Serra de Montemuro
Serra de Montemuro: O Refúgio Perfeito para uma Viagem Inesquecível
Legenda da Foto: Serra de Montemuro - Miradouro do Santuário de Nossa Senhora do Monte - Alvarenga - Arouca
A Serra de Montemuro é pouco conhecida pelos portugueses, no entanto a mesma possui uma grande história que remonta aos primórdios da ocupação do nosso território e reza a lenda que por aqui passou D. Afonso Henriques, nas batalhas pela fundação da nossa nacionalidade e Egas Moniz, o homem que o criou terá tido terra perto das Portas de Montemuro.
A sua riqueza também se traduz a nível geológico, fauna e flora, onde se destaca o Vale da Bestança, que só por si deveria ser uma área protegida e pode ser percorrido pela PR2 - Rota do Vale da Bestança.
As aldeias que nasceram nestas terras são muito bonitas, tradicionais de carácter acentuadamente rural. Por todas estas razões resolvemos fazer este artigo, para os nossos leitores interessados no tema poderem saber mais sobre o assunto e se quiserem aprofundar o assunto lerem os artigos mencionados na bibliografia no final.
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Enquadramento geral da Serra de Montemuro
Geografia da Serra de Montemuro
Legenda da foto: Serra de Montemuro - Alvarenga - Arouca, em baixo pode-se avistar a aldeia de Noninha
A Serra de Montemuro é delimitada pelo Douro e o Mondego a norte e a sul
"A Beira Alta, do ponto de vista geomorfológico, corresponde a extensa superfície de aplanamento que se desenvolve a norte da Cordilheira Central. A serra do Caramulo, o designado “Maciço da Gralheira” (Girão, 1921: 63; Ribeiro et al., 1943; Ferreira, 1978) e a serra do Montemuro constituem os seus limites mais ocidentais.
A leste, os afluentes do Douro, correndo paralelamente, segundo a direcção SN, por vezes ocupando vales de fractura, profundos e entalhados, como o Távora, o Torto e a ribeira de Teja, já nos limites do prolongamento para oeste da “superfície da Meseta” (Ferreira, 1978). O Douro e o Mondego limitam-na a norte e a sul.
O maciço do Montemuro, um “conjunto de formas doces” acima dos 1000 metros, como se lhe refere O. Ribeiro (1948: 334), integra as “montanhas ocidentais”, que separam a plataforma litoral dos planaltos da Beira Alta, constituindo importante barreira natural às influências atlânticas, pois actuam como “centros de condensação e retenção da humidade oceânica” (Ribeiro, 1994: 742), com consequências importantes ao nível climático e do coberto vegetal.
É uma unidade geográfica bem definida: o rio Douro, a norte; o rio Paiva, a oeste e sudoeste; o rio Varosa (com o troço terminal do seu afluente Balsemão), e o rio Pombeiro/Vidoeiro, limitam-na respectivamente a este e a sudeste."30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
Geomorfologia da Serra de Montemuro
Geomorfologicamente corresponde a um “bloco tectónico levantado em relação ao planalto da Nave e balançado para noroeste, em direcção ao vale do Douro” (Ferreira, 2004: 104). Trata-se de montanha de média/elevada altitude (alt. máx. de 1381 metros no v. g. Montemuro), fundamentalmente granítica, com algumas manchas importantes do designado “complexo xisto-grauváquico”, sobretudo a leste, a sul e sudoeste do maciço, para além das rochas filonianas, de que se destaca o quartzo, nomeadamente entre Monteiras e Mouramorta (Schermerhorn, 1980).
Para leste do maciço a platitude é generalizada. São já os planaltos que se desenvolvem em torno dos níveis culminantes da Nave (“serra da Nave”), relacionáveis com a “superfície fundamental” dos “planaltos centrais”, tal como foi definida por A. Brum Ferreira (1978: 241), uma ou outra vez pontuada por relevos que não ultrapassam muito os 1000 metros de altitude,
sobretudo no sector norte.30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
Flora da Serra de Montemuro
Legenda da foto: Esta fotografia da flora da Serra de Montemuro foi tirada no alto das Portas de Montemuro em Cinfães.
"A cobertura vegetal do maciço é contrastante, atendendo, quer à altitude e ao regime pluviométrico, opondo as vertentes e o fundo dos vales, mais arborizados e verdejantes, ao planalto, cuja vegetação é esparsa, essencialmente arbustiva e rasteira, quer ao substrato (granitos/xistos e grauvaques), a que se liga a potencialidade dos solos, índices de erosão, etc.; o contraste é também marcado entre as encostas viradas ao Paiva — pelo menos até à Ermida —, com importantes manchas de pinhal, a que se associam várias espécies de carvalho e o castanheiro, e as que se relacionam com o Douro, com este último, a par do sobreiro e do pinheiro, e outras arbóreas adaptadas às condições climáticas específicas do vale do Douro (oliveira, amoreira, nogueira, vinha, etc.).30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
Povoamento e economia da Serra de Montemuro
"O povoamento é concentrado, com tendência para a dispersão junto ao vale do Paiva. Os solos são pouco espessos, frequentemente ausentes, sobretudo nas áreas de relevo mais acentuado. A propriedade é de pequenas dimensões. A economia é fundamentalmente agropastoril, de subsistência. Uma parte importante do território está ocupada com matas e incultos, estes até há pouco utilizados extensivamente como baldios, principalmente para a criação de gado miúdo (ovelhas e cabras, sobretudo aquelas).30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
A transumância do gado existiu na Serra de Montemuro até ao passado recente
A transumância dos gados das vizinhanças da serra da Estrela (Nelas, Santa Comba, Carregal do Sal, Canas de Senhorim, Oliveira do Hospital, etc.), em direcção ao Montemuro, seguindo trajectos há muito definidos, era prática corrente até há pouco tempo (Girão, 1940, 1951; Ribeiro, 1948; Dias, 1951, 1965; Medeiros, 2000)."30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
Morfologia da Serra de Montemuro
A Serra de Montemuro é oitava maior elevação de Portugal Continental
"O espaço conformado pela Serra de Montemuro integra o sector ocidental do Maciço Antigo/ Hespérico, especificamente, a Zona Centro Ibérica. É a oitava maior elevação de Portugal Continental (com 1381 m de altitude no v.g. de Montemuro), localizando-se no sector ocidental do N da Beira, em zona de transição entre o litoral e o interior.
A serra enquadra-se no grupo regional das Montanhas Ocidentais do Centro-Norte de Portugal, que engloba, para além desta, o Maciço da Gralheira e a Serra do Caramulo. A N, o curso do Douro separa a massa montanhosa das do Marão e Alvão, enquanto a E, é nítida a cisão com os Planaltos Centrais do Norte da Beira (Vieira 2008: 22, 23)."32 (Ramos, 2012)
Configurando uma forma toscamente triangular, dissimétrica, define-se, a S e O, pelo curso meandroso do Paiva, que corre por vale de vertentes abruptas xistentas, abrindo, a N, em vertente suave, com um declive de cerca de 6/7%, de relevos graníticos, para o Douro. O seu limite E é definido pela falha Verín-Penacova, de orientação SSO-NNE, associada, em parte, aos cursos do Balsemão e do Ribeiro da Moura Morta, tributários do Paiva e do Varosa, respectivamente (Ibidem; Girão 1940: 25)
A morfologia da serra está, claramente, associada a marcas estruturais de origem hercínica e tardi-hercínica, materializadas nas falhas e desligamentos que reticulam o espaço, de orientação predominantemente NNE-SSO e NE-SO. Estas falhas marcam indelevelmente a paisagem, nas formas de vertente e nos cursos de água, rectilíneos, que as decalcam, por vales encaixados e sinuosos.
Destaca-se, aqui, a falha, de configuração rectilínea e orientação NNO-SSE, aproveitada pelo curso do Rio Bestança, que, seccionando o sector central da serra, constitui importante zona de passagem natural, permitindo suplantar o maciço de Montemuro, desde a portela das Portas, ao Douro (Teixeira, Medeiros, Fernandes 1969: 9).
A preponderância de relevos acidentados, recortados por vales encaixados, domina as formas da paisagem, caracterizando-se as zonas mais altas por pontuais, mas amplas superfícies / retalhos de aplanamento, de que são exemplo Campo Déle (1240m), Lagoa Pequena (1300m) e Lagoa de D. João (1100m) (Ibidem. 9).
Os retalhos mais extensos e perfeitos, que se desenvolvem a um nível intermédio, entre os 800m e os 1000m de altitude, situam-se no sector oriental da serra, aproximando-a morfologicamente do Planalto Beirão. De menores dimensões e mais deteriorados, são os retalhos inferiores, entre os 500m e os 600m, localizados no vale do Bestança e às margens do Cabrum (Vasconcelos, Ribeiro, Matos 2000: 18).32 (Ramos, 2012)
Geologia e hidrografia da Serra de Montemuro
"Montemuro apresenta características geológicas comuns ao Maciço que integra, que se traduzem na preponderância de formações paleozóicas e hercínicas, protagonizadas pelas rochas do complexo xisto-grauváquico e pelas rochas granitóides, ocasionalmente pontuadas por filões quartzíticos e de rocha básica. Os depósitos modernos figuram, aqui, em menor expressão, estando associados a aluviões, fundos de vale e vertentes. É nítida a preponderância das rochas granitoides, constituindo 74% da área da serra, e que se apresentam com variedades locais 30 (Vieira 2008: 64).
O granito de Montemuro domina quase toda a serra
Dos granitos porfiróides, que predominam nas zonas mais altas, destaca-se, pela sua extensão, o denominado "Granito de Montemuro", abrangendo quase toda a serra. Trata-se de granito de coloração azulada, de grão médio a grosseiro, com variações locais, de duas micas (onde predomina, no entanto, a moscovite, sobre a biotite) apresentando, escassos fenocristais de feldespato. De grão fino, merecem menção as manchas de Sá, próxima de Tendais, e a mancha de S. Cipriano - Ovadas, que abrange a povoação de Ramires (Teixeira, Medeiros, Fernandes 1969: 32 e 33).
A heterogeneidade dos seus componentes condiciona a resistência da rocha aos processos de erosão, que se manifesta numa elevada fracturação, sob as formas de domos rochosos (como o de Perneval), castle koppies (como o da Gralheira) e tors (idênticos aos castle koppies, mas de menores dimensões). As formações rochosas do tipo tor, muito frequentes, circundam, ocasionalmente, as formas alveolares (como a de Lagoa Pequena), associadas a superfícies de aplanamento, propensas à concentração de águas, parecendo resultar da meteorização química da rocha (Vieira 2008: 248-268).
Parte considerável da nossa área de estudo pauta-se pela presença de granitos não porfiróides de grão fino, que compõem o Grupo de Tendais. De distribuição irregular e contornado pelo "Granito de Montemuro", com o qual contacta abruptamente, trata-se de "granito de duas micas, com biotite predominante, de grão fino a médio-fino que contém raros fenocristais de feldspato" (Ibidem: 94). Em relação aos granitos porfiróides, estes revelam-se mais resistentes aos processos de erosão, pela relativa homogeneidade da dimensão dos minerais.
Associados aos granitos mencionados estão os escassos filões de rocha básica, merecendo menção o filão que acompanha o vale por onde corre o Ribeiro de Tendais, com 2km de extensão, "encaixado no granito porfiróide de grão médio e no granito de grão fino não porfiróide" (Teixeira, Medeiros, Fernandes 1969: 55). Também a E das Portas de Montemuro, seguindo a orientação NNE-SSO / NE-SO, entre Campo Déle e Panchorra, se verificou a presença de extenso filão de rocha básica.
De menores dimensões, passíveis de associar a uma exploração mineira local, sugerida, desde logo, pela toponímia, refiram-se os filões de quartzo de Vila Boa de Cima, Ramires e Ferreiros de Tendais (Ibidem: 58). A rede de drenagem, realizada, na sua maioria e de forma indirecta, para o Douro, afigura- se como um dos factores que mais influi na morfologia de Montemuro, estando intimamente relacionada com o predomínio das rochas granitóides e com a elevada fracturação do maciço 34 (Vieira 2008: 187).
A parte central da Serra de Montemuro é definida pelos rios Cabrum e Bestança
O sector central da serra, sobre o qual nos focamos, é definido pelos rios Cabrum e Bestança, que reúnem as águas de uma densa rede hidrográfica, que se ramifica pelo interior do maciço montanhoso. O basculamento tendencial da serra para NO condiciona a drenagem das águas para o Douro, conseguida, entre outros de menor expressão, através desses dois eixos fluviais (Ibidem: 190)."32 (Ramos, 2012)
Clima e flora da Serra de Montemuro
Montemuro enquadra-se no clima de montanha, variante do clima atlântico
"As manifestações climáticas estão intrincadamente associadas aos traços da orografia, geologia e hidrografia acima explanados, repercutindo-se, por sua vez, no coberto vegetal (Girão 1940: 54). Montemuro enquadra-se no clima de montanha, variante do clima atlântico, caracterizado por uma temperatura média inferior a 10°, de rigorosos invernos, longos e frios, com ocorrências elevadas de precipitação (chuva e neve), sempre superiores a 1500mm (podendo atingir os 2500/3000mm) e estios curtos, secos e frescos.
