Conheça as três aldeias rurais mais belas de Vale de Cambra Conheça três bonitas aldeias de Vale de Cambra | Trebilhadouro, Felgueira e Lomba Ondas da Serra
quinta, 30 dezembro 2021 01:00

Conheça as três aldeias rurais mais belas de Vale de Cambra

Classifique este item
(4 votos)

O município de Vale de Cambra alberga no seu reino três belas aldeias, que embrenhadas nas serras poderá conquistar, Trebilhadouro, Felgueira e Lomba. As duas primeiras ostentam a marca de qualidade “Aldeias de Portugal”, mas todas estão inseridas nas “Montanhas Mágicas”. Estas terras partilham a ruralidade, autenticidade, tradições, natureza, ribeiros e serras. Neste artigo vamos caminhar por este concelho, visitar estas aldeias e perceber algumas das razões que levam ao seu declínio e desertificação. Estudamos também que medidas foram implementadas para as revitalizar sem as descaracterizar.

Trebilhadouro - Aldeia de Portugal - Rôge - Vale de Cambra

Trebilhadouro - Aldeia de Portugal - Rôge - Vale de Cambra

Trebilhadouro é uma antiga aldeia desabitada da freguesia de Rôge, município de Vale de Cambra. O seu casario em xisto já esteve em ruínas, mas uma reabilitação cuidada e o facto de ter sido integrada na rede das Aldeias de Portugal e Montanhas Mágicas, deu-lhe nova vida, apresentou-lhe novas pessoas, cheias de ideias para projetos e fez renascer a esperança duma nova história.

Esta descoberta trouxe novos conquistadores para os albergues, que trotam pelos trilhos observando a fauna, fotografando a flora ou cavalgando nas bicicletas pelos seus picos montanhosos.  Os antigos habitantes ou seus descendentes que desceram fugindo das fracas condições começam a subir retornando aos domínios ancestrais aproveitando a melhoria das condições de vida e novas infraestruturas básicas.

A aldeia de Trebilhadouro, detentora do título de "Aldeia de Portugal", esteve desabitada durante décadas, tendo sido recuperada para turismo rural. Está perfeitamente integrada na paisagem envolvente e mantém a traça da casa rural portuguesa em pedra granítica, material que se estende aos caminhos. Diz a tradição que o nome deriva de um tesouro, formado por "três bilhas de ouro".2

Pontos de interesse da aldeia de Trebilhadouro

  • Barragem Engº Duarte Pacheco - Vale de Cambra

    Barragem Engenheiro Duarte Pacheco - Vale de Cambra

“Da aldeia de Trebilhadouro, vamos percorrer as encostas da Serra da Freita e caminhar por entre a paisagem ribeirinha, junto à Barragem Engº Duarte Pacheco, no rio Caima.

Nas encostas da Serra da Freita domina o verde dos pinheiros e eucaliptos e, junto às ribeiras, os socalcos que dividem pequenos terrenos agrícolas. Não será difícil observar espécies como o pica-pau, o gavião, bandos de perdizes, ou a borboleta acobreada-da-montanha.

Ao chegar junto do rio Caima, espera-o um pequeno paraíso na margem esquerda da albufeira: a Levada de Santa Cruz desenvolve-se entre florestas frondosas, propícias ao crescimento de fetos e fungos e que são o habitat perfeito para o Lagarto-de-água, a rã ibérica ou a lontra.” 2

  • Gravuras rupestres de Trebilhadouro

    Gravuras rupestres de Trebilhadouro

“A cerca de 1km da aldeia, num afloramento granítico ao lado de um pequeno riacho, localizam-se as gravuras de Trebilhadouro. Os motivos gravados incluem espirais, covinhas, linhas e armas (provavelmente um machado de pedra).” 2

