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Entrevista à Associação de Produtos de Pão de Ló de Ovar Pão de Ló de Ovar Ondas da Serra
sexta, 02 setembro 2016 22:32

Entrevista à Associação de Produtos de Pão de Ló de Ovar

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O Pão de Ló de Ovar é um doce regional tradicional deste concelho, caraterizado por ser confecionado com a gema do ovo e o seu aspeto molhado e aparentemente “malcozido”, que acabam por lhe conferir o seu carácter único representativo da identidade vareira. Este artigo foi efetuado de acordo com uma entrevista em vídeo ao Presidente e Vice-Presidente da APPO, Associação dos Produtores de Pão de Ló de Ovar, onde é descrita esta associação, as suas atribuições e objetivos, descrito o doce, história, como se tornou uma marca protegida e exibe as fases de fabricação deste doce.

Entrevista à APPO - Associação dos Produtores de Pão de Ló de Ovar

Este artigo foi efetuado de acordo com uma entrevista em vídeo ao Presidente e Vice-Presidente da APPO, Associação dos Produtores de Pão de Ló de Ovar, Rui Catalão, "Pão de Ló Casa das Festas" e César Liz, "Pão de Ló Flor de Liz", respetivamente. Este trabalho integrou a 6 Edição do Curso de Vídeo Montagem Acaro/Contagiarte - Porto, ministrado pelo Professor João Cruz.

O Pão de Ló de Ovar é um doce com certificação de identificação geográfica protegida.

Uma IGP é um nome geográfico ou equiparado que designa e identifica um produto originário desse local ou região, que possui uma determinada qualidade, reputação ou outras características que podem ser essencialmente atribuídas à sua origem geográfica e que, em relação ao qual pelo menos uma das fases de produção tem lugar na área geográfica delimitada. Fonte: Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural

O que leva o doce Pão de Ló de Ovar?

A receita pública do pão de ló de Ovar, segundo o Presidente da Associação, Rui Catalão, leva farinha, açúcar, ovos que são batidos, podendo levar ou não sal, sendo cozido em fornos próprios a uma temperatura oscilante entre os cento e oitenta e duzentos e vinte graus, sendo retirado ainda quase cru do interior, acabando de cozer nas suas formas próprias de barro, mas segundo ele “Há uma parte da receita que só os produtores o sabem fazer e isso não se transpõe para nenhum papel, que é o carinho com que se faz o produto, é a dedicação que os produtores põem e o orgulho que têm ao fazer um produto com esta craveira e com esta qualidade.

A história deste doce vareiro à base de gema de ovos

A este respeito contou-nos o vice-presidente da associação, César Liz, que segundo o que foi escrito algures em 1700, século XVIII, Ovar não tinha um convento, mas no interior dum colégio de freiras Doroteias, uma delas teve conhecimento deste doce e ao chegar a casa tentou fazê-lo, saindo um bocado por defeito, por isso é que ele fica húmido, “Algumas pessoas chamam-lhe o mal cozido, mas para nós não é malcozido.

Este doce era depois oferecido aos bispos, as pessoas de Ovar levavam-no para os seus chefes fragateiros em Lisboa, sendo considerado um manjar dos deuses, um doce rico, só quem tinha possibilidades é que o comprava, “Hoje em dia já existe muita gente a fazê-lo, mas principalmente a comê-lo”.

O impacto deste doce no comércio e na economia local

O seu presidente fez referência ao impacto que este doce tem no comércio, na economia local e também distrital. O mesmo deu como exemplo o manual de certificação do produto, que obriga a que os ovos gastos no seu fabrico, tenham obrigatoriamente que ser produzidos na área do distrito de Aveiro e num concelho do distrito de Viseu. Esta obrigatoriedade está relacionada com o contributo que o doce dá para a economia do distrito.

O distrito de Aveiro foi durante muitas décadas o principal produtor de milho do país, que chegou a ser 72% do total nacional. Este distrito é por isso um local de produção de ovos de excelente qualidade. Segundo dados de 2014, os produtores deste doce, utilizaram no seu fabrico dezoito milhões e setecentos mil ovos por ano.