O maciço constitui, na verdade, com as demais serras que compõem as Montanhas Ocidentais e as do Marão e Alvão, a N do Douro, uma barreira que impede a passagem do ar marítimo para o interior continental, aspecto que justifica a dissimetria climática que o caracteriza (Ribeiro, Lautensach, Daveau 1988: 384, 458).
A proximidade do Atlântico sujeita a serra ao ar marítimo, de que é resultado a elevada humidade da zona. Assim, os níveis de precipitação registados são consequência, em grande parte, do contacto das massas de ar atlântico com a barreira física de Montemuro, que resulta numa "ascensão compulsiva".
Também os vales do Douro e Paiva, ao permitir a canalização do ar, condicionam a distribuição da precipitação, tendencialmente mais elevada nas áreas de maior altitude (Vieira 2008: 384). O sector NE da serra, de topografia mais deprimida, contrasta com o O, apresentando um clima mais seco, de características continentais.
Zonas acima dos 1000m de altitude são as que registam um clima mais vigoroso
As zonas acima dos 1000m de altitude são as que registam um clima mais vigoroso, com níveis de precipitação elevados e temperaturas mínimas inferiores a 00. A paisagem apresenta- se, aqui, árida, sendo praticamente inexistente a vegetação arbórea e arbustiva (apenas associada a retalhos de aplanamento e a cursos de água), face ao predomínio de solos magros e parcos em nutrientes (resultado, em grande medida, das queimadas realizadas com o intuito de renovar a forragem para os gados), ocupados por vegetação arbustiva e herbácea (como as giestas, urzais, tojo, codeço) e gramíneas.
Fauna da Serra de Montemuro
Legenda da foto: "Mylabris hieracii é uma espécie de insetos coleópteros polífagos pertencente à família Meloidae. A autoridade científica da espécie é Graells, tendo sido descrita no ano de 1849.Trata-se de uma espécie presente no território português."16
Com a diminuição da altitude, diversifica-se a paisagem, mercê da multiplicidade de ambientes proporcionados pelo modelado granítico, que se compõe de pequenos lameiros e áreas de cultivo, nas zonas mais deprimidas, densas galerias ripícolas e bosques, propiciando o desenvolvimento de comunidades arbóreas, pontuadas pelas espécies nativas de carvalho roble, carvalho negral e castanheiro, bem como as manchas de eucaliptal e pinhal (Girão 1940: 57-62).
Constante da paisagem montemurana, quer na serra, quer no vale, são os lameiros de montanha, que se destacam pela presença de gramíneas (proporcionando fonte abundante de alimentação do gado bovino), assim como a vegetação de natureza ripícola (choupo, salgueiro, amieiro, freixo), que acompanha as linhas de água (Vieira 2008: 437).
Pese embora não existam análises polínicas para a área de Montemuro, as realizadas para as zonas da Estrela e da contígua Serra da Freita permitem entender a evolução diacrónica do coberto vegetal, em momento póstumo às importantes alterações climáticas, ocorridas no final do Quaternário.
De facto, pode entrever-se a paulatina influência da intervenção antrópica nas paisagens de montanha, que se traduz, na Freita, por exemplo, em trabalhos de preparação de solos para o pastoreio (através da realização de incêndios), por volta de 6000 BP (Ibidem: 419). A floresta sofreria, então, um fraco impacto da acção humana, persistindo um coberto arbóreo composto de espécies autóctones.
A Idade Média parece ter constituído, de facto, o período onde a influência antrópica seria determinante na degradação do coberto vegetal, tendo no aumento da actividade agrícola, que se desenvolve para os espaços florestais, e, principalmente, no sobre-pastoreio os protagonistas da desflorestação e do aceleramento da erosão do solo."32 (Ramos, 2012)
Povoação da Serra de Montemuro
Ser humano modelador da Serra de Montemuro
"O ser humano, "na sua função de modelador da paisagem" (Ribeiro, Lautensach, Daveau 1989: 627), desempenhou um papel primacial na configuração do espaço montemurano, tal como hoje o percepcionamos.
As características geomorfológicas, hidrológicas e climáticas, acima explanadas, resultam numa paisagem diversificada, que condiciona o aproveitamento dos recursos, influindo, concomitantemente, no modo como as comunidades estruturam o espaço.
Exploração agrícola, voltada para a subsistência
Legenda da Foto: Cultivo em socalcos na Aldeia de Noninha - Alvarenga - Arouca
A exploração agrícola, voltada essencialmente para a subsistência, alterna entre espaços de campo-prado, onde a abundância de águas proporciona alguns terrenos férteis, e amplas zonas aptas ao cultivo de cereais de sequeiro, mais permeável a condicionantes orográficas e climáticas rigorosas (Idem 1991: 998 e ss.).
Apenas nos vales do Bestança e do Cabrum e ao longo das ribeiras tributárias se sustenta uma actividade agrícola mais diversificada. As vertentes algo declivosas foram paulatinamente domadas pela construção de socalcos, suportados por muros frustes.
Nas áreas de maior altitude cultiva-se milho, mas é o centeio que se firma como cultura essencial e ancestral, fonte de alimento, cobertura de abrigos e vestuário, alternando o seu cultivo com o apascento dos gados, aí trazidos para renovar e fertilizar os terrenos, em regime de afolhamento bienal (Medeiros 2000: 122).
A paisagem agrícola dispõe-se, então, heterogeneamente: das áreas contíguas às habitações, onde proliferam as culturas delicadas, aos campos desenhados pelos socalcos e cercas pétreas regulares, nas áreas ribeirinhas, ao monte, campos vastos de altura, baldios, de limites irregulares e exploração comunitária (Ribeiro 1991a: 261).
Importância da pastorícia com referências desde o século XVI
De entre as actividades relevadas, destaca-se, pela sua importância, a pastorícia, fonte de alimento, de matéria-prima para o vestuário, força motriz de carros e arados, desde cedo firmada como a actividade preponderante e que melhor se coaduna aos recursos da serra.
Já no século XVI temos notícia, na descrição do terreno ao redor de Lamego duas léguas, de Rui Fernandes (1531-1532), da importância que a criação de gado miúdo e graúdo tinha para as populações serranas. De facto, este documento constitui a mais remota referência à prática da transumância descendente dos rebanhos de gado vacum, de Montemuro para a Gândara.
Transumância na Serra de Montemuro
Documentalmente mais recente parece ser a transumância ascendente que, até finais do século passado, pintava a sua presença sazonal em Montemuro. Aqui acolhia, nos meses de Verão, gado miúdo vindo de Oliveira do Hospital, Tondela, Mangualde, Nelas, ocupando vastos terrenos de monte, baldios e lameiros naturais, fecundos em espécies de gramíneas. Dos terrenos que tinham como destino mencionem-se alguns em Alhões (Moutinho, Cambo), Gralheira (Lagoa Pequena) e Panchorra (Lagoa de João) 40 (Dias 1965: 40).
A pastorícia de grande percurso em Montemuro assume-se, em diversos aspectos, distinta da praticada na Serra Estrela. Cedo extinta, a transumância de gado bovino, de Inverno, para a Gândara, era a única que se articulava directamente com a economia das comunidades serranas. Já a vinda dos rebanhos da área da Estrela, desenvolvia-se paralelamente às actividades do quotidiano das populações, acompanhando-se as reses dos pastores e maiorais de origem31 (Oliveira, Silva 2000: 40)
É, então, o pastorear local, de gado graúdo e miúdo, estabulado, mas essencialmente de percurso, que mais influi na humanização do espaço montemurano, denotando-se claras semelhanças com os caracteres rio onorenses, descritos por Jorge Dias (1953: 20).
O pastoreio comunitário de gado ovino e caprino ainda se realiza em algumas aldeias
Legenda da Foto: Criação de gado da raça arouquesa perto da aldeia de Alhões, Vale do Bestança, Serra de Montemuro, em Cinfães.
O pastoreio de gado ovino e caprino, de vincado cunho comunitário, organiza-se, ainda em algumas aldeias, segundo o regime de vigia. A reunião dos rebanhos dos vizinhos para apascento no monte constituía o quotidiano dos aglomerados serranos, mas também dos que se desenvolviam nas áreas ribeirinhas contíguas.
As formas de exploração agrícola e pastoril desenvolvem-se, assim, simbioticamente, acompanhando a própria dinâmica dos terrenos, relevos e clima da serra. Esta orgânica materializa-se na estruturação da paisagem humanizada de tal forma que "Todas as povoações agrícolas da encosta possuem os seus terrenos maninhos nas zonas mais altas da serra com os quais se põem em comunicação por caminhos encanados por muros de pedra, quase sempre muito íngremes e exclusivamente destinados aos gados. São as canadas ou canados (...)" (Girão 1940: 127).
São estes caminhos uma das características mais peculiares da organização do espaço serrano, permitindo a articulação entre assentamentos e destes com as zonas de exploração. Calcorreados por pessoas e gados, ostentam, não raro, sulcos profundos dos pesados carros de bois que por aí passam.
Nas zonas aplanadas da serra, enquadradas, na área que nos ocupamos, pelas povoações de Gralheira, Bustelo e Alhões, transformam-se em largos eixos que "constituíam extensas e sinuosas vias de acesso às pastagens e originavam alterações na morfologia agrária e na paisagem" 31(Silva 2000: 56).
A largura dos caminhos, aqui, encontra justificação na afluência de rebanhos transumantes para a serra, destinando-se, assim, não só às necessidades do quotidiano rural, mas também do acontecimento anual que era a transumância.
Regadio extenso na Serra de Montemuro
Paralela e perpendicularmente a estes caminhos, desenvolve-se um intrincado sistema de regadio, composto por minas, poços e regos, destinado ao aproveitamento máximo das águas abundantes da serra, assentando em pressupostos de partilha comunitária.
Povoamento da Serra de Montemuro
A configuração do povoamento, no espaço que nos ocupa, está intrinsecamente relacionada com as formas de exploração dos recursos proporcionados pela serra. Da ambivalência de ambientes resulta a preponderância de dois tipos de povoamento. Nos altos da serra o povoamento é marcadamente aglomerado e rarefeito, organizando-se em torno das linhas de água. São disso exemplo, para a área que nos ocupa, as povoações de Bustelo, Alhões e Gralheira (que se desenvolvem a altitudes entre os 850m e 1125m), freguesias constituídas por apenas estas aldeias.
A menores altitudes, associado a zonas de passagem naturais proporcionadas pelos cursos de água, acompanhadas pelas vias de circulação, o povoamento é, tendencialmente disperso, compondo-se por vários lugares que, de pequena dimensão, se articulam em função da rede viária local e das esparsas superfícies aplanadas e espaços agricultáveis, conquistados alguns às vertentes pela construção de socalcos (Girão 1940: 89)
Este aspecto é evidente no vale do Bestança e ribeiras associadas, constituindo cabal exemplo a freguesia de Tendais, que se compõe, actualmente, de 15 lugares, dispostos entre a serra, implantados entre os 850m e os 1000m de altitude (como Aveloso e Casais) e o vale, altitudes compreendidas entre os 350m e os 800m (Quinhão, Meridãos, Granja, Soutelo, Macieira, Fermentãos, Cimo de Vila, Marcelim, Mourelos, Vila de Muros, Valverde).
Em Ferreiros de Tendais podemos observar padrão idêntico, embora com uma maior incidência de pequenos núcleos dispersos voltados ao vale: a altitudes compreendidas entre os 750m e os 850m encontram-se Vila Boa de Cima, Vila Boa de Baixo e Pimeirô; os restantes assentamentos - Ferreiros, Aldeia, Rebolfe, Ruivais, Chã, Covelas, Pelisqueira, Amial e Prelada - voltados para o Bestança, organizam-se de forma escalar, entre os 650m e os 250m de altitude. O mesmo para Ramires, que abarca os lugares de vale que compõem a aldeia homónima (entre os 500m e os 700m) e a aldeia serrana de Vale de Papas (entre os 1000m e os 1050m).
Espaços espalhados pela serra de apoio à exploração
Julgamos pertinente deixar, aqui, um apontamento breve sobre a materialidade dos espaços habitacionais e de apoio à exploração. Montemuro apresenta características, na sua arquitectura vernacular, análogas às de outros espaços serranos, em intrínseca associação com o aproveitamento dos abundantes recursos proporcionados pelo meio.
Para além das casas que constituem a aldeia, ao longo dos campos, a que se acede pelos caminhos, localizam-se pontuais estruturas, de planta rectangular, de um ou dois pisos, destinadas a guardar o gado e as alfaias agrícolas, vulgarmente designadas de palheiros.
Afirmam-se como estruturas de apoio à produção que, mantendo as características construtivas do lar, constituem uma espécie de segundo posto, apartado da povoação, mas próximo dos campos. Em áreas contíguas ao lar ou, em alternativa, ao palheiro, localizam-se, tendencialmente, os espigueiros ou canastros.
