História da Nossa Senhora de La Salette
A Nossa Senhora de La Salette é originária de França e os vitrais centrais são dedicados à Nossa Senhora de La Salette de Monte de La Salette em França. A imagem de Nossa Senhora de La Salette de Oliveira de Azeméis é diferente da de Nossa Senhora Francesa. Há muitos anos houve um milagre em França. Numa altura de seca o povo fez uma peregrinação ao Monte de La Salette a pedir chuva e quando lá chegaram o pedido foi satisfeito. Este milagre teve impacto mundial e fez com que o culto se espalhasse.
Em Oliveira de Azeméis, também num ano de seca, povo fez o mesmo pedido e foram em peregrinação com intenção da Santa Francesa ao então Monte de Castro. A bênção da chuva foi concedida e o monte mudou para o nome atual. A ocorrência traduziu-se na criação da imagem da Nossa Senhora de La Salette de Oliveira de Azeméis e que está no santuário.
Antes do atual santuário existia no antigo Monte de Castro a capelinha original e que pode ser vista nos vitrais da Igreja do lado esquerdo ou nos painéis em azulejos por baixo do coreto. A capelinha sofria assaltos com frequência e para os impedir foi destacado um vigilante noturno. Na madrugada de 10 de junho 1908 um ladrão, que já tinha feito outros assaltos no local, voltou a tentar repetir a façanha. No assalto anterior tinha partido um dedo da Nossa Senhora para lhe roubar um anel. Nesse dia foi apanhado pelo vigiante em flagrante que disparou em direção ao vulto. Foi posteriormente entregue à GNR.
No dia seguinte à detenção, pela manhã, a população encontrou junto ao altar o dedo mindinho do ladrão que o perdeu com o tiro, precisamente o mesmo que ele tinha partido à Santa. Este dedo está exposto junto da entrada há 110 anos.
Visita ao Santuário de Nossa Senhora de La Salette em Oliveira de Azeméis
No local, um homem esguio e de barbas brancas, com um olhar que denota as muitas experiências que já passou na vida, aguardava sentado junto à entrada dos visitantes. Ficamos a saber que se chama António Carvalho, tem 71 anos, é natural de Braga. Casou por estas terras e por cá ficou. Já conta 45 anos em Oliveira de Azeméis. Agora está reformado, tendo trabalhado como empresário de vendas na área decorativa. Sempre esteve ligado à religião católica e quando se reformou, há cerca de três anos, foi convidado para a função de vigilante.
No local existem dois vigilantes. As suas funções passam por dar assistência às pessoas, responder a perguntas e abrir e fechar o templo. Junto da entrada existe uma mesinha onde vendem velas e imagens da Santa. Foi António Carvalho quem nos explicou a história do santuário.
Parque de La Salette, projetado por Jerónimo Monteiro da Costa
"O Parque de La Salette, projetado por Jerónimo Monteiro da Costa, é um parque situado a nascente do IC2, que ladeia o centro de Oliveira de Azeméis, num cabeço que antigamente se chamava “Outeiro do Castro”. O Parque de La Salette é um “ex-libris” da cidade, um local com 17 hectares de lazer, em agradável cenário verde que cobre todo o monte e proporciona excelentes miradouros para a paisagem circundante. No parque, encontra-se o Santuário de Nossa Senhora de La Salette, a Ela dedicado. O templo, de cunho neomedieval, foi edificado nos princípios do século XX por António Correia da Silva (projeto de arquitetura), Henrique Moreira (escultura existente na fachada), e Ricardo Leone (vitrais).
No parque existe um miradouro natural, do qual se vê a norte São João da Madeira e a nordeste o vale do rio Antuã e algumas zonas montanhosas de Arouca, como a Serra da Gralheira. E a sul, os socalcos das freguesias de Travanca, Pinheiro da Bemposta e a mancha florestal da Bairrada. A oeste, para além da cidade, avistam-se a ria de Aveiro e a linha do mar de Ovar à Costa Nova.
A festa concelhia em honra de N.ª S.ª de La Salette, tem início no 1.º domingo de Agosto, com uma enorme procissão de velas com a imagem (única) de N.ª S.ª de La Salette, do Santuário de La Salette para a Igreja Matriz. Termina no 2.º domingo, com a “Procissão do Triunfo”, que aglutina irmandades de todas as paróquias da Vigararia de Oliveira de Azeméis, transportando a imagem no percurso inverso, de regresso ao Santuário. Esta procissão atrai multidões.