As fases principais no fabrico do Pão de Ló de Ovar

César Liz, explicou-nos de uma forma simples as fases principais da produção do doce que passa pela separação das claras, porque 75% é totalmente gema e os outros 25% é que tem a parte completa, por isso há esta separação da gema da clara. Depois são batidas as gemas com açúcar, que demora cerca de quinze minutos, depois é adicionada farinha, são enchidas manualmente as formas com a massa, em formas com miniaturas de cem a cento e vinte gramas, quinhentas e um quilo, no entanto fez questão de referir que são pesos aproximados. A cozedura demora cerca de quinze minutos, consoante o tamanho do doce e tipo de forno. Por último, a forma em papel que contém o doce é amarrada e colocada numa caixa personalizada, “O processo completo demora cerca de duas horas e para comer é muito mais depressa”.

O manual de especificações que deve orientar a fabricação do produto

Rui Catalão explicou que há regras que tem que ser cumpridas na sua fabricação, que vão desde o papel que acondiciona o doce, o tipo de barro da forma, o tipo de ovos, o tempo da cozedura, a forma como é batido, apenas o açúcar não carece de tanta especificação.

A relação que o Pão de Ló tem com o turismo vareiro

Rui Catalão entende que o Pão de Ló de Ovar é uma peça básica no turismo, “O Pão de Ló de Ovar é o principal ex-libris da cidade e do município. Ovar é conhecido em todo o mundo, repito em todo o mundo através do seu Pão de Ló. ”. Ovar também tem outras atrações turísticas, como o carnaval, que por vezes se associa ao doce, como em 2015, em que o rei até tinha o nome dele.

As vantagens que os produtores têm em pertencer à associação

César Liz explicou que os produtores têm todo o interesse em pertencer à associação de produtores, para assim poderem usar a marca do pão de ló de Ovar. Segundo ele, a associação não quer prejudicar os produtores, mas sim ajudá-los e defendê-los porque há muita réplica e muita gente de fora de Ovar a fabricá-lo, usando a designação de origem geográfica protegida sem autorização.

As formas que associação criou para divulgar o seu produto

A associação tem oferecido o seu produto em festivais folclóricos, e grupos folclóricos que têm visitado Ovar, em 2016 participaram numa ação da Escola Profissional de Cortegaça, relacionado com um trabalho sobre este doce, participaram na volta a Portugal de 2015, oferecendo este doce a cerca de quatrocentas pessoas de fora de Ovar, compostas por jornalistas nacionais e internacionais, organizadores da volta, ex-grandes ciclistas. Os jornalistas que visitem Ovar são brindados também com este doce.

Quantos associados pertencem à APPO

A associação em 2016 era composta por oito produtores, mas segundo César Liz, qualquer pessoa que faça Pão de Ló de Ovar pode juntar-se a ela, desde que esteja devidamente certificada para o fazer, em termos de estabelecimento, higiene e segurança alimentar e que siga o caderno de especificações.

Como deve ser degustado este doce

A este propósito César Liz disse que os gostos não se discutem, mas que pela sua experiência e paladar, gosta de comer pão de ló sozinho, sentindo-o na língua e no palato, sendo a sua passagem nas papilas gustativas o teste que diferencia um bom pão de ló, dum menos bom, não achando ele que em Ovar haja mau pão de ló. Para acompanhar ele recomenda queijo da serra, porque é salgado. Já para beber ele recomenda um bom vinho do porto ou vinho tinto. Também já conheceu pessoas que o gostam de comer, bebendo espumante, mas ele acha que a conjugação ideal para o saborear é um queijo salgado e vinho do porto.   

Contactos da APPO

Casa das Festas
Largo 5 de outubro, 1
3880-062 Ovar

Telefone: 934 396 320
Email: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Vídeo sobre o Pão de Ló de Ovar

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Autor

Ondas da Serra

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