Legenda da Foto: Abrigo para pastores na parte superior do Vale da Bestança - Cinfães
Soerguidos, destinam-se ao armazenamento saudável do milho colhido (Dias 1981: 57). Aproveitando os muros pétreos dos socalcos ou de divisão de propriedade, são, também, frequentes, pequenos abrigos, normalmente junto a caminhos, que pela sua precariedade permitem apenas o resguardo rápido dos ventos e chuvas (Oliveira, Galhano, Pereira 1969:26).
Primaciais na economia montemurana, associados à transformação dos ricos centeios em alimento, seguindo as linhas de água, persistem os inúmeros moinhos de rodízio, de dois pisos, de planta rectangular.
Também construídos, mas relativamente circunscritos à serra, mencionem-se os abrigos em pedra solta, de planta tendencialmente circular, resguardo dos pastores que vêm apascentar os gados ao monte. Função idêntica cumprem os abrigos naturais, aproveitados das formações rochosas, a que se associa, esporadicamente, uma parede tosca para protecção das intempéries.
Diferentes na sua natureza, mas não nas suas funções actuais, implantadas a meia encosta, ou contíguas ao espaço habitado, refiram-se as furnas ou “cafugas" escavadas no granito, de planta tendencialmente circular e tecto abobadado. Estas estruturas servem, presentemente, de estrumeira, abrigo de reses de gado miúdo e de alfaias agrícolas, podendo, por isso, ser dotadas portas (Ventura et alii 2000: 105).32 (Ramos, 2012)
História da Serra de Montemuro
Bases documentais para o estudo da História da Serra de Montemuro
"Parece ter sido o enclave montemurano desde cedo zona primacial de passagem, facto que, aliado à multiplicidade de ambientes proporcionados pelas características explanadas no capítulo anterior, terá sido determinante na génese e desenvolvimento do povoamento na área.
No entanto, Montemuro é, simultaneamente, referenciado como área inóspita e pouco convidativa à fixação humana ou, ainda, como propício refúgio aos bulícios das principais pautas da história peninsular (Girão 1940: 63 e 64).
Para além das monografias e publicações periódicas locais, de carácter genérico e, por vezes, parcial, conta-se com alguns estudos que versam sobre a Arqueologia da zona informações, compiladas em inventários ou dispersas, permitem-nos, ainda assim, conhecer as expressões de povoamento na serra."32 (Ramos, 2012)
Pré-História da Serra de Montemuro
Estruturas funerárias são os mais remotos testemunhos humanos na serra
"Os mais remotos testemunhos de presença humana em Montemuro, na sua maioria, estruturas funerárias, remontam à Pré-História Recente, desconhecendo-se vestígios passíveis de atribuir a cronologias mais recuadas.
Apresentando características heterogéneas, inerentes ao amplo espectro cronológico que abarcam - de finais do V milénio ao II milénio a.C. -, os sepulcros identificados têm como denominador comum o espaço serrano.
Assim, associados a linhas de água e a superfícies de aplanamento, refiram-se os grupos de Chã de Brinco (em Nespereira), o dólmen de Lameiro de Pastores, bem como os conjuntos de tumuli de S. Pedro do Campo e de Aveloso, em Tendais (Silva, Cunha 1988-1994: 332; Pinho 1996: 19; 1998: 46; 2000c: 13, 14; Pinho, Lima, Correia 1999: 6). Relacionável com o conjunto de S. Pedro do Campo parece ser, também, o Menir do Marco da Jogada, localizado, já, no concelho de Arouca (Pinho 1998: 19; Silva [coord.] 2004: 66 e 118).
São praticamente desconhecidos vestígios de habitat das comunidades, que tiveram por sepulcro os conjuntos mencionados. O carácter perecível das soluções habitacionais, aliado a um sedentarismo ainda incipiente, regrado pelos ritmos sazonais, inerentes a uma exploração de base cinegética e silvo-pastoril, justifica, em parte, o desconhecimento material do espaço dos vivos, tão contrastante com a inteligibilidade na paisagem dos espaços funerários.
Têm-se apontado alguns sítios abrigados na serra - como os da Casa da Moura, em Alhões, e de Fragas da Cama, Desamparados - a que se associam fragmentos de cerâmica muito deteriorados - como presumíveis vestígios de estabelecimentos humanos pré-históricos (Pinho 1998: 21, 48, 49; 2000c: 11; Pinho, Lima, Correia 1999: 9) 59. Apenas nos níveis inferiores da intervenção da Quinta da Chieira (Cinfães), foram exumados vestígios cerâmicos e 60 instrumentos em sílex atribuíveis ao Calcolítico, associados a negativos de estruturas (Pinho 1998: 21 e 52, 53; 2000c: 15; Pinho, Lima, Correia 1999: 10)."32 (Ramos, 2012)
Entre a Proto-História e o Baixo Império
Em Cinfães conhecem-se poucos povoados deste período
"Relativamente à Proto-História o estado dos conhecimentos persiste lacunar. De facto, no que ao espaço de Cinfães diz respeito, conhecem-se poucos povoados seguramente enquadrados neste período, alguns ocupando zonas altas, de amplo domínio visual, de que são exemplo os espaços amuralhados do Monte das Corôas, que preserva pano de muralha de aparelho poligonal (Ferreiros de Tendais, Anexo II, 1: 22), com domínio sobre o Bestança e a desembocadura do rio no Douro (Pinho 1998: 50; 2000c: 21), e o Castro de Sampaio (S. Cristóvão de Nogueira), dominando o vale do ribeiro homónimo até ao Douro (Ibidem).
Em outeiros de menor pronunciação, vinculados, também, a linhas de água e a portelas naturais, são recorrentemente mencionados como presumíveis núcleos habitacionais, passíveis de remontar à Proto-História, os sítios de Castelo (Tendais, Anexo II, 1: 99), Paradela, Cidadelhe (Cinfães), Crasto (Fornelos), Crasto (Nespereira) e S. Pedro (Travanca) (Pinho, Lima, Correia 1999: 12).
O recinto fortificado das Portas de Montemuro pode ser da Proto-História
A este período tem sido, por alguns autores, atribuído o recinto fortificado das Portas de Montemuro, associado ao controlo da zona de passagem natural que permitiria o acesso ao Douro, por parte das comunidades serranas, face ao "invasor" romano (Correia, Alves, Vaz 1995: 101; Girão 1940: 65, 66; Silva 1963; Silva 2007: 164).
As características da implantação destes assentamentos enquadram-nos na denominada "cultura castreja", parecendo dever-se a fraca densidade de vestígios identificados às vertentes abruptas dos vales encaixados e à parca potencialidade dos solos da serra para a agricultura. Não nos parece descabida, contudo, a hipótese de terem coexistido com estes espaços outros núcleos de menor envergadura, que se desconhecem.
Época Romana veio alterar a estratégia de ocupação do espaço
A Época Romana tem sido atribuída uma alteração nas estratégias de ocupação do espaço, em estreita associação com o desenvolvimento da exploração agrícola. A área entendida entre a serra de Montemuro e o Douro não parece fugir a esta "regra", apesar da interioridade vincada, verificando-se, por um lado, a continuidade ocupacional de recintos fortificados pré- existentes, por outro, o desenvolvimento de assentamentos em zonas de chãs, bem irrigadas e de solos propícios à actividade agrícola.
Vale da Bestança pode ter sido usado com um eixo romano
O vale rectilíneo do Bestança vê enfatuada a sua importância como zona de passagem natural, de acesso ao Douro. Por aqui seguiria um presumível eixo romano que, vindo de Viseu, por Castro Daire, atravessaria o Douro em Porto Antigo, dirigindo-se para Tongobriga (Marco de Canaveses), onde prosseguiria para Bracara e Aquae Flaviae (Correia, Alves, Vaz 1995: 121-123; Dias 1997: 283, 321, 322 e Pinho 1996: 12; 1998: 30).
Uma outra via, vinda do vale do Paiva, por Arouca, atravessaria o Douro em Escamarão, dirigindo-se para Penafiel (Idem 2000c: 26). Em estrita associação com o importante eixo viário estão os esparsos vestígios identificados no Vale do Bestança, de onde se destaca, pela imponência e dominância da implantação, o romanizado Monte das Corôas (Anexo II, 1: 22). O morro ostenta evidências de ocupação intensa no Alto Império (que parece balizar-se entre os séculos I e II d. C.), tendo-se recolhido, em trabalhos de limpeza e prospecção, fragmentos de elementos arquitectónicos, espólio cerâmico e vítreo que levam Luís Pinho a considerar o assentamento como castellum.
Passíveis de se reportarem a estabelecimentos de menor envergadura, refiram-se os vestígios esparsos de tegula, vulgo atribuíveis ao período romano, em Rabelinha (Tendais, Anexo II, 1: 113), Ribeiro Santo (Bustelo, Anexo II, 1: 80) e Aliviada (Cinfães) (Pinho 1998: 31; 2000c: 27).
Já fora da área do Bestança, parece ter sucedido ao Castro de Sampaio (S. Cristóvão de Nogueira) processo afim ao do Monte das Corôas, estando-lhe associado importante espólio ceramológico e, sobretudo, arquitectónico e epigráfico (Ibidem: 26 e 27).
Os vestígios identificados na Quinta da Chieira (Cinfães), Sequeiro Longo, Ressurgida e Passos (Tarouquela) são passíveis, por sua vez, de se relacionar com uma concepção distinta do espaço, voltada para uma exploração mais intensa de vastas áreas agrícolas, aparentando, também, ter como eixo organizador a via transversal que ligava as duas estradas que atravessariam o Douro, pelos vales do Paiva e do Bestança.
O assentamento romano de Passos (Tarouquela), compreendido numa diacronia lata, parece ter tido uma ocupação romana entre os séculos I e IV d.C. (Idem 2000b: 173, 174). Estaria associado, por sua vez, à exploração de uma fértil veiga sobranceira ao Douro, considerando-se, pela presença e densidade de elementos arquitectónicos e epigráficos de relevo, ter tido o estatuto de vicus (Silva, Cunha 1988-1994: 331; Almeida 1993; Pinho 2000c: 28; Pinho, Lima, Correia 1999: 18).
As escavações arqueológicas desenvolvidas na Quinta Chieira (que resultariam na identificação de ampla área de armazenamento, compartimentada e com abundantes fragmentos de grandes contentores, interpretada como integrante da pars rustica de uma villa) e em Sequeiro Longo parecem enquadrar-se, pelo espólio exumado, entre os séculos III e V (Pinho 1996: 11; 1998: 32, 52 e 2000a: 173; 2000c: 29; Pinho, Lima, Correia 1999: 19).
Eixo romano do vale do Paiva
Em relação com o eixo romano que seguiria pelo vale do Paiva, mencionem-se os vestígios de Vilela (Souselo), associados a um espaço termal, remontantes, também, ao Baixo-Império e que poderão retratar um assentamento do tipo villa ou mesmo mutatio (Pinho 2000c: 28, 29). Não muito longe, seria identificada, fortuitamente, a sepultura de incineração de Cancelhô (Souselo), composta por estrutura parcialmente escavada na rocha e por lajes de granito. O espólio associado integra-a em cronologia afim aos vestígios de Vilela (Silva, Cunha 1988-1994: 330, 331; Pinho, Lima, Correia 1999: 19)66.
Tomando em consideração o acima exposto, parece a presença romana na área montemurana ter na acção de reordenamento territorial augustana importante marco cronológico (Ibidem: 20; Pinho 2000c: 24). Integraria o espaço, então, a província da Lusitânia, estando possivelmente adstrito à civitas dos Paesuri, cuja documentação epigráfica sugere abranger a área de Resende."32 (Ramos, 2012)
A Serra de Montemuro na Idade Média
Período da Antiguidade Tardia sucedeu à desagregação do Imperio Romano
"O período entendido por Antiguidade Tardia (séculos V a VIII) tem vindo a ser considerado dentro de uma dinâmica de continuidades e rupturas na concepção do espaço antropizado, que estariam associadas, por um lado, à paulatina desagregação da estrutura administrativa de influência romana, mercê da dissolução do Império, por outro, pelo fluxo de povos vindos da Europa Central e de Leste, que culminaria na emergência das novas monarquias, sueva e visigótica (Barroca 1990-1991: 90 e ss.; López Quiroga 2004: 37-49, Martín Viso 2009: 109, 110).
Desconhecendo-se indícios claramente reportados a este período, para o entorno da nossa área de estudo, parece-nos plausível a persistência ocupacional dos assentamentos acima mencionados. Julgamos que novos trabalhos nos estabelecimentos de Passos, Chieira, Sequeiro Longo e Vilela poderão resultar na identificação de níveis mais tardios. Também os espaços fortificados, passíveis de terem origem na Proto-História, do Monte das Coroas e do Castro de Sampaio poderão ocultar vestígios ocupacionais tardios.
Durante os séculos VIII e XI aqui era a fronteira entre o domínio muçulmano e monarquias do norte
No período entendido entre os séculos VIII e XI, a área compreendia-se na ténue fronteira que separava o território de domínio muçulmano, das monarquias cristãs do N peninsular (Barroca 2004: 192; Catarino 2005: 196; Lima 1999: 403; 2000: 58; 2008: 171-173).