  • Igreja de S. Salvador de Rogê

    Igreja de S. Salvador de Rogê

Em Rôge destaca-se o complexo religioso constituído pela Igreja de S. Salvador e pelo Cruzeiro, classificado Monumento Nacional, desde 1949. Ambos os monumentos apresentam traços do estilo barroco, tendo sido edificados em meados do século XVIII. O cruzeiro terá sido derrubado pelo temporal ciclónico de 1945, e restaurado em 1947.” 2

  • Cruzeiro de Rogê

    Cruzeiro de Rogê

Felgueira – Aldeia de Portugal - Vale de Cambra2

Felgueira – Aldeia de Portugal

 “Terra de belos recantos, a aldeia da Felgueira, localizada na freguesia de Arões, respira a natureza verde da Serra da Freita e as águas límpidas e azuis do Rio Cabrum.

Quem chega pode passear por caminhos de pedras gastas e percursos antigos, onde as habitações de granito, cobertas de lousa, contam a história de uma vida intensamente rural. A atividade agrícola, muita dela desenvolvida em socalcos, confere um colorido único à paisagem.

Anualmente realizam-se na aldeia duas importantes festas religiosas: a Festa de São Tiago e a de Nossa Senhora da Liberação.

Ao nível da gastronomia destacam-se dois pratos tradicionais: a vitela arouquesa e o cabrito da Gralheira, que podem ser degustados no restaurante na aldeia. Aproveite para visitar o posto de exposição e venda de artesanato ali próximo.”2

Aldeia da Lomba - Arões - Vale de Cambra2

Aldeia da Lomba - Arões - Vale de Cambra

A aldeia da Lomba é uma das mais belas aldeias de Portugal, estando empoleirada num promontório, e terminando numa pequena península onde se acotovelam uma igreja, um cemitério, várias casas e mais de 15 canastros. Esta configuração particular, que resultou de três falhas, enquadram a aldeia nos três lados da península. Os caminhos que daqui saem vão para as aldeias abandonadas das Porqueiras, a 1 km, e das Berlengas, a 2 km.

Se visitar a Lomba e tiver energia desça por um caminho que começa junto do cruzeiro, seguindo as placas do PR3 – Vereda do Pastor e visite a “Cascata das Porqueiras”.

Pontos de interesse da aldeia da Lomba - Arões - Vale de Cambra 

  • Núcleo de Espigueiros e Canastros - Lomba - Arões - Vale de Cambra

    Núcleo de Espigueiros e Canastros - Lomba - Arões - Vale de Cambra

 

  • Capela de Nossa Senhora dos Milagres - Lomba - Arões - Vale de Cambra

    Capela de Nossa Senhora dos Milagres - Lomba - Arões - Vale de Cambra

 

  • Escadinhas de Santo Amaro
  • Socalcos agrícolas
  • Porqueiras (aldeia abandonada)
  • Cascata de Porqueiras - Lomba - Arões - Vale de Cambra

    Cascata de Porqueiras - Lomba - Arões - Vale de Cambra

 

  • Vale da ribeira de Agualva
  • Berlengas (aldeia abandonada)

O Turismo como forma de revitalizar as aldeias rurais desertificadas do interior

Entrevista a idosa habitante de Felgueira - Aldeia de Portugal - Vale de Cambra

O declínio das áreas rurais levou à diminuição ou desaparecimento total da população, como foi o caso das aldeias de Trebilhadouro, Porqueiras e Berlengas em Vale de Cambra. De modo a entender melhor este problema procuramos perceber se já havia sido feito um estudo sobre este tema e encontramos no Repositório Institucional da Universidade de Aveiro uma Tese de Dissertação, para o Grau de Mestre, do jovem Pedro Miguel Pinho, que vive neste concelho, sobre o tema, “O papel dinamizador do turismo no espaço rural: o caso das aldeias da Felgueira e do Trebilhadouro”, Pinho, P. M. (2015).

Nós acreditamos que trabalhos deste género contribuem para ajudar a perceber e identificar os problemas destas regiões, as razões do seu abandono e se as soluções adotadas estão a surtir efeito.