A construção da Capela da La Salette remonta o ano de 1870
A construção da Capela da La Salette remonta o ano de 1870. Nesta data, o país era assolado por uma terrível seca. Oliveira de Azeméis não foi exceção e também teve dificuldades com a escassez de água. Então, em 5 de julho desse ano, decidiu-se fazer uma procissão com o Santo Cristo até ao Monte Crasto, a fim de pedir chuva. Na verdade, a procissão chegou ao local e nesse instante começou a chover copiosamente e, parecendo a todos um facto milagroso, o Abade João José Correia dos Santos propôs a construção de uma capela naquele local, sob a invocação de Nossa Senhora de La Salette. Encomendaram-se as imagens e iniciou-se a construção da capela. As imagens chegaram em 1875, ficando na Igreja Matriz, e passados cinco anos foram transladadas para a capela, que então fora concluída.
Foi no ano de 1909 que se iniciou a construção do atual Parque de La Salette, sob a chefia de Jerónimo Monteiro da Costa, diretor dos Jardins Municipais do Porto. Em 1913 começou a pensar-se na construção de uma nova capela, pois aquela tornava-se demasiado pequena. Iniciaram-se novas obras dez anos depois e, atualmente, existe um templo mais largo, funcional, de um gótico revivalista e recheado com belos vitrais e uma rosácea, apenas prejudicado pela sua quase total construção em cimento.
Quando a Comissão Patriótica Oliveirense se organizou em 1909 e “meteu mãos à obra” para transformar num parque o árido e inóspito Monte dos Crastos, tomou também conta da capelinha que aí existia desde 1880, consagrada à Nossa Senhora de La Salette. Em local tão isolado, era preciso alguém que tomasse conta da capela e a abrisse quando necessário. A escolha da Comissão Patriótica recaiu num habitante do lugar de Cidacos conhecido pelo “Tio Martinho”, homem honesto e cumpridor. Mas o Tio Martinho passou a andar preocupado.
Os roubos sucediam-se e não se descobriam os culpados. E atingiu-se o máximo de falta de respeito e heresia, quando roubaram um valioso anel, levado com o dedo mínimo da mão direita, que partiram à imagem da Nossa Senhora. Assim, Tio Martinho, apesar de muito cansado, não pôs qualquer dificuldade quando a Comissão lhe pediu para ficar de guarda à capela durante a noite após as festas, dado que havia objetos de culto de elevado valor (os quais tinham servido nas festas), para além da caixa de esmolas. Muniu-se de uma espingarda caçadeira, que lhe emprestaram, e preparou-se para passar a noite, tomando as devidas precauções.
Passado pouco tempo, acordou com barulho na capela, mas do sítio onde estava (escadas que davam acesso ao pequeno coro), não via nem era visto. Pegou na arma e espreitando, viu um vulto junto ao altar. Não esperou por mais nada, meteu a arma à cara e disparou. Apesar da pequena distância a que disparou (a capela era pequeníssima), o vulto continuou de pé. O Tio Martinho, que tinha outro cartucho na arma, aproximou-se, intimando o intruso a manter-se quieto. E assim o manteve sob vigilância até o dia clarear. Nessa altura, fechou-o bem na sacristia, e saindo cá fora, começou a tocar a sineta da capela, ao mesmo tempo que gritava por “ladrões”. Em breve espaço de tempo tinha acorrido muito povo, e então cercada a capela, entraram lá dentro e prenderam o gatuno.
Trouxeram-no para a vila e na cadeia foram examinados os ferimentos, que se limitavam a alguns chumbos que tinham ficado à flor da pele e, caso curioso, o tiro tinha-lhe decepado o dedo mínimo da mão direita. Interrogado, confessou que tinha sido ele que algum tempo antes tinha roubado o anel e partido o “dedo mínimo da mão direita de Nossa Senhora da La Salette”. O Tio Martinho voltou à capela e junto ao altar encontrou o dedo, ainda ensanguentado, do gatuno. Esse dedo ainda se encontra num frasco com álcool, na atual capela." "1
Um santuário onde ocorrem pessoas de todo o país
Contou-nos também que acorrem ao Santuário pessoas de todo o país, principalmente em excursões aos fins-de-semana. No primeiro domingo de agosto realizam-se as festas em honra da Santa. O ponto alto é a procissão das velas. Tem saída deste templo para a Igreja Matriz levando um andor com a imagem da Santa. Para o lugar dela vai tal imagem que ficou sem o dedo. Oito dias depois há a procissão triunfal onde as Santas trocam novamente de lugar e terminam as festas.