Seria, então, após o primeiro avanço da fronteira cristã além Douro, conseguido na sequência das presúrias de Porto, Chaves e Coimbra, que a área entre o Douro e Montemuro figuraria na documentação alto-medieval (Barroca 2004: 182-184; Lima 2000: 36).
As ditas presúrias teriam como resultado uma organização da área sob o domínio da monarquia asturo-leonesa em extensos territoria, designados com o intuito de manterem a estabilidade e segurança do espaço assignado, a que se tem associado uma concomitante promoção do povoamento (Idem 1993: 30; 2010-2011: 84, 85).
A compreensão do maciço de Montemuro num território específico parece ser de difícil designação, à luz da documentação coeva. Não se descurando a possibilidade da área integrar o territorium de Anegia" (Ibidem: 34), aponta-se para a hipótese de ter constituído espaço de fronteira entre Anegia, a O, e Lamego, a E (Idem 2008: 168, 172)74. Surgem, ainda, na diplomática alto-medieval, menções ao territorium Geronzo, que se identifica com paisagem humana.
Permitindo a passagem do Douro em Porto Antigo, Escamarão e Mourilhe (Idem 2000: 44; 2010-2011: 86; Pinho, Lima, Correia 1999: 29, 35), estariam ligados por uma rede de percursos transversais, que nos é dada a conhecer, maioritariamente, pelas pontes subsistentes, mais tardias, de traça medieval, de Louredo (sobre o Sampaio), para a nossa área de estudo, de Soutelo (associada a caminho lajeado que passaria por Vila Boa, Soutelo, Quinhão e Meridãos) e de Covelas (relacionada com o eixo que, vindo de Ferreiros, passa por Covelas, seguindo para Vila de Muros), ambas sobre o Bestança.
Espaços fortificados das Portas de Montemuro remontam à segunda metade do século X
Assim, susceptíveis de associar à defesa e vigia do corredor do Bestança, têm-se considerado os espaços fortificados das Portas de Montemuro (Alhões, Anexo II, 1: 85) e Perneval (Tendais, Anexo II, 1: 127), remontando-se o primeiro a momento prévio à segunda metade do século X, com base na presença da expressão Muro Fracto na documentação de então. Para além destes, refira-se o Castelo de Aguiar (Ramires, Anexo II, 1: 77), estrategicamente implantado nas serranias montemuranas, contíguo ao eixo supra mencionado.
Também de origem antecedente à estrutura castelar das terrae, mencionem-se os montes Gavano (em Souselo), Sancto Felice (Nespereira), Ortigosa (Moimenta), entre outros, que, figurando na documentação alto-medieval, poderão tratar-se de estruturas defensivas erguidas pelas populações (Lima 2000: 56, 57) 80.
De espinhosa atribuição cronológica, mas enquadrados no período lato vulgo designado de "reconquista" são os sepulcros escavados na rocha conhecidos para a área, de que valem a pena mencionar a necrópole de Sampaio, a sepultura de Seara (S. Cristóvão de Nogueira, Ibidem: 53, 54; Barroca 1987: 166) e a sepultura antropomórfica de Cabanas (associada a possível habitat, Pinho 1998: 58).
Para a zona entre a serra e o médio Bestança, refiram-se as sepulturas da Rabelinha, Ladário, Trapaçal (Tendais, Anexo II, 1: 113), Sarabigo, Ramires (Ramires, Anexo II, 1: 73, 74) e Gralheira. Sem vínculo aparente a templo, estes sepulcros têm vindo a ser interpretados no quadro de um povoamento esparso, voltado para a exploração ponderada dos recursos pastoris e agrícolas, apartada dos principais eixos de circulação, "fontes de medo e insegurança" (Lima 2000: 54).
Também escavadas na rocha e sujeitas a cronologias latas, mencionem-se as cavidades que, simples, ou ostentando entalhes e nichos, se podem compreender neste período. Conhecem-se destes vestígios em Sampaio, Peso (São Cristóvão de Nogueira), Pinheiro, Travassos (Cinfães), Ervilhais, Pindelo (Nespereira), entre outros (Pinho 1998: 66, 67; Lima 2000: 50).
Para a área que nos ocupa, em Alto de Cabanas, Monte das Corôas/Cabouco, Aldeia, Castro Cio (Ferreiros: Anexo II, 1: 14, 22, 23 e 40) Soutelo, Fermentãos, Cimo de Vila e Granja (Tendais, Anexo II, 1: 105, 118, 119, 121). Interpretadas ou como eremitérios cristãos, ou como espaços habitacionais (Ibidem; Idem 2010-2011: 100; Pinho 1998: 41, 42), estas estruturas carecem de espólio arqueológico associado, passível de elucidar sobre a cronologia da sua construção.
A fronteira a sul do Mondego foi estabilizada segunda metade do século XI
A estabilização da fronteira a S do Mondego, conseguida, na segunda metade do século XI, por Fernando o Magno, resultaria no acelerar da fragmentação dos vastos territoria em terrae. Tendo no castelo "cabeça-de-terra" a estrutura defensiva principal, incorporariam outros espaços (que poderiam ou não ser dotados de fortificação), destinados à vigia/controlo da terra e dos principais eixos de circulação (Barroca 1990-1991: 120, Lima 1993: 47, 1999: 402).
Tem-se, então, notícia da existência das terrae de Sancto Salvator (S. Cristóvão de Nogueira) em 1070, e Sancto Felice (Sanfins), em 1091, remontando à segunda metade do século XI e meados do século XII as menções a alguns dos núcleos populacionais que ainda hoje subsistem.
A área serrana seria tardiamente abarcada por este esforço organizativo. De facto, para o espaço de que nos ocupamos, apenas pelo século XII teríamos notícia documental das terrae de Tendales e Ferrarios (infra 5.1.1.).
Associadas aos senhorios, mas de difícil caracterização, dado o desconhecimento da estrutura e/ou sua destruição, são as residências preservadas na toponímia, na memória popular ou mesmo na documentação pós-medieval. São disso exemplo Cosconhe (de Egas Moniz, em Santiago de Piães) e Torre de Chã (em Ferreiros, Anexo II, 1: 69) (Ibidem: 66).
A Serra de Montemuro pode ter integrado o território diocesano de Portucale
Paralelamente à organização do espaço em terrae, desenvolver-se-ia a reestruturação das dioceses e da respectiva trama paroquial. A área parece ter integrado o território diocesano de Portucale e a diocese de Lamecum.
Seria por então que os templos cristãos se assumiriam como pólos de organização das comunidades rurais, tendo-se notícia das igrejas de S. Martinho de Fornelos, de S. Pelágio e de S. João de Cinfães. Vestígios esparsos indiciam, também, a presença de templos paroquiais passíveis de remontar aos séculos XI/XII em S. Cristóvão de Nogueira, Ervilhais e Nespereira (Ibidem: 51, 52).
No momento de (re)organização paroquial podemos enquadrar os sarcófagos monolíticos, como os de Pias (Cinfães, Pinho 1996: 14), de Souselo (Ibidem: 52, 54), de Bustelo (Anexo II, 1: 81) Azevedo 94, Quinhão (Tendais, Anexo II, 1: 87, 108) e Ferreiros (Anexo II, 1: 48), ostentando, alguns, decoração. Dos respectivos templos paroquiais teríamos notícia escrita nas Inquirições Afonsinas de 1258 (infra 5.1.2. e Anexo I, 2).
Pelo século XII, em intrínseca relação com os interesses patrimoniais eclesiásticos no vale do Douro, temos conhecimento do Mosteiro de Tarouquela, assim como do Couto de Vila Meã de Escamarão (Souselo), estando-lhes associados, também, sarcófagos monolíticos (Ibidem: 52-54).
É escassa a informação documental e arqueológica para esta área serrana
A escassa informação documental e arqueológica para a área serrana contrasta com a profusão de evidências respeitantes à área contígua aos vales do Paiva e do Douro. Instalado entre o profundo vale do Bestança e as serranias de Montemuro, este espaço parece ter sido olvidado pelos interesses patrimoniais laicos e eclesiásticos. O vazio documental não espelha, por certo, o vazio populacional destas áreas de montanha, tendencialmente consideradas como "espaço de fronteira, terra de ninguém, suficientemente agrestes e também suficientemente inseguras - para não serem muito atractivas para a formação de novas povoações" (Ibidem: 37).
É nas esparsas evidências de natureza arqueológica e nos próprios costumes das comunidades actuais, transmutados pelo evoluir dos tempos, que vamos encontrar indícios ténues da antropização do espaço montemurano passíveis de filiar aos alvores da Idade Média."32 (Ramos, 2012)
Ficha técnica da Serra de Montemuro
- Localização:
- "Serra de Montemuro integra o sector ocidental do Maciço Antigo/ Hespérico, especificamente, a Zona Centro Ibérica"32 (Ramos, 2012)
- "A Serra de Montemuro situa-se nos concelhos de Arouca, Cinfães, Resende e Castro Daire e Lamego (distrito de Viseu) e entre as regiões do Douro Litoral e da Beira Alta. A altitude média é de 838 metros. Está compreendida entre o rio Douro, a Norte e o rio Paiva, a sul, confina com a cidade de Lamego."12
- Estas montanhas estão situadas entre as regiões do Douro Litoral e da Beira Alta e fazem parte do Maciço da Gralheira, estando enclausurada a norte pelo rio Douro, e a sul pelo rio Paiva, onde confina com a cidade de Lamego;
- Concelhos e distritos: 05 concelhos e 02 distritos;
- Concelhos de Arouca, Cinfães, Resende, Castro Daire e Lamego, o primeiro do distrito de Aveiro e os restantes de Viseu.
- Elevação da serra: 1382 metros de altitude de constituição essencialmente granítica;
- "A Serra de Montemuro com 1382 metros de altitude de constituição essencialmente granítica "tem uma configuração nitidamente dissimétrica na direção norte-sul, sugerindo um balançamento da montanha para o Douro" (A. Brum Ferreira, 1978, in Vasconcelos et al, 2000, p.18).
- É a oitava maior elevação de Portugal Continental (com 1381 m de altitude no v.g. de Montemuro);
- "O ponto mais alto da serra é denominado por Talegre ou Talefe, a 1.382 metros de altitude. Toda a serra tem bastante relevo e é íngreme praticamente de todos os lados. A serra é povoada até cerca dos 1.100 metros de altitude, as aldeias encontram-se espalhadas por toda a serra, mas quase sempre perto de cursos de água, como o rio Bestança que a divide na direcção Sul-Norte."12
- Altitude média: 838 metros;
- A altitude média é de 838 metros, sendo o seu ponto mais alto denominado por Talegre ou Talefe, a 1.381 metros de altitude.
- Povoação da serra: A sua área é habitada até cerca dos 1.100 metros de altitude, encontrando-se as suas aldeias rurais bem preservadas, espalhadas por toda a serra, mas quase sempre perto de cursos de água, como o rio Bestança ou Cabrum que a divide na direção Sul-Norte;
- Geografia: Esta serra é conhecida pelo seu granito azulado, relevo agreste e encostas muito acentuadas;
- Clima da Serra de Montemuro: "Montemuro enquadra-se no clima de montanha, variante do clima atlântico, caracterizado por uma temperatura média inferior a 10°, de rigorosos invernos, longos e frios, com ocorrências elevadas de precipitação (chuva e neve), sempre superiores a 1500mm (podendo atingir os 2500/3000mm) e estios curtos, secos e frescos;
- As zonas acima dos 1000m de altitude são as que registam um clima mais vigoroso, com níveis de precipitação elevados e temperaturas mínimas inferiores a 00."32 (Ramos, 2012)
- Fauna da Serra de Montemuro: "Com a diminuição da altitude, diversifica-se a paisagem, mercê da multiplicidade de ambientes proporcionados pelo modelado granítico, que se compõe de pequenos lameiros e áreas de cultivo, nas zonas mais deprimidas, densas galerias ripícolas e bosques, propiciando o desenvolvimento de comunidades arbóreas, pontuadas pelas espécies nativas de carvalho roble, carvalho negral e castanheiro, bem como as manchas de eucaliptal e pinhal (Girão 1940: 57-62)."32 (Ramos, 2012)
- Vestígios arqueológicos:
- A nível histórico a mesma tem vestígios arqueológicos que remontam à pré-história, destacando-se as ruínas das Portas de Montemuro, cujo castro posteriormente terá sido reutilizado pelos romanos. Mais tarde, as suas muralhas foram aproveitadas durante a reconquista por D. Afonso Henriques;
- Escavações arqueológicas na Serra de Montemuro revelaram muitos achados da "metalurgia do Calcolítico e Idade do Bronze;
- Festas e romarias: Cinfães - Feira de Nespereira; Feira de S. Miguel (28 e 29 de Setembro, em Escamarão); Festa de S. João e a Feira das Portas do Montemuro;
- Classificações: Rede Natura 2000. Está classificada como BIÓTOPO CORINE, com designação de Serra do Montemuro/Bigorne;
- Rios:
- Rio Bestança;
- Rio Cabrum;
- Festas e Romarias da Serra de Montemuro
- Festa de São Pedro, em Julho:
- É uma festa realizada em plena Serra de Montemuro, durante dois dias e uma noite, é comum os indivíduos acamparem e participarem em atividades espontâneas. É uma iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Cinfães"34 (Fonseca V., 2015);
- Feira das Portas do Montemuro;
- ExpoMontemuro, em Julho:
- "É uma feira regional de artesanato, gastronomia e vinhos, agroindústria, desporto, aventura e música. Apresenta mais de cem expositores que mostram o que de melhor há no concelho. É uma iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Cinfães."34 (Fonseca V., 2015);
- Festa de São Pedro, em Julho:
Achados arqueológicos da Idade do Bronze na Serra de Montemuro
As escavações arqueológicas na Serra de Montemuro revelaram muitos achados da "metalurgia do Calcolítico e Idade do Bronze e áreas geográficas imediatas, identificáveis com o interflúvio Douro/Paiva e os planaltos centrais. O repertório de materiais conhecidos ascende a 13 objetos, que estudamos prestando especial atenção aos seus problemas de identificação, contextualização e composição química."30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018):
Em baixo são apresentados alguns dos achados mencionados no trabalho dos autores30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018), mencionado na bibliografia:
Créditos da foto:30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
- Machado plano do Corgo da Maga, (Moledo, Castro Daire);
- Machados planos de Ervilhais (Nespereira, Cinfães) e Orca de Seixas (Peravelha, Moimenta da Beira);
- Machados da Retorta (Souselo, Cinfães), Castro de Mondim da Beira (Mondim, Tarouca), Serra do Montemuro e molde bivalve de Vila Boa (Mões, Castro Daire);
- Machado da Serra do Montemuro;
- Lâmina com lingueta e gume serrilhado da Serra do Montemuro, (figura 9, acima exibida);
- Machado do Castro de Vila Cova-à-Coelheira (Vila Cova-à-Coelheira, Vila Nova de Paiva);
- Molde para machados de Vila Boa (Mões, Castro Daire);
Localização, acessos e Mapa da Serra de Montemuro
Localização da Serra de Montemuro
"A Serra de Montemuro situa-se nos concelhos de Arouca, Cinfães, Resende e Castro Daire e Lamego (distrito de Viseu) e entre as regiões do Douro Litoral e da Beira Alta. A altitude média é de 838 metros. Está compreendida entre o rio Douro, a Norte e o rio Paiva, a sul, confina com a cidade de Lamego.
