiras - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Abandonando Candal e seguido para Póvoas das Leiras, tivemos por vezes que saltar caminhos barricados por todo o tipo de quinquilharia, como se fosse para travar um qualquer exército num confronto eminente, mas que servia apenas para impedir o gado da raça arouquesa passar.

“Aldeia de Póvoas das Leiras fica situada numa encosta de acentuado declive, desenvolvendo-se em socalcos agrícolas. Tem a particularidade de, em conjunto com a Aldeia de Candal, formar um anfiteatro. As habitações caracterizam-se pela predominância de xisto e a agricultura pela cultura de regadio, com destaque para o milho, sendo a criação de gado bovino, atividade complementar.” 4

Os socalcos de Póvoas das Leiras alimentados por antiga Levada

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“Os socalcos de Póvas das Leiras são irrigados por uma velha levada com cerca de 3 km que tem origem no Parque da Fraguinha, originando uma das mais belas paisagens da Serra da Arada, esculpindo a vertente sobranceira à aldeia em escadinhas verdejantes, de uma perfeição absoluta.“ 2

Biodiversidade da turfeira

Narciso-das-turfeiras

“A biodiversidade desta turfeira é muito impressionante, contando-se uma importante população de narciso-das-turfeiras (foto de cima), algumas gencianas, matos de urze-das-turfeiras ou margariça (muito rara no maciço da Gralheira e inexistente em Montemuro), cervum, verónica-das-turfeiras, juncos diversos e espécies de carex exclusivos das turfeiras. 

Na ribeira fria encontramos algumas espécies rupícolas muito interessantes, como a margarida-das-rochas, a fritilária e os campanários. No que à fauna diz respeito este é território do lobo e de corço, testemunhas de um Portugal selvagem que teima em sobreviver.” 2

Pastora com 65 anos que nunca viu o mar

Rebanho de Póvoa das Leiras - Serra da Arada - São Pedro do Sul

Foi na subida junto à Capela de Póvoa das Leiras, que encontramos uma pastora, que não se deixou fotografar, por razões familiares. Estava acompanhada as suas dez cabras e um chibo, seis ovelhas e um carneiro. Esta mulher contou-nos que não abandona a sua terra, desde que casou em Lisboa e só vai a São Pedro do Sul ou Viseu, quando tem que tratar de algum assunto. No pouco tempo que estivemos à conversa, quis saber quem eramos, como estava a COVID e os desenvolvimentos da guerra. Foi já nas despedidas que nos indicou ao fundo duma encosta as velhas minas de Rio de Frades, que com ajuda dos nossos binóculos conseguimos localizar.

Lagoa da Fraguinha onde nasce a levada

Lagoa da Fraguinha - Serra da Arda - São Pedro do Sul

Terminamos acompanhando a levada que segue em direção à Lagoa da Fraguinha, aproveitada nas suas calmarias para lar de toda a espécie de anfíbios, que pensam erradamente que a sua camuflagem os torna sempre invisíveis.

Este percurso valou a pena, conhecemos uma parte da Serra da Arada e mais duas icónicas aldeias de montanhas, para nós tão especiais e encerram no seu xisto e lousas memórias do passado e nos fazem sempre descansar a alma.

Aldeia de Vilarinho - Manhouce

Rosa Maria, Diretora do Ondas da Serra, na aldeia de Vilarinho - Manhouce

Para chegar a estas paragens saímos da nossa terra de Ovar e fomos em direção à Serra da Freita, passando por Manhouce e junto da sua capela viramos à esquerda em direção à Fraguinha. Pelo caminho ainda passamos pela aldeia de Vilarinho, onde no regresso paramos para colher um pouco de flor de carqueja, que floresce na Primavera e utilizamos para dar o sabor da serra no arroz ou chá.

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Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.

Fotos: Ondas da Serra.

1 - visitlafoes.pt
2 - Município de São Pedro do Sul
3 - recantosdamontanha.pt
4 - allaboutportugal.pt
5 - Gesto do Yoga onde agradecemos ao Universo e Natureza as graças concedidas.

Galeria de fotos da Serra da Arada

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Autor

Ondas da Serra

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Meitriz aldeia de xisto com praia fluvial no Rio Paiva

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Janarde em Arouca foi abençoada com uma luxuriante natureza e vista soberba sobre o vale do Rio Paiva, preservando ainda algum do seu casario em xisto e socalcos agrícolas que outrora davam pão ao povo. É também uma velha terra com milhões de anos gravados na história geológica das suas rochas. O espírito de Deus ao pairar sobre as águas deu à luz a vida, tendo a sua criação moldado seres de todas as formas e feitiços, que foram vivendo e morrendo ao longo de milhões de anos. Muitos foram aqueles que nos deixaram provas da sua existência, através dos restos fossilizados dos seus corpos ou icnofósseis das pistas por onde passaram, existindo aqui um importante geossítio do Arouca Geopark, onde poderá admirar marcas deste passado. A nossa curiosidade levou-nos a fazer um pequeno trilho para conhecer esta terra, paleontologia, icnofósseis, meandros, cocheiros e biblioteca do Rio Paiva.