Neste artigo vamos contar a história da nossa peregrinação pelo Caminho Francês de Santiago de bicicleta, com início em Saint-Jean-Pied-de-Port, na França e final na Catedral de Santiago de Compostela, em Espanha. Fizemos o percurso, com 759 km de extensão, de bicicleta. Foi uma aventura para chegar ao destino, com muitas dificuldades e peripécias. Demoramos 14 dias nesta demanda, que fizemos por devoção ao Apóstolo Santiago, à natureza e outras culturas. Na memória perdurará os pináculos dos Pirenéus, o austero património religioso, os caminhos intermináveis serpenteantes, ladeados de vermelhas papoilas, destacadas no verde dos campos. A nossa narrativa vai descrever os aspetos técnicos, dias da viagem, localidades, pessoas que conhecemos, alojamento e pontos de interesse.

Ao descermos a Barca d'Alva, pelas arribas do Douro, o nosso olhar não sabe onde se fixar, tantas são as belezas que Deus plantou no lugar. O vale por onde serpenteia o rio está coberto de socalcos vinhateiros que aqui fazem fronteira com Espanha. A sua beleza parece estar amaldiçoada, já foi próspera vila mandada arrasar no séc. XIII, por D. Sancho II, a despeito das suas terras tomadas pelo inimigo de Leão. Sobreviveu a aldeia, que conheceu algum progresso com a chegada no séc XIX, da linha férrea do Douro, que abriu as portas da Europa. No entanto a desdita persegue esta dama, porque já no séc XX, ditos representantes do povo a mandaram encerrar. Homens das artes aqui encontraram reflexão e escreveram romances inspirados pela sua rusticidade. Quem vê esta senhora não consegue atinar a má sorte que a persegue e reza para um dia a felicidade abarcar. Gostaríamos que um dia o comboio voltasse pelas suas encostas a apitar e se emendasse a mão do mau agravo permitido.

A Aldeia Histórica de Marialva, na Beira Interior, nasceu altaneira no topo de um cabeço rochoso. Este local foi outrora um castro por onde passaram povos como os Túrdulos e os Godos. Foi povoada pelos Aravos, um povo lusitano, e tomada pelos romanos. Em 1063, foi conquistada aos sarracenos por Fernando Magno de Leão, que lhe atribuiu o topónimo. O povo começou por viver na cidadela, no interior das muralhas, que extravasou depois para exterior no Arrabalde e Devesa, no sopé. No século XIX, esta vila medieval perdeu o estatuto de sede concelhia e entrou em declínio. Já no séc. XXI, foi resgatada às ruínas, por um programa público de recuperação destas aldeias do interior, envolvendo a iniciativa privada. Aqui, vamos falar da sua história, espaços, requalificação e destacar o seu rico património natural e arquitetónico. Esperamos regressar, não para a conquistar, mas voltar a apreciar a força da nossa história.

A Ecopista do Dão é uma das mais icónicas de Portugal pela sua grandeza em beleza e extensão. Este percurso fez renascer o sangue que outrora fervilhava por intermédio das locomotivas a vapor que resfolegavam pela Linha Ferroviária do Dão, que foi morta mas renasceu. Se havia choro pela sua partida, agora há júbilo pela sua chegada e até parece que se ouvem os apitos dos comboios há muito calados. O seu trajeto passa por três cidades do interior, Santa Comba Dão, Tondela e Viseu e outras lindas terras rurais. Aqui há pontes de meter medo, algumas até projetadas por homens ao serviço de Gustave Eiffel. Neste artigo tentamos fazer um exaustivo levantamento dos seus dados técnicos, históricos e regionais, com destaques para o património natural e arquitetónico. Desta forma esperamos ajudar os nossos leitores, amantes das bicicletas e caminhadas, a planear a viagem e saberem de antemão o que podem ver e escolher o que vão explorar com mais detalhe.  

A aldeia transmontana de Maçores pertence ao município de Torre de Moncorvo e cresceu no sopé do Monte Ladeiro, cujo corpo é povoado por oliveiras e amendoeiras e ervas rasteiras de urzes, estevas, giestas, espinheiros e carquejas. Foi no meio desta idílica paisagem que um pastor de ovelhas da raça autóctone Churra contou-nos a sua Odisseia. Neste artigo vamos conhecer a história desta terra, património natural e arquitetónico, gastronomia, festas, tradições e economia. Vamos destacar alguns dos seus monumentos naturais e criados pelas artes modernas e rupestres, festa do São Martinho e percursos pedestres. Conhecemos a Comissão de Festas do São Martinho que nos recebeu na sua mesa com saborosas carnes e odoríferos vinhos. Aqui ainda se perpetuam antigos rituais pagãos de adoração aos elementos da terra, pão e do vinho que celebramos fazendo libações aos deuses para agradecer a nossa chegada a Ítaca.

Conhecemos o alegre pastor transmontano António Pereira de Maçores em Torre de Moncorvo quando andava com as suas ovelhas a pastar desde o começo do dia até a noite findar. O seu rebanho da raça autóctone Churra é um dos últimos da sua aldeia e tem mais de setenta e cinco animais. Pela manhã tira ovelhas da corriça e com ajuda dos cães leva-as para as encostas do Monte Ladeiro, cobertas de oliveiras, amendoeiras e erva rasteira. Os seus animais descendem dos primeiros rebanhos que começou a criar há mais de trinta anos, que conhece pelos sinais e diz conseguir identificar a todos no meio de rebanho alheio. Para este homem as forças já foram como grossos mares, mas como o granito das serras aguenta com estoicismo a severidade de Trás-os-Montes.