O ponto mais alto da serra é denominado por Talegre ou Talefe, a 1.381 metros de altitude. Toda a serra tem bastante relevo e é íngreme praticamente de todos os lados. A serra é povoada até cerca dos 1.100 metros de altitude, as aldeias encontram-se espalhadas por toda a serra, mas quase sempre perto de cursos de água, como o rio Bestança que a divide na direcção Sul-Norte."12
Acessos à Serra de Montemuro
- A25 (Aveiro – Vilar Formoso), saída em Viseu e seguir na A24 em direcção a Lamego."12
Mapa da localização peninsular da Serra de Montemuro
Créditos da foto:30 (Cruz, Fernandes, Armada, Vilaça, 2018)
Património arquitetónico em destaque na Serra de Montemuro
Ruínas das Muralhas das Portas de Montemuro
Descrição das ruínas das muralhas das Portas de Montemuro
"Conhecidas também por "muro", supõe-se que as muralhas das portas sejam vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro (1200 a. C.), pertencente ao período da cultura castreja. Posteriormente foi utilizado na época romana e, mais tarde, pelas forças de D. Afonso Henriques nas batalhas da Reconquista."9
"As ruínas da Muralha das Portas do Montemuro é um sítio arqueológico e está considerado como Imóvel de Interesse Público desde 1974. A estação arqueológica é partilhada com o concelho de Cinfães. No século XIII já era mencionado nas Inquirições de 1258. Segundo vários autores, o sítio apresenta parcos vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro, podendo-se considerar como fazendo parte da cultura castreja.
Posteriormente, o Castro terá sido reutilizado pelos romanos e durante a Reconquista por D. Afonso Henriques (alguns dos terrenos cincundantes terão pertencido a Egas Moniz).
As primeiras referências ao topónimo Portam de Muro surgem no século XIII, no foral que Egas Gosendes concedeu à Vila de Bustelo. Portas refere-se a um ponto de passagem e Muro à muralha do povoado. Também era designado pelos pastores e caçadores como Muro das Portas ou apenas Muro. Existe uma capela perto do local que apresenta características adoptadas pela religião cristã dos locais sagrados ou supostamente sagrados da época pagã."7
Como chegar às antigas ruínas das muralhas das Portas de Montemuro
As ruínas das antigas muralhas das Portas de Montemuro não são facilmente localizadas e não existe sinalização informativa. A nossa equipa teve algumas dificuldades em encontrar os seus antigos vestígios. Nós vamos ajudá-lo a encontrar este local na esperança de que se os for visitar respeite estes vestígios dos nossos antepassados, não danificando as mesmas nem trazendo recordações, só boas memórias e fotografias.
Para chegar a este local que tem como ponto de sinalização as Portas de Montemuro, deve subir uma estrada, junto a um entroncamento com a EN 321, que segue em direção ao Parque Eólico da Carvalhosa. Depois de percorrer cerca de 600/800 metros, a seguir a uma curva à direita, irá ver as ruínas ao fundo do lado direito. A nossa equipa depois de uma procura prolongada, só as localizamos ao longe com ajuda dos nossos binóculos.
Depois de as identificar este local pode estacionar o seu transporte e percorrer o caminho de forma fácil caminhando pelo do planalto até ao local. As pessoas que não são amantes da história poderão julgar que apenas se trata de um amontoado de pedras, no entanto foi assim que os antigos povos começaram por viver em castros, com muralhas para se defender e cujo um dos maiores exemplos e mais bem preservado fica situado no norte do país, Citânia de Briteiros - Guimarães.
Mapa de localização das antigas ruínas das muralhas das Portas de Montemuro
Miradouros em destaque na Serra de Montemuro
Miradouro da capela do Senhor do Amparo
"Situado a 1220 m de altitude, perto da capela do Senhor do Amparo, este local, de vistas privilegiadas sobre o vale do Bestança, insere-se na área pertencente à Rede Natura 2000. Em termos paisagísticos é possível observar uma vasta área granítica, bem como um fenómeno designado de metamorfismo por contacto, que consiste na passagem da rocha granítica para xisto, criando uma auréola metamórfica."1
Localização do Miradouro das Portas de Montemuro
- Alhões, Cinfães;
- Coordenadas GPS: 40,966703, -8,009359000000018;
- Estrada Nacional 321. Se vier no sentido Viseu - Cinfães, depois duma extensa subida irá encontrar do seu lado esquerdo umas bombas de combustível com restaurante. Este miradouro fica localizado do lado direito. Do lado esquerdo há outro miradouro, com bancos para melhor apreciar a esplêndida paisagem e uns binóculos fixos.
Miradouro das Portas de Montemuro - Cinfães
"Situa-se na área da Serra do Montemuro, perto da capela das Portas do Montemuro, na área mais plana que se encontra junto à estrada nacional 321. Este Miradouro está inserido na área pertencente à Rede Natura 2000, no maciço granítico hercínico correspondente à serra. Em termos paisagísticos é possível observar uma vasta área granítica da Serra, bem como um fenómeno designado de metamorfismo por contacto que consiste na passagem da rocha granítica para xisto criando uma auréola metamórfica.
Esta passagem de um tipo de rocha para outro origina uma relativa mudança na forma de evolução dos relevos, isto devido à natureza diferente da rocha, e logo uma mudança na paisagem, valorizando este local em termos de paisagem observada.
O ponto de miradouro localiza-se a cerca de 1220 m de altitude, sendo este o que se localiza na altitude mais elevada. Assim, apresenta o maior ângulo de visão, sendo possível observar uma vasta área do concelho, a Serra do São Macário e, em dias com condições metereológicas favoráveis, a silhueta do maciço granítico da Serra da Estrela. Contudo, existe nas proximidades outros pontos onde se consegue obter bons ângulos de visão – no sentido noroeste, as elevações um pouco mais afastadas da capela das Portas de Montemuro e o vértice geodésico do Montemuro.
Ambos os locais com altitudes que ultrapassam os 1300m.
Saíndo da Vila de Castro Daire deve seguir a EN 2 em direcção a Lamego até ao cruzamento com a EN 321 em direcção a Cinfães. O Miradouro encontra-se no cimo da Serra de Montemuro do lado esquerdo da EN 321, em frente à Capela aí existente."6
Pontes em destaque na Serra de Montemuro
Ponte de Covelas - Vale da Bestança - Cinfães
"Mandada construir em 1762 pelo padre Diogo de Sequeira e Vasconcelos, conforme refere a inscrição no medalhão existente a meio da travessia, no remate das guardas do lado norte, esta ponte sobre o Rio Bestança era ponto de passagem para os povos que se deslocavam entre Tendais e Porto Antigo. Descubra a Ponte de Covelas através do percurso pedestre Caminho do Prado - PR1."3
"Edificada sobre o límpido rio Bestança, esta bela ponte de estilo barroco imita pontes românicas como a de Pias (já desaparecida) e a que existe sobre o rio Cabrum. Na sua arquitetura destaca-se o tabuleiro em cavalete assente num único arco e o medalhão no centro da estrutura.
Construída no ano de 1762 a mando do padre Diogo de Sequeira e Vasconcelos, durante muitos anos a Ponte de Covelas foi um importante ponto de passagem das populações do vale do Bestança, principalmente entre Tendais e Porto Antigo. Atualmente é parte integrante do percurso pedestre PR1 Caminho do Prado, percurso que atravessa frondosos carvalhais, prados, ribeiros, fragas e outras belezas deste vale."14
Mapa da Ponte de Covelas - Vale da Bestança - Cinfães
Créditos da foto: Rota da Água e da Pedra - Montanhas Mágicas
Ponte de Soutelo - Vale da Bestança - Tendais - Cinfães - Viseu
Antiga via entre Emérita Augusta (Mérida) e Bracara Augusta (Braga)
"Antiga via que servia a descida da Serra do Montemuro em direção ao Douro, e que tem vindo a ser interpretada como parte de um importantíssimo itinerário romano entre duas capitais: Emérita Augusta (Mérida), e Bracara Augusta (Braga)."6
Características técnicas da Ponte de Soutelo
"Ponte em granito lançada sobre o rio Bestança, de um arco de volta perfeita, medindo 9 m de diâmetro; piso de cavalete, com 2,5 m de largura (face interior das guardas); piso lajeado com blocos e lajes de grandes dimensões; guardas de ambos os lados, formadas por blocos e lajes, com talhe grosseiro, dispostas segundo o lado maior; os elementos em falta foram restaurados com cimento (parte central da ponte).
Ponte de Soutelo da Idade Média
Segundo o autor deste verbete constante do sítio Portal do Arqueólogo, Domingos de Jesus da Cruz (que efetuou prospeção em 2005), data a ponte de Soutelo como obra da Idade Média.
Créditos da foto: turismo.cm-cinfaes.pt
"Atente-se ao que autor anónimo escreveu no jornal cinfanense a Justiça, de 1892, e repare-se no nosso sublinhado:
Soutello é uma pittoresca povoação da freguezia de Tendaes, situada na margem direita do rio Bestança. Habitada por um povo laborioso, ha muito que tem sido completamente esquecida dos municipios, que no partilhar do dinheiro destinado a viação pública, a tem deixado ao mais completo abandono; por isso os caminhos são em grande parte, intransitaveis, e como a povoação está separada do resto da freguezia pelo Bestança, difficeis se tornam as comunicações, sendo necessário, ás vezes, dar grandes voltas, para tomar a unica ponte que a liga á freguezia.
Ha talvez 20 annos que nada se faz em beneficio d’esta importante povoação, e apenas ha menos de um anno, a camara mandou alli fazer um pequeno concerto (sic) n’um caminho, o que é muito pouco para as necessidades da povoação, e para o que é justo e equitativo.
A freguezia de Tendaes, cortada por differentes ribeiros, contem em si umas seis ou sete pontes, algumas importantes, sendo curioso que sómente uma fosse mandada construir pelo municipio: a de Enxidró [sic], situada sobre o ribeiro Fervença, construida de pedra, notavel por ligar a freguezia de Tendaes á de Sinfães.
A não ser esta, e uma compostura feita o anno passado, na ponte que liga esta freguezia a Bustello, todas as outras são devidas a expensas de particulares; assim, a importante ponte chamada a Nova, ou de Covellas, que une Tendaes a Ferreiros, e mede 36 metros de cumprimento por 3 de largo, foi mandada fazer em 1762, por Diogo de Sequeira Vasconcellos, natural de Covellas. A ponte da Sadorninha também de pedra, sobre o riacho da Egreja, que une os 2 povos de Meridãos e Quinhão, foi feita pelos proprietários de Tendaes, ignoramos a epocha.
O povo de Quinhão mandou fazer sobre o mesmo ribeiro, em 1840, uma ponte de madeira para sua servidão, a qual mais tarde, foi reformada e feita de pedra. Em 1842 foi também construida a expensas do povo de Soutello, Granja e Cabo de Tendaes, uma ponte de madeira sobre o Bestança, sendo mais tarde substituida por uma ponte de pedra, que lá existe actualmente. Sobre o ribeiro de Fadazes, perto de Chã, foi tambem em 1842, construida uma ponte de madeira, pelo povo de Soutello, que está hoje muito velha.
