De Ovar a Aveiro de bicicleta pela da ria desconhecida Comportas do Barbosa – Ria de Aveiro - Albergaria-a-Velha Ondas da Serra
quarta, 20 fevereiro 2019 08:59

De Ovar a Aveiro de bicicleta pela da ria desconhecida

Classifique este item
(6 votos)

O Ondas da Serra, ou melhor, o Sílvio, o Rui e eu, percorreu Ovar a Aveiro em bicicleta. A aventura começou no primeiro dia em que se ponderou fazer o caminho desde a cidade vareira à cidade dos canais, sempre com a Ria como apoio. Foram mais de 10 horas de percurso e cerca de 90 quilómetros de caminho. Mais do que pedalar, ficar espalmado ou mergulhar os pés na lama, ficou a importância do tempo.

De Ovar a Aveiro de Bicicleta, junto da Ria de Aveiro

Rui Sousa, Ricardo Grilo e Sílvio Dias, do Ondas da Serra

Quando chegamos a adultos, o rápido torna-se ainda mais rápido e rapidamente se fica sem tempo para programas que exijam, curiosamente, tempo. É importante referir nome a nome aqueles que participaram neste devaneio saudável não por gabarolice, mas por orgulho.

A saída foi um pretexto para reunir a equipa, estar com amigos e usufruir da Natureza. De Ovar a Aveiro, ficam as paragens para ver os corvos marinhos, os silêncios para não assustar as cegonhas, o encantamento pela beleza que Portugal oferece sem cobrar nada.

Passavam alguns minutos das 08h30 quando saímos de Ovar. Uns com bicicletas prontas para o que vinha, outros, mais inexperientes, com o equipamento que arranjaram para se desenrascar. Todos com o objetivo de aproveitar cada oportunidade, até ao momento em que o cansaço seria tanto que já não se sentia ou reparava em rigorosamente nada. Apenas se suspirava pela estação de comboios e, mais tarde, por descanso.

Ricardo Grilo do Ondas da Serra

Ovar, Pardilhó, Murtosa, Estarreja e Aveiro foram os pontos mais centrais por onde passamos, sempre envolvidos pelo manto apaziguador de uma Ria a que não se consegue ficar indiferente quando se escuta atentamente.

Um imprevisto no caminho obrigou-nos a pegar nas bicicletas, depois de horas a pedalar, e a atravessar uma pequena muralha de pedras escorregadia entre silvas, musgo e muito suor. O paredão, com um ligeiro declive, serve para travar o mar ou o rio de galgar as margens, pelo menos com facilidade. Neste Sábado, dia 16 de fevereiro de 2019, já muito perto do pôr-do-sol, serviu para contornarmos um boi e algumas vacas. Livres no caminho que deveria ser o nosso, obrigaram-nos a encontrar uma alternativa que não fosse voltar para trás. Fizemo-lo, demoramos o dobro do tempo, eu acabei com os pés raptados por lama ainda não havia passado 30 segundo do início da aventura, e conseguimos contornar o obstáculo numa metáfora poética do que é o projeto Ondas da Serra.

De Ovar a Aveiro, atravessamos passadiços confiantes, ouvimos a Natureza, tiramos fotografias, estivemos connosco e rimos. Muito. Partilhamos o tempo que tantas vezes temos dificuldade em encontrar para simplesmente estarmos. É a importância do tempo que resume este percurso, na sua forma mais simples. Nós, o Sílvio, o Rui e eu, teremos irremediavelmente este tempo para nós e para o Ondas, mesmo que nunca mais se repita (o que não irá acontecer, naturalmente!).

Ricardo Grilo

Pedalar por trilhos escondidos junto da Ria de Aveiro

Sílvio Dias do Ondas da Serra

Por mais que se tente e mesmo o maior dos poetas, não consegue por vezes levar os outros a sentir o que vive, porque a grandeza da natureza quer companhia e não partilha os seus amores com devaneios linguísticos, metáforas ou hipérboles bem delineadas. Esta aventura foi vivida num paradoxo temporal próprio do Ondas (quem já nos acompanhou sabe a que nos referimos), com amigos que partilham convicções e tentam com as Serras e as Ondas, tornar o mundo melhor. Mesmo assim as palavras versejadas ainda se vão aproximando do que queremos transmitir, por isso misturei umas poucas sobre o que senti com este passeio com os meus amigos.

 

O universo foi criado
Das trevas fez-se luz
O homem foi moldado
Do sopro da vida insuflado

As ondas da existência
Devem alcançar o mar
Não temos que navegar
Num barco para afundar

Andamos no mar
Andarmos na serra
Andamos na ria
Andamos na floresta

Queremos aprender
Conhecimentos partilhar
Não fazer seres sofrer
Ensinar homens amar

Nossa missão tem temor
Obstáculos a contornar
A Terra grita de dor
Vamos ajuda a salvar

Nossa comunidade floresce
Muitos querem participar
O nosso Aveiro merece
Tem muito para mostrar

Percurso: Ovar, Pardilhó, Ribeira do Mourão - percurso das Ribeiras (artigo no Ondas), Bunheiro, Ponte Varela (lado nascente), Bestida, Murtosa, Ribeira de Pardelhas, Cais do Bico, Ribeiras de Veiros, Esteiro de Estarreja, Rio Antuã (nova ponte, vídeo no facebook do Ondas), Bioria, Percurso de Canelas, Comportas de Canelas - seguir para poente, passar uma comporta (atenção que aqui tem campos com vacas e touros, pode encontrar o portão fechado para os animais não saírem destes terrenos), virar na primeira estrada de terra batida que encontrar à esquerda em direção a sul, ponte Sarrazola (vídeo no facebook do Ondas), Rio Vouga - para poente, Vilarinho (junto à ponte caída)- entrar nos novos passadiços para Aveiro que vão até ao Cais de São Roque, estação da CP de Aveiro. Distância: 70 quilômetros sensivelmente.

