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A terra deu à luz o Parque Nacional da Peneda-Gerês, que nasceu com belezas até onde a vista alcança. Para aqueles mirantes que gostam de sentir o respirar montanhoso e prostrar-se com humildade perante tão arrepiantes paisagens de frios penedos, calorosos céus, profundos vales e longínquos horizontes, o homem ofertou-lhes altares com conhecidos miradouros. Neste artigo vamos conhecer aqueles que nos cativaram e abraçaram o sentimento, porque o Gerês é todo ele um miradouro para percorrer sem pressas, com respeito e devoção, respeitando o solo sagrado e os seres que lá vivem.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês, com meio século de vida possui riquezas e sabedorias ancestrais ainda por desvendar. Este vasto território estende-se por Portugal e Espanha, montes e vales, ribeiras e albufeiras. Neste artigo vamos desbravar este território, conhecer os seus municípios, portas de entrada, história, icónicas aldeias, miradouros de arrepiar, santuários para rezar e caminhadas de encantar. Vamos, contudo, alertar para os problemas que o afetam e como o proteger da invasão desenfreada, no meio de um país queimado pelos fogos e plantado anarquicamente por eucaliptos.

Regressamos em peregrinação a Santiago de Compostela, para visitar o Apóstolo, de quem somos devotos e nos guia neste caminho. Para esta viagem escolhemos o Caminho Português de Santiago Interior, que nos colocou toda a espécie de dificuldades, pelo seu belo, mas tortuoso e difícil percurso. Na primeira tentativa começamos em Viseu, mas grossos mares nos fustigaram e naufragamos destroçados em Castro Daire. Voltamos com melhor organização, preparação física e mental para a dureza da viajem. Nesta tentativa o Santo foi-nos favorável e concedeu-nos a graça de chegarmos a bom porto e lhe prestar orações. Nesta empresa percorremos 400 km, durante sete dias, por caminhos milenares entre Portugal e Espanha. Neste artigo vamos contar-lhe esta aventura, os locais por onde passamos, onde comemos, dormirmos, conhecemos e dar-lhes algumas dicas e sugestões que podem ser úteis para organizar a sua peregrinação.

Saltando sobre picos montanhosos, cruzamos a imensidão da Serra da Arada, no concelho de São Pedro do Sul, que irrompeu pelo Maciço da Gralheira, no reino das Montanhas Mágicas e aventureiros descobrem a Rota da Água e da Pedra. Nesta serra trilhamos a Rota das Bétulas, que começa junto do Retiro da Fraguinha, que encerra religiosamente um pedaço de turfeira, antigo tesouro do tempo das glaciações. Do alto do espetacular Miradouro da Ribeira Escura, vislumbramos as aldeias de Candal e Póvoas das Leiras, que se fazem acompanhar pela Ribeira de Paivó e uma levada que parte da Lagoa da Fraguinha. Os modernos moinhos de vento chegaram como maquiavélicas criaturas, dotados de eólicos braços, que prostrados em cimo dos penedos ameaçam tudo o que a vista alcança, brandindo as suas facínoras espadas. Vamos então viajar e conhecer estes recantos, onde tão desrespeitado tempo viajou para paragens mais afortunadas e bafejadas pela agitação, desassossego e humano desatino.

A Serra de São Macário em São Pedro do Sul, parece ter sido esculpida para intrépidos exploradores, que se alimentam de cruas rochas e agrestes penedos. Subindo estas montanhas irrompemos pelos céus, ziguezagueando pela estrada do inferno. Nestes castelos encontramos mitos populares de força e inspiração tamanhas. Aqui em verdes prados fomos conduzidos até à gloria do senhor e descansamos nas águas refrescantes das suas aldeias. Vamos agora refugiar-nos como o santo, fugindo dos nossos pecados, longe de vista humana e pedir absolvição pelos nossos padecimentos. 

Levou-nos a bruma da maré à Praia dos Pescadores de Angeiras - Lavra - Matosinhos. No extremo norte deste concelho, na praia de Angeiras, subsiste uma das últimas comunidades de pesca artesanal da região. Fundeamos neste reino quando navegávamos pedalando por marítimos passadiços entre Porto e Vila do Conde. Ao entrar no seu portinho, deparámo-nos com grande reboliço de lobos do mar, trabalhando desalmadamente nas artes de pesca que atascavam o caminho, alheios ao ocioso forasteiro. As afoitas gaivotas voavam e aterravam sem pudor para roubar pescado, nas barbas de pescadores desinteressados da ofensa. As embarcações nidificavam no areal, olhando temerosas o mar revolto que as pode tragar, mas que a bonança e preces a santos populares as fazem quase sempre regressar. Neste artigo vamos conhecer um pouco desta típica vila piscatória, alguns dos seus valentes homens, o seu portinho, rica história e o local escavado na rocha onde romanos salgaram peixe.

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