D’esta relação, que não garantimos ser completa, se vê que o municipio concorreu apenas com a menor parcella: e, todavia, a freguezia de Tendaes, e por tanto o povo de Soutello, todos os annos tem pago para o municipio as contribuições que lhe são devidas.
Não é por isso de mais que agora a camara municipal contemple de algum modo aquelle desprotegido povo; ha muito que elle vem fazendo sentir a urgente necessidade de uma ponte sobre o Bestança, que, perto de Chã, os una a Tendaes; esta ponte é de grande utilidade não só para o povo de Soutello, mas também para o da parte norte de Tendaes, que para passar áquella povoação, ou para Bustello e mais freguezias da serra, com carro, tem de dar uma grande volta, que não daria se esta ponte existisse. E o que se diz da parte norte de Tendaes póde dizer-se com egual razão da freguezia de Sinfães.
Este periodico apezar de politico, advoga, como sempre tem feito, os interesses dos povos, quando justos, os quaes põe em primeira plana, e superiores a toda a politica. Recommendando pois, á vereação municipal a mencionada ponte quando o estado do seu thesouro o permitta, não fazemos mais do que cumprir o nosso dever; assim como não regatearemos elogios a quem concorrer para o bem d’este concelho, por meio de melhoramentos julgados necessarios, seja grego ou seja troyano o auctor d’elles."12
Património religioso em destaque na Serra de Montemuro
Santuário de Nossa Senhora do Monte - Alvarenga - Arouca
"Ao visitar a freguesia de Alvarenga, deverá aproveitar a oportunidade para conhecer o Santuário de Nossa Senhora do Monte. Trata-se de um local agradável, com um santuário religioso dedicado à Senhora do Monte, um parque de merendas e, sobretudo, uma vista privilegiada sobre Alvarenga.
Há uma festa dedicada a Senhora do Monte, realizada a 8 de setembro. Neste espaço magnífico do Santuário também existe um parque de merendas, onde poderá desfrutar de um piquenique, com uma paisagem absolutamente incrível. O local é de fácil acesso e poderá fazê-lo de carro.
Ao visitar a Capela da Senhora do Monte, que se situa nos limites do concelho de Arouca, poderá aproveitar para ir ao concelho vizinho de Cinfães, à Capela de São Pedro do Campo. Ainda em Alvarenga, aproveite para visitar a Carreira de Moinhos."17
Capela da Senhora do Amparo - Portas de Montemuro
"Localizada nos limites do concelho de Cinfães, na parte mais elevada do mesmo, esta capela teve origem num nicho com imagem de Nossa Senhora do Amparo, ao qual começavam a acorrer peregrinos, aumentando significativamente o número de devotos.
Foto: Créditos Visit Arouca13
Em 1758, a população da aldeia de Alhões constrói no mesmo local uma capela. Hoje em dia esta é apenas utilizada para celebrar a eucaristia no dia em que aqui se realiza a feira anual, no terceiro domingo de Agosto. Devido à sua localização, há já alguns anos que esta capela não possui qualquer imagem no seu interior, pois todas as que aí se encontravam foram furtadas."8
Capela de São Pedro do Campo - Arouca
"Nos limites territoriais de Arouca com Cinfães, a 1100 metros de altitude, no vale do Bestança, entre as serras da Gralheira e do Montemuro, encontramos a Capela de S. Pedro do Campo. É um lugar enigmático, de beleza ímpar e que merece uma visita.
Trata-se de um monumento religioso, cujos primeiros registros escritos datam do início do século XVIII. Nestes, fazem-se referências a uma estrada medieval e a uma feira, sendo expectável que, nessa altura, a capela já existisse.
Devido à pureza dos seus ares, serviu, também, para tratar a tuberculose, pelo que a casa junto à capela – construção do século XIX – pode ter também servido para abrigo de doentes ou de passantes ocasionais, em complemento do apoio do culto.
Dedicada a São Pedro, apóstolo de Cristo, a população procuraria aqui proteção divina para as colheitas de trigo, face às condições rigorosas do planalto. Este local merece uma visita, devido à natureza envolvente, ao edifício com um caráter místico e à sua localização. O acesso é fácil, podendo ser feito de carro."13
Património natural em destaque na Serra de Montemuro
Classificações da Serra de Montemuro
"A Serra de Montemuro, faz parte da 1ª fase da lista nacional de sítios da Rede Natura 2000. Está classificada como BIÓTOPO CORINE, com designação de Serra do Montemuro/Bigorne.
Na descrição que o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) faz, destaca-se a grande biodiversidade, resultado do bom estado de conservação dos vários tipos de habitat que aí se encontram representados – alguns deles de considerável valor conservacionista, como as turfeiras activas (habitat prioritário) e mais concretamente a vasta comunidade de vertebrados, da qual fazem parte inúmeras espécies com estatuto de ameaça, como, por exemplo, o lobo (Canis lupus)."12
Vale da Bestança
"O Vale do Bestança, integrado na Rede Natura 2000, caracteriza-se pela sua importância ecológica nacional e pelo exponencial valor que representa a nível internacional.
O Centro de Interpretação, perfeitamente enquadrado com a envolvência natural, funcionará como uma montra para a linha do vale e para o rio que lhe dá o nome."2
Fauna do Vale da Bestança
"As Portas do Montemuro situam-se na parte mais alta da serra, e apresentam características muito particulares devido às rigorosas condições atmosféricas aqui registadas. Neste local, no meio de pedras e penedos das mais variadas formas, pode-se encontrar diversa flora peculiar e rara, como o narciso-das-asturias, endemismo ibérico protegido que surge em serras do norte peninsular de maior altitude, e que aqui brota pontualmente em fissuras entre as rochas com maior humidade.
Também espécies endémicas florescem nesta paisagem, como a margarida-das-rochas, a caldoneira e o pólio-das-rochas. Relativamente à fauna, nestas duras condições podemos observar espécies como o sardão, a víbora-cornuda, o peneireiro ou o raro melro-das-rochas."9
"A diversidade faunística do rio e do vale do Bestança é um dos pilares mais importantes da sua composição ecológica.
- Actualmente estão inventariados quatro grandes grupos de vertebrados:
- HERPETOFAUNA: Anfíbios e répteis;
- AVIFAUNA: Aves terrestres, rupícolas e ribeirinhas;
MAMÍFEROS TERRESTRES: Micromamíferos (roedores e insectívoros) e macro-mamíferos (ungulados artiodáctilos, lagomorfos e carnívoros); - QUIRÓPTEROS: Morcegos."2
- Animais e insetos em destaque:
- Borboleta Apatura-pequena;
- Salamandra-lusitânica;
- Melro-de-água;
Flora do Vale da Bestança
"Nas galerias ribeirinhas domina o amieiro, surgindo também o freixo, a aveleira e, pontualmente, a zêlha, planta rara por estas paragens. Destacam-se também a protegida salamandra-lusitânica, o tritão-de-ventre-laranja e o arisco melro-de-água. Ao longo do vale são muitas as ribeiras que desaguam no Bestança; a ribeira de Enxidrô é uma delas, na qual está presente uma impressionante cascata com cerca de 25 metros."15
Rio Bestança - Cinfães
"O vale do Rio Bestança nasce na Serra de Montemuro, junto às Portas de Montemuro, a uma altitude de cerca de 1.230 metros. Esta área montanhosa caracteriza-se pelo relevo acidentado, de constituição essencialmente granítica, definindo-se o vale do Bestança como profundo e encaixado. Seguindo a direção Sudeste/ Noroeste (SSE/NNV) até ao Rio Douro, este vale apertado e quase rectilíneo, apresenta acentuados declives na ordem dos 300-400 metros, numa extensão total de aproximadamente 15km, sempre no concelho de Cinfães."2
"Considerado um dos rios mais limpos da Europa, o Bestança nasce junto às Portas do Montemuro desaguando em Porto Antigo. Ao longo do vale do Bestança é possível contemplar uma grande diversidade de habitats e espécies, muitas delas endémicas e protegidas. A protegida tigra-da-das-florestas, a apatura-pequena ou a borboleta almirante-branco são três espécies de invertebrados que por aqui se podem observar."15
Linha M - Montemuro - Rota da Água e da Pedra - Montanhas Mágicas
Descrição da Linha M - Montemuro - Rota da Água e da Pedra - Montanhas Mágicas
"Local de passagem milenar, as Portas do Montemuro são um ponto privilegiado para observação da morfologia e da paisagem da serra do Montemuro. A sul, com encostas declivosas, pode-se observar o vale do Paiva e avistar algumas das serras do centro de Portugal, como a serra da Estrela, o Caramulo e o maciço da Gralheira. A norte destaca-se o espetacular vale de fratura do rio Bestança que nasce aqui perto, estendendo-se na paisagem até desaguar no Douro, bem como as serras do Gerês e Marão. Neste local encontra-se erigida a capela da Nossa Senhora do Amparo, construída em 1758, assinalando um lugar de culto de vários séculos."9
Pontos de interesse na Linha M - Montemuro
- M1 - Senhora do Castelo;
- M2 - Carreira de Moinhos de Alvarenga;
- M3 - Minas da Fraga da Venda;
- M4 - São Pedro do Campo;
- M5 - Minas de Moimenta;
- M6 - Cascata da Tojosa;
- M7 - Portas do Montemuro;
- M8 - Pedra Furada de Falfa;
- M9 - Pico do Talegre;
- M10 - Gralheira;
- M11 - Planalto do Balsemão;
- M12 - Mata do Bugalhão;
- M13 - Cascata da Pombeira;
- M14 - Moura Morta;
- M15 - Vale do Varosa;
Fauna e Flora em destaque na Linha M - Montemuro
- Margarida-das-rochas;
- Peneireiro;
- Narciso-das-asturias;
- Centaurea;
- Genciana;
- Pólio-das-rochas;
Mapa da Linha M - Montemuro
Linha B - Bestança - Rota da Água e da Pedra - Montanhas Mágicas
- B1 - Miradouro de Teixeirô;
- B2 - Porto Antigo;
- B3 - Ponte de Covelas;
- B4 - Cascata da Ribeira de Tendais;
- B5 - Fragas da Panavilheira;
- B6 - Eiras da Lage;
- B7 - Vale da Fratura do Bestança;
O que visitar nas Portas de Montemuro - Cinfães
Miradouros nas Portas de Montemuro
Junto às Portas de Montemuro pode-se observar a paisagem soberba através de dois miradouros, um voltado para oeste e onde se pode usar uns grandes binóculos fixos para perscrutar o horizonte. Aqui existem também bancos em madeira para se sentar e descansar absorvendo toda a beleza da paisagem. Se pretender saber mais sobre o local existem painéis informativos da Linha M - Montemuro - Rota da Água e da Pedra - Montanhas Mágica, perto deste local.
Do lado oposto, voltado para Leste, junto à Capela do Senhor do Amparo, pode-se observar a riqueza do Vale da Bestança. Aqui neste ponto começa/acaba o PR2 - Rota do Vale da Bestança. Se pretender fazer este percurso pedestre a descer, cujo traçado tem a forma linear, deve aqui começar, mas arranjar forma de deixar o seu transporte no final na Vila de Muros. Este trilho é muito extenso, tendo cerca de 18 km e a subir exige algum tempo e esforço.
Pontos de interesse nas Portas de Montemuro
- Capela da Nª Srª do Amparo;
- Miradouro junto à Capela da Nª Srª do Amparo;
- Miradouro da Serra de Montemuro;
- Muralhas das Portas de Montemuro;
- Percursos pedestres:
- GR47 - Grande Rota de Montemuro;
- Fim/Início do PR2 - Rota do Vale - Cinfães;
- Placas com informação das distâncias cadeias montanhosas:
- Peneda-Gerês - 108 km;
- Serra da Estrela - 121 km;
- Serra Nevada - 744 km;
- Picos da Europa - 449 km;
- Pirinéus - 809 km;
- Monte Branco - 1713 km;
Capela de Nª Srª do Amparo - Portas de Montemuro - Cinfães
"Localizada nos limites do concelho de Cinfães, na parte mais elevada do mesmo, esta capela teve origem num nicho com imagem de Nossa Senhora do Amparo, ao qual começavam a acorrer peregrinos, aumentando significativamente o número de devotos.
Em 1758, a população da aldeia de Alhões constrói no mesmo local uma capela. Hoje em dia esta é apenas utilizada para celebrar a eucaristia no dia em que aqui se realiza a feira anual, no terceiro domingo de Agosto. Devido à sua localização, há já alguns anos que esta capela não possui qualquer imagem no seu interior, pois todas as que aí se encontravam foram furtadas."8
Muro da Capela de Nª Srª do Amparo - Portas de Montemuro - Cinfães
A ladear a Capela de Nª Srª do Amparo - Portas de Montemuro - Cinfães, foi construído um alto muro em pedra para a salvaguardar dos elementos, mas que não a protegeu dos ladrões humanos que já a saquearam e roubaram imagens religiosas.
