Na Açoreira, terra transmontana do município de Torre de Moncorvo, realiza-se anualmente um evento denominado Rota das Pipas, organizado pela Associação Recreativa e Cultural da Açoreira. Neste percurso pelas ruas da terra os boémios convidados, novos, velhos, homens e mulheres, munidos duma pequena caneca, vão bebericando o néctar dos produtores vinícolas durienses desta aldeia. O cortejo muito cerimonioso leva também a carrinha da Maria com petiscos e doçaria. O ambiente é animado por grupos musicais com cantorias, bombos, concertinas e gaitas de foles, que junta todo o povo a cantar e dançar. O dia começa bem cedo, com o estoirar de foguetório, matança tradicional do porco e farto pequeno-almoço. Ao meio dia é servido um rico repasto, com finas carnes e odoríferos vinhos. O menu é composto por pratos típicos da matança, com soventre, migas de sarrabulho e feijoada. Esta festa de arromba, acontece no último sábado de fevereiro e coincide com as amendoeiras em flor, que enchem o ambiente de fragrâncias especiais. Todos participam na festa, com trabalho, vontade de comer ou beber. Alguns por terem muita sede dão por vezes grandes rombos no chão para grande contentamento de Dionísio por ter por companheiros ébrios profissionais.
A aldeia transmontana de Maçores pertence ao município de Torre de Moncorvo e cresceu no sopé do Monte Ladeiro, cujo corpo é povoado por oliveiras e amendoeiras e ervas rasteiras de urzes, estevas, giestas, espinheiros e carquejas. Foi no meio desta idílica paisagem que um pastor de ovelhas da raça autóctone Churra contou-nos a sua Odisseia. Neste artigo vamos conhecer a história desta terra, património natural e arquitetónico, gastronomia, festas, tradições e economia. Vamos destacar alguns dos seus monumentos naturais e criados pelas artes modernas e rupestres, festa do São Martinho e percursos pedestres. Conhecemos a Comissão de Festas do São Martinho que nos recebeu na sua mesa com saborosas carnes e odoríferos vinhos. Aqui ainda se perpetuam antigos rituais pagãos de adoração aos elementos da terra, pão e do vinho que celebramos fazendo libações aos deuses para agradecer a nossa chegada a Ítaca.
Conhecemos o alegre pastor transmontano António Pereira de Maçores em Torre de Moncorvo quando andava com as suas ovelhas a pastar desde o começo do dia até a noite findar. O seu rebanho da raça autóctone Churra é um dos últimos da sua aldeia e tem mais de setenta e cinco animais. Pela manhã tira ovelhas da corriça e com ajuda dos cães leva-as para as encostas do Monte Ladeiro, cobertas de oliveiras, amendoeiras e erva rasteira. Os seus animais descendem dos primeiros rebanhos que começou a criar há mais de trinta anos, que conhece pelos sinais e diz conseguir identificar a todos no meio de rebanho alheio. Para este homem as forças já foram como grossos mares, mas como o granito das serras aguenta com estoicismo a severidade de Trás-os-Montes.
O percurso pedestre PR14 - Rota das Amendoeiras tem início e fim na aldeia da Açoreira em Torre de Moncorvo. Nos meses de fevereiro e março este trilho fica enfeitiçado pelas amendoeiras em flor, com os montes cobertos por mantos brancos e rosados. Pelos seus braços avista-se o Rio Douro e os socalcos vinhateiros, a Serra do Reboredo, a aldeia de Maçores e a sua capela no meio do olival. Os viandantes são recebidos por fileiras de amendoeiras, oliveiras e por vezes centenários carvalhos. Cruzámo-nos com a Rota das Pipas, feitiços, um cão de gado transmontano e horizontes longínquos montanhosos que é onde gostamos de estar.