Nas nossas incursões pelo interior profundo do nosso distrito de Aveiro, caminhamos por terras desoladas, falamos com os seus parcos moradores, conhecemos os seus rostos, onde as lajes e xistos decrépitos dos fragmentos do casario caem como folhas outonais, sem vislumbrarem o renascimento primaveril.

As velhas pedras amontoam-se, os poucos “velhos” olham paras elas com nostalgia, jovens não há, crianças e bebés só quando os emigrantes vêm matar saudades, as escolas há muito que fecharam. Todos choram, mas a riqueza permanece, a natureza, a fauna e flora é alheia aos desvarios humanos, se não a destruírem ela está sempre pronta para dar felicidade e esperança.

O homem encontrou no urbano vida melhor esquecendo as raízes  

Agricultores em Covelo de Paivó - Arouca

O homem viajou para as áreas urbanas em busca de melhores condições de vida, emprego, habitabilidade e infraestruturas básicas de água, luz e transportes. Contudo neste caminho esqueceu suas raízes, perdeu a sua alma e nas últimas décadas retornou à sua aldeia. Quando todos entenderem que só precisamos de terra para pisar, beber água de todas as fontes, fogo das lareiras, que a vida autêntica e não precisa de muitos adornos, todos serão mais felizes e a sociedade mais saudável.

Esta nova demanda e veio dar uma nova oportunidade a um mundo que se encontrava esquecido, perdido e abandonado, mas que só poderá subsistir com apoio politico de modo a dotar estas aldeias das condições básicas de vida, serviços públicos, infraestruturas básicas de água, luz, telefone, apoio à criação de novos negócios relacionados com o turismo de natureza, novos produtos e técnicas agrícolas.

“Nas últimas décadas o turismo tem sido encarado como um meio de revitalização das áreas rurais que se encontram em crise devido ao declínio da atividade agrícola (Milheiro, Martins & Alves, 2014). Os turistas procuram cada vez mais o autêntico, novos destinos e experiências, têm uma maior preocupação com o ambiente e com a saúde e usufruem de férias repartidas ao longo do ano, o que assegura ao turismo rural um futuro promissor (Kastenholz, 2003). Neste sentido, as áreas rurais têm-se reorientado de modo a satisfazerem as necessidades de uma procura que busca o rural enquanto espaço de lazer (Milheiro et al., 2014)”, em Pinho, P. M. (2015).

Modelo de crescimento económico levou à desertificação das aldeias

Aldeia abandonada de Drave - Arouca

O que se passou com estas aldeias é comum a outras regiões de Portugal onde se assistiu ao abandono do interior e crescimento das cidades, com predomínio no litoral e aumento da imigração. Esta reação em cadeia levou ao encerramento de serviços públicos essências no mundo rural por falta de pessoas, correios, bancos e escolas. Este fenómeno não foi exclusivo de Portugal, acordamos como habitualmente tarde para o problema e só com pressão externa da UE começamos a trabalhar para o minorar.

“No entanto, por volta dos anos setenta, este modelo de crescimento começou a ser posto em causa devido à permanência de fenómenos como os de desigualdade de desenvolvimento territorial, abandono das áreas rurais, situações de pobreza e desemprego, assim como degradação do espaço urbano. A tomada de consciência relativamente aos impactes deste modo de desenvolvimento, aliada à crescente valorização do espaço rural levou à revisão das políticas de desenvolvimento (Valente & Figueiredo, 2003).

Aldeia abandonada de Drave - Arouca

No nosso país, as preocupações com a sustentabilidade ambiental, a nível social e institucional, surgiram tarde e resultaram das pressões da Comunidade Económica Europeia (CEE), dos problemas resultantes do desordenamento do território, da urbanização desenfreada, dos incentivos à adoção de medidas agroambientais e florestais e do reconhecimento do turismo e do lazer como atividades fundamentais à diversificação da atividade económica na promoção da imagem das regiões através da valorização do património ambiental e cultural das áreas rurais (Valente & Figueiredo, 2003)”, em Pinho, P. M. (2015).