Ruínas das Muralha das Portas de Montemuro
Ruínas da Muralha das Portas do Montemuro considerado Imóvel de Interesse Público
"As ruínas da Muralha das Portas do Montemuro é um sítio arqueológico e está considerado como Imóvel de Interesse Público desde 1974. A estação arqueológica é partilhada com o concelho de Cinfães.
No século XIII já era mencionado nas Inquirições de 1258. Segundo vários autores, o sítio apresenta parcos vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro, podendo-se considerar como fazendo parte da cultura castreja. Posteriormente, o Castro terá sido reutilizado pelos romanos e durante a Reconquista por D. Afonso Henriques (alguns dos terrenos circundantes terão pertencido a Egas Moniz).
Portas de Montemuro já referidas no século XIII
As primeiras referências ao topónimo Portam de Muro surgem no século XIII, no foral que Egas Gosendes concedeu à Vila de Bustelo. Portas refere-se a um ponto de passagem e Muro à muralha do povoado. Também era designado pelos pastores e caçadores como Muro das Portas ou apenas Muro. Existe uma capela perto do local que apresenta características adoptadas pela religião cristã dos locais sagrados ou supostamente sagrados da época pagã"10
Portas de Montemuro situadas num local privilegiado da serra
"Pode considerar-se como uma cerca de cronologia incerta, situada num privilegiado ponto de passagem da Serra do Montemuro, com vista para o Douro, Bestança, Paiva, Marão e muito mais. A identificação funcional tem, contudo, sido um mistério ao longo das décadas, tendo já sido teorizado como castro, acampamento romano, castelo medieval e proteção ao gado - sempre, com base no aparecimento de algumas inscrições que surgem registradas pela população."11
Percursos pedestres em destaque na Serra de Montemuro
Ficha Técnica do PR1 - Caminhos de Montemuro - Alvarenga - Arouca4
- Ponto de partida/partida: Santuário da Senhora do Monte - Alvarenga;
- Distância: 19,00 km;
- Grau dificuldade: Médio/Alto;
- Duração: 6 a 8 h;
- Altitudes: Sr.ª do Monte (829 m)> Pedra Posta (1222 m)> Carvalhalva (700 m)> Sr.ª do Monte (829 m);
- Época aconselhada: Todo o ano deve-se ter em atenção que no Inverno, a Serra Montemuro fica sujeita a baixas temperaturas com queda de neve e formação de gelo, por vezes de imprevisto.
- Ler artigo completo: PR1 - Caminhos de Montemuro até Aldeia de Noninha (ondasdaserra.pt)
Ficha técnica do percurso pedestres PR2 - Rota do Vale - Cinfães
- Distância: 18,8 km;
- Início: Vila de Muros/Praça das Nespereira - Cinfães, sentido Norte/Sul;
- Coordenadas GPS: 41.042775, -8.061397;
- Duração: 6/8 horas;
- Tipo de percurso: Linear;
- Desnível acumulado:
- +1460 m;
- -650 m;
- Sentido aconselhado: Vila de Mouros - Portas de Montemuro (ascendente);
- Época aconselhada: O percurso pode ser efetuado em qualquer altura do ano, tendo os seus utilizadores que tomar algumas precauções por causa das elevadas temperaturas que se podem fazer sentir no Verão e ao piso escorregadio no Inverno;
- Pontes: 04;
- 1 madeira - Prado;
- 1 cimento - Prado;
- 1 medieval - Tendais;
- 1 pedra;
- Aldeias do Vale da Bestança:
- Vila de Muros;
- Valverde;
- Chã;
- Soutelo;
- Tendais;
- Imediações da aldeia de Granja;
- Bustelo;
- Alhões;
- Proteção do património natural e arquitetónico
- Vale da Bestança:
- Rede Natura 2000;
- "Paisagem de vertentes íngremes e declivosas, o vale é uma das mais belas experiências naturais. Pelo grau de conservação e importância do ecossistema, foi integrado na Rede Natura 2000, assumindo uma referência ecológica de exponencial valor."6
- Associação para a Defesa do Vale do Bestança;
- Rede Natura 2000;
- Ruínas da Muralha das Portas do Montemuro:
- As Ruínas da Muralha das Portas do Montemuro são consideradas Imóvel de Interesse Público;
- Vale da Bestança:
- Ler artigo completo: Rota do Vale da Bestança trilho dos mais belos de Portugal (ondasdaserra.pt)
Ficha técnica do PR8 - Trilho da Pombeira5
- Início/Fim: Igreja da N. Sr.ª dos Remédios em Lamelas - Castro Daire, também conhecida por Igreja Paroquial de Lamelas, GPS: 40°55'1.693"N: 7°56'27.492"W
- Âmbito: Elevado interesse paisagístico, cultural, geológico e ambiental;
- Destaque do trilho: Ponto fulcral deste itinerário o lugar da Pombeira;
- Tipo de percurso: Percurso pedestre circular de pequena rota. O percurso pode ser feito em ambos os sentidos;
- Extensão: 10,2km;
- Nível de dificuldade: O grau de dificuldade é representado segundo 4 itens diferentes, sendo cada um deles avaliado numa escala de 1 a 5 (do mais fácil ao mais difícil);
- Nível de dificuldade: Moderado;
- Adversidade do meio: 2;
- Orientação: 2;
- Tipo de piso: 3;
- Esforço físico: 3;
- Duração: 4h00;
- Sinalética: Sinalética homologada pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal;
- Avaliação da sinalética: A sinalética poderia estar melhor implementada, porque não vimos nenhum sinal a indicar o desvio para a Cascata e Aldeia da Pombeira;
- Coordenadas: Coordenadas Geográficas (Sistema de Referência: WGS84)
- Latitude 40º 55' 1,168''N
- Longitude 7º 56' 28,333''O
- Desnível Acumulado: +408 m;
- Destaques do património natural:
- Rio Vidoeiro ou Rio Pombeiro, como é também conhecido;
- Alto da Portela, vista para o Vale e Cascata da Pombeira;
- Cascata da Pombeira;
- Quedas de Água da Pombeira: Desnível com mais de 100 metros; "O Rio Vidoeiro, a que também chamam de Rio Pombeiro, nasce na aldeia do Mezio, em plena Serra de Montemuro. Perto da aldeia de Lamelas, este curso de água forma um desnível com mais de 100 metros, originando as chamadas “Quedas de Água da Pombeira"11
- Geossítio, marmitas de gigante no lugar de Pombeira;
- Destaques do património arquitetónico:
- Moinhos da Pombeira;
- Igreja da N. Sr.ª dos Remédios em Lamelas;
- Em Lamelas de Cá a festa de Nossa Senhora dos Remédios acontece no segundo domingo de setembro;
- Capela de Santa Bárbara - Vilar;
- Barragem de Codeçais da Ermida - Castro Daire
- Poldras do Meio do Rio Vidoeiro;
- Aldeias em destaque:
- Aldeia de Lameças;
- Aldeia de Vilar;
- Condeçais, um pouco fora do trilho e perto da barragem do rio Vidoeiro;
- Lugar de Pombeira;
- Miradouro:
- Miradouro da Pombeiro
- Baloiço do Cavaleiro - Lamelas, um pouco fora do trilho e perto do Miradouro do Pombeiro. Quando visitamos esta aldeia o mesmo estava mal sinalizado. O mesmo tem acesso pela Estrada da Barragem, em Lamelas, ficando perto do Alto da Portela, onde existe o Parque de Merendas com vista para a Cascata do Pombeiro;
- Coração da Pombeira - Lamelas, junto ao Baloiço do Cavaleiro;
- Pombeira Adventure Park: Em execução, contemplando a construção:
- Miradouro da Pombeira: Miradouro suspenso numa plataforma com 12 metros, onde 9 deles serão suspensos sob a falésia e a cascata da Pombeira, criando a sensação ao visitante/turista de estar a flutuar sob o parque. Em fase final de construção.
- Centro de Atividades Outdoor do Município de Castro Daire;
- Canyoning pelo Vale do Rio Vidoeiro;
- Via Ferrata com três pontes Himalaias, (Já concluída, mas fechado ao público em 2023-12-28);
- Trilho de Aventura com cerca de 5 km (PR), circular, com início e fim no Miradouro;
- Nova ligação ao PR8: Ligação ao Percurso Pedestre já existente (PR8 - Trilho da Pombeira) que permitirá a ligação aos moinhos e à cascata da Pombeira, num ramal de ida e volta, perfazendo a extensão total de 6,2 km
- Ler artigo completo: Trilho da Pombeira revela quedas de água na Serra Montemuro (ondasdaserra.pt)
Parques eólicos na Serra de Montemuro
Legenda da Foto: Capela de São Pedro do Campo
Na Serra de Montemuro existem muitos parques eólicos, com as suas turbinas e pás gigantes, aproveitando a energia do vento que ainda hoje fazem confundir um Dom Quixote que nunca terá forças nem cabeça para enfrentar estes gigantes.
As opiniões sobre estas estruturas divergem, embora poluam a paisagem podem ser necessárias para a energia verde e redução do consumo dos combustíveis fósseis, mas não podem ser instaladas em todo o lado e sem porem em causa a vida animal, como querem fazer na Serra da Cabreira em Vieira do Minho, onde existe uma comunidade de lobos e cavalos garranos.
Parque Eólico de Casais
O Parque Eólico de Casais fica localizado na Serra de Montemuro, perto da Capela de São Pedro do Campo, exibida no ponto anterior. "O Parque Eólico de Casais, localizado na Serra de Montemuro é constituído por 1 aerogeradores com 2,3 MW de potência unitária e uma potência total instalada de 2,3 MW e a construção de uma subestação e edifício de comando. A ligação do Parque à rede elétrica é realizada através de uma linha elétrica de 15 kV com uma extensão de 4,5 km. Esta linha liga a Subestação de Castelo de Paiva."18
"O aerogerador que constitui este Parque Eólico tem uma potência de 2000 Kw e produz cerca de 5,3 GWh ano, sendo o consumo anual de Cinfães de 32,6 GWh (dados de 2006 DGGE). Poupa cerca de 3 mil e 700 toneladas de emissões de dióxido de carbono."19
Descrição da região do Douro-sul
Caracterização geográfica da região do Douro-sul
"A Região do Douro-Sul abrange um território com uma área superior a 2.000 Km2 que, como o próprio nome indica, se situa a sul do imponente rio Douro, marcando a zona de transição entre o centro e o norte interior de Portugal.
É constituída, do ponto de vista administrativo, pelos concelhos de Cinfães, Resende, Lamego, Tarouca, Armamar, Moimenta da Beira, Tabuaço, S. João da Pesqueira, Sernancelhe, Penedono e Meda e que corresponde, grosso modo, a uma faixa de território delimitada a norte, pelo rio Douro, a sul, pelos maciços montanhosos do Montemuro e de Leomil, a este, pelo rio Paiva e a oeste, pelo rio Côa, ambos afluentes do Douro.
Corresponde, portanto, ao território mais setentrional do Distrito de Viseu. Região de características vincadamente rurais, surpreende-nos pela grandiosa monumentalidade que possui, em curiosa e singular aliança entre a Natureza e o Homem, forjada em milenária relação, cujos testemunhos históricos ainda hoje podemos apreciar.
Bela, como poucas, cantada por poetas e sabiamente descrita por vultos literários de excepção, não faltam quem a ela se refira, ora pela luminosidade serpenteante do Douro, ora pela dureza agreste da serra, numa cumplicidade dualista, num antagonismo permanente, mas inseparável, que faz com que esta terra seja tão marcadamente diferente."33 (Ribeiro, 2001)
Caracterização económica da região do Douro-sul
Cultura da vinha é base económica da região
"O Douro-Sul é uma terra de contrastes, e é nesta antinomia que reside, precisamente, a génese da sua identidade, o marco da sua singularidade, a força e o valor das suas gentes. A cultura da vinha constitui a primordial base do sustento económico da região. O vinho generoso assume aqui o papel fundamental em torno do qual toda a actividade económica se desenvolve, sobretudo na zona norte (ribeirinha ao Douro), salpicada de quintas e casais produtores desta preciosa bebida. Não obstante, a produção de vinhos espumantes naturais e de vinhos de mesa de alta qualidade complementam a famosa oferta vinícola da região, como adiante se descreverá.
Mais a sul, entre os socalcos do Douro e os cumes das serranias, encontramos uma extensa área de produção horto-frutícola variada, que abastece os mercados nacionais, sobretudo os da cidade do Porto, constituindo também uma importante fonte de rendimento local.
Nas zonas mais elevadas, a produção de gado caprino e bovino e uma agricultura de subsistência, que teima em perdurar, retrata uma área geográfica e comunitária ainda muito apegada a sistemas e métodos tradicionais de produção, traduzindo relações sociais e formas de vida cujas raízes são antiquíssimas e se perdem no tempo."33 (Ribeiro, 2001)
Caracterização histórica da região do Douro-sul
"Do ponto de vista histórico não é fácil descortinarmos o momento a partir do qual foi este território habitado. Do período paleolítico chegaram-nos as gravuras, recentemente descobertas, de Foz Côa, algumas delas datadas de 20.000 a.C., admitindo-se como provável que entre 4.000 e 3.000 anos a.C., no período neolítico, já a região seria povoada pelos povos genericamente designados de pré-celtas, que nos deixaram testemunhos da sua presença através dos megalitos e castros, espalhados um pouco por toda a região.
