Zé “Caranguejo” – O calceteiro
A alcunha é de família: "Pode tratar-me por Zé Caranguejo, que não levo a mal. Muito pelo contrário! Até gosto que me chamem Caranguejo, porque assim recordo-me do meu pai, José Moreira de Oliveira Gonçalo, que foi varredor na Câmara. Era da Ribeira de Ovar e tocava viola braguesa. Aprendi a tocar viola com ele... Também andei no Rancho da Ribeira. Não tenho uma fotografia do meu pai, mas gostava de ter." O sino da Matriz interrompeu o início da conversa. Agora vou ter de ir marcar o ponto ao Centro de Arte de Ovar, mas, se quiser, pode ir comigo. Pelo caminho conversámos sobre a arte onde o Sr. Caranguejo é mestre: "Sou calceteiro, sim, com muito orgulho. Aprendi isto com o Barnabé e o José Pinto. Era servente deles. Chegava-lhes as pedras, e via como é que eles faziam. Esta calçada portuguesa por onde estamos a passar está bem feita, as raízes destas árvores ainda não vieram cá para cima", graceja o calceteiro, confessando que fica "triste e chateado" quando não deixam o passeio em condições. "As pessoas, depois, queixam-se... Este alto que está a ver aqui é da água. Abriram o buraco para consertar o tubo e não fizeram a reposição devida." Disse-nos que é funcionário da Câmara Municipal desde o ano de 1979: "Andei primeiro nas Águas, e sempre fiz tudo e mais alguma coisa... Até faço martelos, as minhas próprias ferramentas. É verdade ou mentira?", diz, virando-se para o outro funcionário da Câmara, que está a aprender a arte de calceteiro com o Sr. Zé Caranguejo, ali junto aos Correios. "Foi a Câmara que me mandou fazer aquela parte do adro da Igreja Matriz que você fotografou no outro dia, onde estão as árvores, as esculturas do Muge. Aquilo ficou bem! Ovar é a terra do azulejo, mas também tem a bela calçada, seja em calcário ou em paralelos de granito", lembra o Sr. Caranguejo, rematando: "Tenho 65 anos, estou quase a ir para a reforma, mas se me pedirem para ensinar outros jovens, ensino, porque tenho muito gosto que eles continuem esta minha arte, que está a acabar. O problema é que, quando termina o contrato, eles vão embora."
Fernando M. Oliveira Pinto (texto e fotos)
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