O turismo sustentável como meio de preservação do futuro

De modo a que não se cometam os mesmos erros, quando as pessoas deixaram o mundo rural para as áreas urbanas, as políticas de desenvolvimento aplicadas pelo poder central e local têm que ter uma visão a longo prazo de forma a haver um equilíbrio entre o desenvolvimento e sustentabilidade, para não se retirar a autenticidade e valor a estas áreas que são caracterizadas por:

“Para Lane (1994) o turismo rural deverá, na sua forma mais pura, cumprir os seguintes aspetos:

  • Estar localizado em áreas rurais;
  • Ser funcionalmente rural, ou seja, estar baseado nas especificidades do mundo rural, nomeadamente: a pequena escala, ter uma grande quantidade de espaço ao ar livre, o contacto próximo com a natureza, património rural e uma sociedade tradicional;
  • Ser rural em escala, sendo os edifícios de pequena dimensão;
  • Ter caráter tradicional, evolução lenta e orgânica, a qual é controlada pela população rural;
  • Podendo ser de vários tipos, uma vez que geralmente apresenta um padrão complexo de ambiente, economia, história e localização”, em Pinho, P. M. (2015).

“Por volta de 1987, a problemática do turismo sustentável passou a integrar a maioria das agendas públicas e políticas de grande parte dos países, em consequência do Relatório “O nosso futuro comum” também conhecido por “Relatório Bruntland” elaborado pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas. Neste relatório defende-se que “A humanidade tem a capacidade de fazer o desenvolvimento sustentável para atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.” (United Nations, 1987, p. 24)”, em Pinho, P. M. (2015).

Princípios da sustentabilidade do turismo rural

Princípios da sustentabilidade do turismo rural

O investigador Partidário enumerou os princípios que devem nortear a sustentabilidade e como se pode abaixo verificar exige um grande trabalho para a sua aplicação, mas efetuado com metodologia e projeção poderão garantir o sucesso dos projetos e manutenção dos espaços para as gerações futuras e negócios envolvidos.  

“Os princípios da sustentabilidade são, segundo Partidário (2003):

  • Utilização responsável dos recursos;
  • Redução do desperdício e do sobre-consumo;
  • Manutenção da diversidade;
  • Planeamento do turismo;
  • Suporte das economias locais;
  • Envolvimento dos residentes;
  • Consulta dos vários grupos de interesse, incluindo os visitantes;
  • Formação do pessoal ligado à atividade turística;
  • Marketing responsável do turismo;
  • Investigação”, em Pinho, P. M. (2015).

Caracterização do concelho de Vale de Cambra

“O concelho de Vale de Cambra está inserido na Meseta Ibérica, com as Serras da Freita e do Arestal a fazerem a divisão entre o litoral e o interior. A área do concelho de Vale de Cambra é de 147,33 Km2 (Instituto Nacional de Estatística, 2014), distando este concelho 51km de Aveiro e 42 Km do Porto (Santos, 2004).

As fronteiras do concelho são a Norte-Noroeste com Arouca, a Este-Sudeste com Oliveira de Frades, a Oeste-Sudoeste com Oliveira de Azeméis, a Este com São Pedro do Sul e a Sudeste com Sever de Vouga. É um dos 19 concelhos que integram o distrito de Aveiro (Santos, 2004), fazendo também parte da Nomenclatura de Unidade Territorial (NUT) III de Entre Douro e Vouga, juntamente com os concelhos de Arouca, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira e São João da Madeira (Instituto Nacional de Estatística, 2014).