Aqui também se celebram eucaristias aos domingos pelas 11h30. Os turistas costumam visitar o local, com destaque para espanhóis, brasileiros e franceses. Em relação ao parque, ainda tem potencial por trabalhar. Destaque para o lago, que precisa de tratar a água, e que se prevê que aconteça em setembro.
O Monte La Salette pelos olhos do escritor Ferreira de Castro - Livro "Emigrantes"
"Breve, à direita se erguia aplainado no flanco que dava para a estrada, o monte de La Salette. Quem o tinha visto e quem o via agora! -pensou Manuel da Bouça. -Antigamente, quando ele era pequeno e vinha ali com a mãe, em Agosto, aquilo não passava de pinhal bravio e lá em cima, no cocuruto, a capela mostrava-se pouco maior do que alminhas de encruzilhada. No arraial, apenas uma filarmónica e os fogueteiros de Sandiães. Hoje o cerro tornara-se jardim, como esses que existiam lá para a cidade; a capela crescera e nova imagem, da grande e linda, já nem se parecia com a primeira. Fogueteiros de Sandiães e filarmónica de Riba-Ul? Bah! Vinham bandas regimentais do Porto e fogo, que levava horas e horas para queimar todo, era de Viana. As próprias pessoas que assistiam à festa já não pareciam as mesmas; agora, até de Lisboa chegavam grandes senhores para ver e gozar. E quem fizera tudo aquilo? Os da vila? Qual! Os que foram ao Brasil, esses sim! Se ninguém fosse ao Brasil, se todos os homens fossem como os da Frágua, a Nossa Senhora de La Salette teria toda a vida uma capelita metida entre tojos e pinheiros!" (Castro, 1949)
O parque de La Salette é muito utilizado para passeios e prática desportiva
Depois de sairmos do templo vimos atletas que usam o parque para treinar, pessoas a caminhar ou a descansar nos bancos. Existe ainda um circuito de manutenção com máquinas apropriadas. Junto ao lago fica situado um pequeno café e os mais energéticos podem ir remar para o lago. Existem vários locais com frondosas sombras e mesas onde se podem fazer piqueniques. Há um sitio que parece uma floresta encantada com raízes em forma de monstros, que crescem enrodilhadas por toda a parte e que ganham vida com a escuridão. O Ondas da Serra destaca o facto do coreto de o jardim necessitar de uma manutenção mais frequente e de uma limpeza nos azulejos que retratam a historia do local.
História do Parque de La Salette
"O Parque de La Salette é considerado o ex-líbris da cidade de Oliveira de Azeméis, que se destaca pela sua beleza e tranquilidade.Localizado sobranceiramente à cidade, este parque comemorou em 2009 o seu primeiro centenário. A ele rumam milhares de pessoas em Agosto, durante as Festas em honra de Nossa Senhora de La Salette. Este parque nasceu de uma promessa da população de Oliveira de Azeméis a esta santa, rogando pela queda de chuva. A promessa foi cumprida com a construção de uma capela, inaugurada a 19 de Setembro de 1880, mas os trabalhos para a construção do parque circundante só se iniciaram a 7 de Abril de 1909.
O plano geral do Parque de La Salette ocupa 17 hectares e foi concebido por Jerónimo Monteiro da Costa, paisagista do virar do século XIX e herdeiro de uma cultura oitocentista em torno da horticultura, jardinagem, conceção e construção de jardins e, na altura, Diretor dos Jardins Municipais do Porto e da Real Companhia Hortícolo-Agrícola Portuense. Contempla o Berço Vidreiro, parque infantil, sénior e desportivo, parque de eventos, parque de merendas e as piscinas ao ar livre."
Créditos e Fontes pesquisadas
Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - www.cm-oaz.pt/oliveira_de_azemeis
Bibliografia consultada
Ferreira de Castro. (1949). Obras completas de Ferreira de Castro: Emigrantes
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