Viajar de comboio pela Linha Férrea do Douro, com 150 anos e 171,5 km, faz-nos recuar devagar até ao século XIX. A viagem começa na moderna estação de Porto Campanhã, junto ao litoral e termina no Pocinho, no interior transmontano. A locomotiva a vapor é agora alimentada a diesel e começa por rasgar caminho por uma urbe fortemente apinhada, onde as gentes se atropelam para respirar. A linha eletrificada começa por ter dois sentidos, até perder a luz e ficar sozinha. A máquina vence impenetráveis túneis e profundas pontes e vai-se aproximando do Rio Douro, seu companheiro inseparável por 120 km. O casario começa a rarear e vai dando lugar a arribas em socalcos vinhateiros e curvas ondulantes do rio. O comboio vai sulcando o Rio Douro e vendo os cruzeiros subirem pelas eclusas. A paisagem de arrebatar culmina no Douro Vinhateiro, que foi por homens moldado e recebeu da UNESCO o título de Património da Humanidade. A via férrea no passado terminava em Barca d’Alva, junto a Espanha, mas homens funestos que agora escrevem livros sobre a arte de bem governar, deram ordens para a encerrar. Estes vilões de memória curta, no final do século XX, mataram parte destas linhas e destruíram muito do seu património, sem dar cavaco ao povo que juraram representar.