Administrativamente, o município de Vale de Cambra está dividido em seis juntas de freguesia (Arões, Cepelos, Junqueira, Macieira de Cambra, Rôge, São Pedro de Castelões) e por uma junta de freguesia de união (Vila Chã, Vila Cova de Perrinho e Codal) (Câmara Municipal de Vale de Cambra, 2015a)”, em Pinho, P. M. (2015).

História de Vale de Cambra

“Em termos de evolução histórica, os testemunhos da presença humana em Vale de Cambra remontam a vários séculos atrás, existindo vestígios de que foi povoado no IV/V milénio A.C., que durante a incursão romana não houve uma verdadeira ocupação e que na idade média os pequenos casais deram origem às atuais aldeias e lugares.

No século XVI, durante o reinado de D. Manuel I, mais concretamente em 1514, o então rei de Portugal confere o foral à terra de Cambra (Queiroga & Marques, 2014). A 31 de dezembro de 1926, a sede do concelho que se encontrava em Macieira de Cambra foi extinta, passando para o lugar da Gandra, na freguesia de Vila Chã, dando assim origem ao concelho de Vale de Cambra (Câmara Municipal de Vale de Cambra, 2009). A urbe de Vale de Cambra foi elevada a cidade a 2 de julho de 1993 pelo Decreto-Lei N.º 26/93 (Marques, 1993)”, em Pinho, P. M. (2015).

Geografia paisagística de Vale de Cambra

Serras e montanhas de Vale de Cambra cobertas de giestas

“A nível paisagístico, o concelho de Vale de Cambra situa-se num vale, com o Rio Caima como principal curso de água a atravessar o município no sentido Norte/ Sul (Câmara Municipal de Vale de Cambra, 2009). O limite do concelho é definido a Nordeste pelas Serra da Freita ou Arada, elevação intitulada por alguns geógrafos como o “Maciço da Gralheira”, do lado Sul da Serra da Freita encontra-se a Serra do Arestal, com uma altitude média a variar entre os 800 e os 850 metros.

O município, em termos ambientais, apresenta determinadas peculiaridades resultantes da elevada diversidade de minerais e rochas, nomeadamente o granito e o xisto grauváquico (Queiroga & Marques, 2014). De acordo com a Câmara Municipal de Vale de Cambra (2009), um dos maiores atrativos do concelho em termos ambientais é a Serra da Freita, que se estende pelos concelhos de Arouca, São Pedro do Sul e Vale de Cambra. Entre as atividades que aqui se podem desenvolver, realça-se a contemplação das paisagens, caminhadas, piqueniques e a prática de desportos de aventura na Primavera e no Verão e a diversão na neve no Inverno (Câmara Municipal de Vale de Cambra, 2009)”, em Pinho, P. M. (2015).

Pontos de interesse de Vale de Cambra

  • Aldeias típicas, como a Lomba, a Felgueira e o Trebilhadouro;
  • Barragem Duarte Pacheco;
  • Praias fluviais Burgães, Paço de Mato e Praia Fluvial de Pontemieiro;
  • Cruzeiro de Rôge;
  • Pelourinho de Macieira de Cambra;
  • Museu Municipal;
  • Outeiro dos Riscos;
  • Anta da Cerqueira;
  • Parque da Cidade;
  • Percursos pedestres como destaque para os:
    • PR1 - Varandas da Felgueira: Percurso circular podendo ser iniciado na aldeia da Felgueira ou na de Carvalhal do Chão
    • PR4 – Trebilhadouro: Percurso circular que começa/acaba na aldeia de Trebilhadouro, com destaque para as suas casas em xisto e ruas requalificadas e gravuras rupestres.
    • PR3 - Na Vereda do Pastor: Percurso circular que começa/acaba na aldeia do Côvo, a mais alta do concelho, e que passa por Agualva; este percurso era o utilizado pelas pessoas para chegarem à Serra, para “levarem as vacas ao boi”.