Da cidade de Lamego, sua capital natural e ponto nevrálgico na confluência dos caminhos que unem todo este território, muitas e diversas teses foram elaboradas, na tentativa de lhe descortinar as origens, chegando-se mesmo a recuar a sua fundação ao século II a.C., hipóteses que, no entanto, nunca se conseguiram provar. Certo é que "Lamaecus" era o nome de um possessor fundiário hispano-romano, instituído no séc. III, e a "vila" romanizada de Lamego ascende à categoria de "civitas" nos finais do séc. IV.
Entretanto, abundam por toda a região vestígios da presença de povos pré-históricos, como os dólmens de Nossa Senhora do Monte, Telhal, Pendão e Lapinha, no concelho de Penedono, o menir de Longroiva, na Mêda, ou a orca de Beira Valente, em Moimenta da Beira, e que, entre muitos outros, atestam a presença da "civilização" megalítica.
Mas é sobretudo a partir do domínio suevo-visigótico que na região se podem encontrar magníficos testemunhos patrimoniais e monumentais, com justo destaque para a importante Igreja de S. Pedro de Balsemão (M. N.), seguramente uma das mais antigas da Península Ibérica [Séc. VII/VIII (?)].
Do período da Reconquista Cristã e, posteriormente, das vicissitudes da formação de Portugal, ficaram-nos as edificações de carácter militar, como os Castelos de Lamego, Longroiva, Marialva, Numão e Penedono, verdadeiros símbolos de uma época medieval intensamente vivida.
Região de fortes tradições religiosas e culturais, possui um património edificado riquíssimo, a que não é estranho o facto de Lamego ter sido uma das primeiras dioceses da Península, documentada desde a 2ª metade do séc. VI (Concílio de Lugo - 569) e ter, por outro lado, desempenhado um papel relevante na fundação da nacionalidade portuguesa, tendo sido governada por D. Egas Moniz de Riba Douro, o celebrizado aio de D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal.
Na verdade, todo o Douro-Sul está salpicado de vetustas Igrejas, qual delas a mais singular, erigidas em épocas longínquas, e que emprestam à paisagem sul duriense, a par dos típicos vinhedos, uma característica peculiar que a diferencia de todas as outras regiões do País.
Região de vinhos por excelência, aqui se pode apreciar, não só o já referido vinho generoso do Douro (cuja fama remonta ao séc. XVI, então conhecidos por vinhos cheirantes), mas também os famosos espumantes naturais da Raposeira e da Murganheira e uma vasta gama de apaladados vinhos de mesa, capazes de satisfazer o gosto dos mais apurados e exigentes enófilos."33 (Ribeiro, 2001)
Descrição do concelho de Cinfães
Composição do concelho de Cinfães
"O Concelho de Cinfães é composto por 17 freguesias: Alhões, Bustelo, Cinfães, Espadanedo, Ferreiros de Tendais, Fornelos, Gralheira, Moimenta, Nespereira, Oliveira do Douro, Ramires, Santiago de Piães, S. Cristóvão de Nogueira, Souselo, Tarouquela, Tendais e Travanca. Cobre uma área de 238,76 Km2 que ronda os 25.000 habitantes."33 (Ribeiro, 2001)
História do concelho de Cinfães
Cinfães possui vestígios de ocupação desde a pré-história
"O Concelho, que vai desde a serra do Montemuro até às margens do rio Douro, conserva nítidos sinais de povoamento pré-histórico, admitindo-se que lugares como Contensa, Travassos, Magarelhos, Pedra Escrita e outros nos remeta para inscrições rupestres do período da pedra polida e dos metais. Nomes ainda como Vilas, Cidadelhe e Lagarelhos indiciam o período da ocupação romana e levam, no seu conjunto, a admitir o povoamento da região desde os tempos mais remotos.
Data de 1109 uma escritura lavrada em Cinfães, significando assim a existência de organização senhorial. Segundo reza a tradição, teria sido em Cinfães, mais concretamente em Cresconha, que D. Egas Moniz criou D. Afonso Henriques, após o célebre milagre de Cárquere. As terras de Cinfães foram Reguengas, transitando, por mercê real, para Luís Alvares de Sousa e D. João III doou-as a D. Diogo de Castro, em 1483.
D. Manuel I outorgou foral a Cinfães. Num recanto do Jardim Público da Vila de Cinfães, um modesto monumento homenageia o célebre explorador Serpa Pinto."33 (Ribeiro, 2001)
Pontos de interesse turístico do concelho de Cinfães
"Como pólos de interesse turístico devem-se salientar a Igreja de Santa Maria Maior, as Ruínas das Portas de Montemuro e a Igreja Matriz de Escamarão, monumentos nacionais de visita obrigatória. Outros locais de indesmentido interesse são os sítios do Ladário e do Calvário, pelas magníficas vistas que dali se podem apreciar, o Penedo da Chieira ou o interessante passeio até à Barragem do Carrapatelo."33 (Ribeiro, 2001)
Festas e romarias no concelho de Cinfães
"Como em toda a região, também o Concelho de Cinfães organiza feiras e celebra romarias de nomeada como a Feira Malhada, em Tendais, no 2º Domingo de Junho; a Feira de Nespereira, a 6 de agosto; a Feira de S. Miguel, e, Escamarão, em 28 e 29 de Setembro; a Feira das Portas do Montemuro no 3º Domingo de Agosto e as Festas de S. João, na sede do Concelho."33 (Ribeiro, 2001)
Características geográficas do concelho de Cinfães
"O concelho de Cinfães sendo, o segundo mais extenso da CIM (Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa), contudo, com apenas 20 mil habitantes é o menos povoado. O município é constituído por uma parte serrana a Serra de Montemuro, e uma parte ribeirinha, o vale do Rio Douro, são dois eixos morfológicos importantes, uma vez que, lhe conferem paisagens únicas. No plano, evidencia-se a implementação, em Cinfães, de um projeto de colocar o enoturismo de vinhos verdes na rota turística, promovido pela Sociedade Agrícola e Comercial da Quinta da Aveleda, S.A."34 (Fonseca V., 2015)
Cinfães possui dois grandes traços morfológicos, a Serra de Montemuro e o vale do Douro
"O concelho de Cinfães é composto por dois grandes traços morfológicos, a Serra de Montemuro e o vale do Douro, que demarca o concelho a norte. A Serra de Montemuro com 1382 metros de altitude de constituição essencialmente granítica "tem uma configuração nitidamente dissimétrica na direção norte-sul, sugerindo um balançamento da montanha para o Douro" (A. Brum Ferreira, 1978, in Vasconcelos et al, 2000, p.18).
Recursos hídricos do concelho de Cinfães
"Ao nível de recursos hídricos o concelho é atravessado por diferentes cursos de água. Para além do rio Douro, Cinfães é banhado pelos rios: Cabrum, Bestança, Paiva e Ardena. E pelos ribeiros Sampaio, Valbom e Ladreda. O rio Cabrum, com a orientação NWW - SSE, divide Cinfães e Resende."34 (Fonseca V., 2015)
O rio Bestança nasce na Serra de Montemuro
O Rio Bestança nasce na Serra de Montemuro, juntos às Portas, e corre em vale apertado, profundo e retilíneo, direcionado de SSE para NNW até se juntar ao Douro em Porto Antigo. O vale do Bestança envolve seis freguesias e povoações de terra fértil, com densas matas de arvoredo e extensas vinhas.
O rio Paiva, a jusante da freguesia de Fornelos, delimita o concelho de Cinfães do de Castelo de Paiva, tem como seu afluente mais importante o rio Ardena na freguesia de Nespereira e um outro que passa em Cinfães, o Germinada. O ribeiro de Sampaio está situado na freguesia de São Cristóvão de Nogueira e tem como principal afluente o ribeiro de Joazi. Este ribeiro apresenta como característica principal, nas suas margens um grande número de moinhos a água. O ribeiro de Valbom separa a freguesia de S. Cristóvão de Nogueira da freguesia de Santiago de Piães."34(Fonseca V., 2015)
Clima do concelho de Cinfães
"Cinfães apresenta grandes discrepâncias térmicas e pluviométricas devido à grande diferença de altitude entre o vale do Douro e a Serra de Montemuro. O vale do Douro, apresenta-se mais quente no verão, enquanto o topo da serra manifesta invernos muito rigorosos muitas vezes com temperaturas negativas.
A temperatura é induzida não só pelo relevo, mas igualmente pela assimetria das vertentes. Proveniente de Oeste, o ar carregado de humidade à medida que transpõe os obstáculos de relevo arrefece, e quando a temperatura do ponto de orvalho é atingida, ocorre então o nevoeiro, designado por nevoeiro de irradiação, fixando-se nas grandes elevações, prevalecendo na primavera, no outono e no inverno, nomeadamente durante a noite e de manhã cedo."34 (Fonseca V., 2015)
Turismo de Natureza de Cinfães
"As potencialidades ambientais e recursos naturais presentes no município apresentam um grande potencial em termos turísticos. Assim, destacam-se a Serra de Montemuro pela sua geologia e geomorfologia bastante característica e o vale do Bestança pela envolvência das paisagens de um dos rios menos poluídos da Europa."34 (Fonseca V., 2015)
Contactos úteis da Serra de Montemuro
- Bombeiros Voluntários de Castro Daire: Telefone: 232 319 050
- Bombeiros Voluntários de Cinfães: Telefone: 255 561 567
- ADRIMAG-Montanhas Mágicas: Telefone: 256 940 350
- Município de Castro Daire Telefone: 232 382 214
- Município de Cinfães: Telefone: 255 560 560
Créditos e Fontes pesquisadas
Fontes consultadas
Texto: Ondas da Serra, com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra, com exceção das que estão referenciadas
1 - Miradouro das Portas de Montemuro - Rota do Românico (rotadoromanico.com)
2 - Vale do Bestança (visitcinfaes.pt)
3 - Ponte de Covelas - Vale do Bestança - Rota do Românico (rotadoromanico.com)
4 - aroucageopark.pt
5 - Panfleto obtido na Internet e painel informativo colocado junto à Igreja Paroquial de Lamelas, pela Câmara Municipal de Castro Daire
6 - Rede de Miradouros - Miradouro da Serra do Montemuro (cm-castrodaire.pt)
7 - Património - Ruínas da Muralha das Portas de Montemuro (cm-castrodaire.pt)
8 - Capela das Portas de Montemuro - cm-cinfaes.pt
9 - Painel informativo colocado junto às Portas de Montemuro da responsabilidade dos municípios que integram a Rota da Água e da Pedra das Montanhas Mágicas
10 - Património - Ruínas da Muralha das Portas de Montemuro
11 - Brochuras informativas sobre Cinfães, disponíveis no site munícipal do turismo de Cinfães: https://turismo.cm-cinfaes.pt/
12 - Serra de Montemuro - Turismo Centro Portugal (turismodocentro.pt)
13 - Capela de S. Pedro do Campo - Visit Arouca
14 - Painel informativo colocado junto à Ponte de Covelas da responsabilidade dos municípios que integram a Rota da Água e da Pedra das Montanhas Mágicas
15 - Painel informativo colocado junto ao Rio Bestança, no Prado, da responsabilidade dos municípios que integram a Rota da Água e da Pedra das Montanhas Mágicas
16 - Mylabris hieracii · BioDiversity4All
17 - Santuário de Nossa Senhora do Monte - Visit Arouca
18 - Parque Eólico de Casais | TPF
19 - Painel informativo colocado junto ao Parque Eólico de Casais
20 - A Ponte de Soutelo, em Tendais. – História de Cinfães
Pesquisas bibliográficas
30 - Cruz, D. J., Fernandes, D., Armada, X. L., & Vilaça, R. (2018). Considerações sobre a Pré e a Proto-história da serra do Montemuro e seu aro (centro-norte de Portugal): artefactos metálicos e seu contexto. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid, (44), 59-80.
31 - da Silva, A. P. R. (2020). Percursos pedestres em territórios de baixa densidade: aplicação móvel de apoio ao geoturismo na área do município de Cinfães.
32 - RAMOS, M. (2012). Para o estudo de Montemuro na Idade Média (Sécs. V-XII): Entre a serra e o curso médio do Bestança (Doctoral dissertation, dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, ed. policopiada).
33 - Ribeiro, A. (2001). Por terras do Douro Sul–alguns aspectos da sua riqueza patrimonial. Millenium.
34 - da Fonseca Vieira, R. F. (2015). A informação geográfica ao serviço do turismo-um percurso pelo Município de Cinfães.
Caminhe no distrito de Aveiro e pedale de bicicleta pelo norte de Portugal
O distrito de Aveiro tem dezenas de caminhadas e percursos pedestres muito bonitos, na serra, junto do mar, ria e rios, que pode aproveitar para os conhecer. No norte de Portugal há muitas ciclovias, ecovias e ecopistas que se pode percorrer, a caminhar ou de bicicleta, muitas delas por antigas linhas ferroviárias, agora convertidas em pista para as pessoas passearem.