Ao longo dos anos tempos vindo a explorar as melhores ciclovias, ecopistas e ecovias a Norte de Portugal, por isso visite este artigo e fique a conhecer os melhores percursos desta região.

Sílvio Dias

Vídeo de Ovar a Aveiro de bicicleta

Galeira de fotos de Ovar a Aveiro de bicicleta

Lida 2245 vezes

Autor

Ondas da Serra

Ondas da Serra® é uma marca registada e um Órgão de Comunicação Social periódico inscrito na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com um jornal online. O nosso projeto visa através da publicação das nossas reportagens exclusivas e originais promover a divulgação e defesa do património natural, arquitetónico, pessoas, animais e tradições do distrito de Aveiro e de outras regiões de Portugal. Recorreremos à justiça para defendermos os nossos direitos de autor se detetarmos a utilização do nosso material, texto e fotos sem consentimento e de forma ilegal.     

Itens relacionados

Ecopista do Corgo: Guia completo para percorrer o trilho

O percurso da Ecopista do Corgo, desenvolve-se pelo espaço canal da antiga Linha Férrea do Corgo, que na cidade de Peso da Régua, fazia a ligação com a Linha do Douro e levava os passageiros para o interior até Vila Real e Chaves, para muitos curarem as suas maleitas nas águas termais desta cidade, Pedras Salgadas, Vidago. A nossa equipa percorreu todo o seu antigo trajeto, com cerca de 88 km, por dois percursos cicláveis, um por reabilitar entre a Régua e Vila Real, e o que já está aberto ao público entre esta última cidade e Chaves. Nesta epopeia, o ciclista irá ser acompanhado por três rios, Douro, Tâmega e Corgo, e serras do Marão, do Alvão e do Vale de Aguiar. As vistas são magníficas onde se destacam as paisagens do nordeste transmontano, douro vinhateiro, património da humanidade, culturas em socalcos e serras cobertas de oliveiras, cerejeiras e castanheiros. A riqueza do património arquitetónico, natural, paisagístico é muito rica e variada, no entanto o trajeto oficial tem problemas no piso, sinalização e informação. Neste artigo irá encontrar informação detalhada, para programar a sua viagem, a nível da documentação técnica, mapas, património natural e arquitetónico, conselhos, história, fotografias, avaliação e tracking GPS, para download.

Rota do Vale da Bestança trilho dos mais belos de Portugal

O percurso pedestres PR2 - Rota do Vale, fica situado no concelho de Cinfães, distrito de Viseu. Este trilho linear, com 18,8 km de extensão, desenvolve-se pelo Vale da Bestança, que se caracteriza pela sua luxuriante fauna e flora. O rio que lhe inspirou o nome nasce na Serra de Montemuro e corre livremente pela encosta até desaguar no Rio Douro. A Associação para a Defesa do Vale do Bestança trabalha para a conservação deste rico habitat tendo como principal missão impedir o aprisionamento do rio com a construção de mini-hídricas. O auge da sua beleza reside na planície central do Prado, que prende o olhar pela sua formosura, marulhar das águas, sinfonia dos pássaros e harmonia da criação. Veja com os seus olhos e diga-nos como alguém pode escrever fielmente sobre a sua beleza. O percurso é caracterizado também pelas aldeias rurais que atravessa, povo que ainda lavra terras, pontes medievais, grande eira comunitária de Bustelo, Capela e Muralha das Portas de Montemuro. Este é um desafio esgotante que o leva às portas do paraíso e a uma natureza que pensávamos perdida e que afinal ainda subsiste com o empenho das gentes locais.

Trilho dos Socalcos do Sistelo revela paisagens incríveis

O percurso pedestres PR24 – Trilho dos Socalcos do Sistelo, desenvolve-se nesta freguesia do concelho de Arcos de Valdevez. Esta caminhada é caracterizada pelos socalcos que contribuíram para ter ganho o título de ser uma das “7 Maravilhas de Portugal”, na categoria de Aldeia Rural. Esta forma que os seus antepassados arranjaram para moldar a paisagem e conseguirem cultivar as terras para o seu sustento, mudam de tonalidade e beleza conforme as estações do ano. Pelo caminho poderão ser encontrados traços da sua ancestralidade e práticas agrícolas. Por vezes nos lugares mais inusitados descansam ou pastam bovinos da raça Cachena, alheios ao tempo e curiosidade dos forasteiros. Os socalcos, muros, espigueiros e casas em granito, das aldeias de Sistelo e Padrão conferem um caráter respeitoso e austero, da sua velha longevidade, mas que lentamente estão a morrer degradados pelo abandono. Subir estas encostas e ver Sistelo ao longe, rodeado de socalcos é uma das melhores formas de abarcar a sua beleza paisagística e de o celebrar.