Gastronomia de Vale de Cambra

“Relativamente à gastronomia, o concelho oferece uma grande diversidade de restaurantes nos quais se pode degustar entre outros pratos e produtos locais, o cabrito da Gralheira, a vitela arouquesa e o vinho verde (Câmara Municipal de Vale de Cambra, 2009)”, em Pinho, P. M. (2015).

Gado de Raça Arouquesa

Gado de Raça Arouquesa - Serra da Freita

“No que concerne à criação de gado de raça Arouquesa, a nível geográfico esta raça distribui-se por quatro distritos - nomeadamente Aveiro, Porto, Viseu e Braga e por vinte e dois concelhos - entre estes Amarante, Arouca, Baião, Castro Daire, Castelo de Paiva, Cinfães, Marco de Canaveses, São Pedro do Sul, Sever do Vouga e Vale de Cambra (Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa, 2005). Segundo a Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa (2005), esta raça recebeu a Denominação de Origem Protegida em 1994, tendo em 1998 a gestão da marca Carne Arouquesa DOP sido atribuída à Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa (ANCRA).

A Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa (2005) refere que, segundo alguns autores, a origem desta raça arouquesa remonta ao período Celta, através do cruzamento dos bos tauros aquitânicos, bos taurus ibericus e bos taurus atlanticus, que poderá ter dado origem ao bos primigenius.", em Pinho, P. M. (2015).

Caracterização do Gado de Raça Arouquesa

"A Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa (2005) define a raça Arouquesa como sendo animais de pequeno porte, mas de corpulência mediana, com um temperamento dócil, mas enérgico. Estas características fazem da raça arouquesa o animal ideal para habitar em zonas serranas, repletas de formações rochosas, auxiliando ainda as populações locais nos seus labores, dado as características do terreno não permitirem a introdução de maquinaria. Trata-se de uma raça rústica, capaz de enfrentar o clima agreste das zonas serranas, alimentando-se de vegetação pouco nutritiva que se encontra na sua área de criação. Para as populações locais este animal assume-se como uma força de trabalho, e de alimento através da sua carne e leite (Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa, 2005)” , em Pinho, P. M. (2015).

Vinho Verde de Vale de Cambra

“No que se refere ao vinho verde, este poderá ter surgido no nosso país entre os séculos XII-XIII d.C. e foi dos primeiros vinhos nacionais a serem exportados. Carateriza-se pelo seu sabor frutado, leve e fresco, resultante da articulação de fatores naturais e humanos (Gonçalves, 2011).

Alguns dos municípios que integram a Região Demarcada dos Vinhos Verdes (RDVV) são os concelhos de Vale de Cambra, de Arouca, de Cinfães e de Castelo de Paiva, que foram distinguidos com prémios a nível nacional e internacional pelo néctar produzido nos seus territórios. Quanto à RDVV, destaca-se por ser “(…) a maior região vitícola do país e uma das maiores da Europa: 35 000 hectares de vinha distribuídos por uma área de aproximadamente 7000 km2 .” (Gonçalves, 2011, p.14)”, em Pinho, P. M. (2015).

Oferta turística de Vale de Cambra

“Relativamente à oferta turística, segundo Marques (1993), na década de noventa o concelho carecia de infraestruturas de acolhimento e similares necessárias ao acolhimento dos visitantes.

Este autor alerta também para a importância que o turismo de negócios e de natureza assumem no Município, dada a elevada industrialização e o vasto património ambiental das áreas limítrofes. O aproveitamento turístico contribuiria, na perspetiva do autor, para a criação de novos postos de trabalho, para a fixação da população, para além da diversificação do tecido económico, potencializando, deste modo, os recursos do concelho”, em Pinho, P. M. (2015).

Marca Aldeias de Portugal como garantia de turismo sustentável de qualidade

Como uma aldeia pode ver atribuída a marca “Aldeia de Portugal”?

Casa em xisto na Aldeia da Lomba - Arões - Vale de Cambra

“Para que uma aldeia adquira e integre a marca Aldeias de Portugal tem de obter aprovação na avaliação realizada pela Comissão de Avaliação Aldeias de Portugal constituída pelas seguintes entidades: Associação de Turismo de Aldeia (ATA), Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAP-N), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal) (Gonçalves, Brandão, Cardoso & Prado, 2011a),” em Pinho, P. M. (2015).

Objetivos da conceção da marca “Aldeia de Portugal”

“Neste sentido, Cruz (2008) alega que a criação da rede Aldeias de Portugal por nove Associações de Desenvolvimento Local (ADL) tem como objetivo a defesa do património natural e edificado das aldeias e a dotação das casas da aldeia com as condições de habitabilidade necessárias no mundo moderno.

Segundo Cruz (2008), a rede Aldeias de Portugal procura aumentar as taxas de ocupação, fixação e rejuvenescimento das populações rurais, valorizar o património material e imaterial rural, aumentar o número de empregos e rendimentos, diversificar a atividade económica e criar uma rede europeia de alojamento em turismo de aldeia” , em Pinho, P. M. (2015).

Rede atual de “Aldeias de Portugal”

“Atualmente a marca “Aldeias de Portugal” conta com 83 aldeias classificadas, entre as quais se encontram a aldeia da Felgueira e a aldeia do Trebilhadouro, situadas no concelho de Vale de Cambra, integradas no território das quinze Associações de Desenvolvimento Local, distribuídas pelo Norte de Portugal (Aldeias de Portugal, 2013)”, em Pinho, P. M. (2015).

O renascer do mundo rural

Flor na aldeia abandonada de Drave - Arouca

Há uma foto neste artigo onde três espécies de insetos conseguem conviver pacificamente numa pequena flor, o maior até se afastou para dar lugar aos pequenos. A frágil flor de cima brota de antigos xisto das casas decrépitas da aldeia abandonada de Drave em Arouca. Ambas nos ensinam que a natureza na sua suprema sabedoria perdoa sempre por maiores que sejam os desvarios dos homens, ela tem sempre esperança, resta saber se somos dignos dos seus louvores.

Quem poder regressar e ajudar o mundo rural está a contribuir para a sua felicidade e equilíbrio terrestre. Caso a sua vida não o permita, contribua com ações para a sua defesa, visitando as suas terras e propagando os seus valores. Se encontrar algum dos seus habitantes não se esqueça de lhes dar os bons dias.    

Caminhe no distrito de Aveiro e pedale de bicicleta pelo norte de Portugal

O distrito de Aveiro tem dezenas de caminhadas e percursos pedestres muito bonitos, na serra, junto do mar, ria e rios, que pode aproveitar para os conhecer. No norte de Portugal há muitas ciclovias, ecovias e ecopistas que se pode percorrer, a caminhar ou de bicicleta, muitas delas por antigas linhas ferroviárias, agora convertidas em pista para as pessoas passearem. 

Créditos, agradecimentos e fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.

1 - Pinho, P. M. (2015). O papel dinamizador do turismo no espaço rural: o caso das aldeias da Felgueira e do Trebilhadouro [Doctoral dissertation, Universidade de Aveiro]. Repositório Institucional da Universidade de Aveiro.

2 - Câmara Municipal de Vale de Cambra – site institucional, www.cm-valedecambra.pt

Agradecimentos: Aos homens e mulheres com quem nos temos cruzado ao longo dos tempos nas aldeias acima referidas, que sempre se mostraram amigáveis e disponíveis para falar com o Onda da Serra. Obrigado ao jovem Pedro Miguel Pinho, de Vale de Cambra que escreveu a tese de dissertação que nos ajudou a perceber esta problemática e aprofundou os nossos conhecimentos sobre Vale de Cambra e o projeto Aldeias de Portugal. Esperamos que por onde andar possa ter tido sucesso e usado os graus académicos que conquistou.

Lida 5004 vezes

Autor

Ondas da Serra

Ondas da Serra® é uma marca registada e um Órgão de Comunicação Social periódico inscrito na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com um jornal online. O nosso projeto visa através da publicação das nossas reportagens exclusivas e originais promover a divulgação e defesa do património natural, arquitetónico, pessoas, animais e tradições do distrito de Aveiro e de outras regiões de Portugal. Recorreremos à justiça para defendermos os nossos direitos de autor se detetarmos a utilização do nosso material, texto e fotos sem consentimento e de forma ilegal.     

Itens relacionados

Aldeia da Paradinha: Paraíso rural com refúgio na natureza

A Aldeia da Paradinha nasceu em Alvarenga, Arouca, no distrito de Aveiro, entre as serras da Freita e Montemuro. A sua construção vernacular de traça tradicional em xisto e ardósia valeu-lhe a distinção de Aldeia de Portugal. O seu casario em cascata numa encosta montanhosa estende-se até ao Rio Paiva onde nasceu uma aprazível praia fluvial e parque de merendas. Aqui já não existem moradores permanentes, só turistas do alojamento local ou casas restauradas. Muitos desses casebres e empreendimentos hoteleiros foram recuperados ou construídos, por vezes com materiais e técnicas inapropriadas que desvirtuam a sua autenticidade rural. A beleza desta aldeia e seu enquadramento natural podem ser abraçados do miradouro “Mira Paiva”, que lança vistas para o rio serpenteante no fundo do vale, que desemboca nos Passadiços do Paiva a jusante. Esta região há milhões de anos foi um mar pouco profundo e onde subsistem fósseis e vestígios geológicos, para quem souber procurar.  Existem muitos pontos de interesse arquitetónicos, geológicos, naturais e gastronómicos, que podem ser apreendidos e que vamos partilhar.        

Cascata do poço do linho em Paraduça ganhou passadiços

A Cascata do Poço do Linho fica localizada na aldeia de Paraduça, freguesia de Arões, concelho de Vale de Cambra, no distrito de Aveiro. Esta maravilha é caracterizada pela sua beleza e enquadramento natural. A mesma tem boas condições para no verão se poder passar uma tarde agradável a nadar ou dar mergulhos em altura nas suas profundas águas. Ao contrário de outras, a mesma fica bem acessível, junto a uma estrada e dotada agora de modernos passadiços. Ali perto fica localizada a aldeia de Paraduça, onde pode visitar a sua Casa da Broa e provar esta e outras iguarias regionais. Pode também conhecer o seu núcleo de moinhos de rodízio recuperados e se tiver vontade fazer o seu percurso pedestre. Por estas terras não faltam motivos de interesse que pode conhecer ao ler este artigo e aproveitar os dias quentes para visitar estas terras do interior. 

Paraduça: Conheça os moinhos e prove a broa de milho

Paraduça é uma aldeia da freguesia de Arões, concelho de Vale de Cambra, situada entre as Serras da Arada e do Arestal, no limite dos distritos de Aveiro e Viseu. As suas terras são banhadas pelas Ribeiras de Paraduça e Agualva, que desaguam no Rio Teixeira. Na primeira delas o Poço da Cascata do Linho impressiona pela sua beleza e os novos passadiços ajudam na sua contemplação. Aqui ainda se partilham moinhos comunitários de rodízio para moer farinha, fornos para cozer a sua conhecida broa de milho e vezeiras para partilhar a água. A sua associação local dinamiza e preserva as suas antigas tradições, que pode agora na Casa da Broa receber os visitantes e fortalecer a sua identidade. Os Baldios de Paraduça protegem e plantam floresta autóctone e lutam contra a proliferação do eucalipto. Aqui existe uma simbiose perfeita entre riqueza natural e cultural e o dinamismo das suas gentes e associações irão fortalecer a sua identidade e levar forasteiros a quererem visitá-la combatendo a sua interioridade e desertificação.