Rostos de Ul e Damonde - O povo de Oliveira de Azeméis Lurdes Padeira - Damonde - Oliveira de Azeméis Ondas da Serra
segunda, 20 fevereiro 2017 23:54

Rostos de Ul e Damonde - O povo de Oliveira de Azeméis

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Um dos propósitos do projeto “Ondas da Serra” é mostrar o rosto do povo e das nossas tradições. A nossa equipa andou em Ul - Oliveira de Azeméis e encontrou os seus habitantes atarefados com as suas lides agrícolas, domésticas ou apenas descanso. Aqui ficam alguns depoimentos destas simpáticas pessoas que estão sempre disponíveis para fazer um compasso de espera e contarem um pouco das suas vidas. É por esta razão que o campo atrai, longe do reboliço dos centros urbanos onde as pessoas cada vez se afastam mais.

Rostos de Ul e Damonde

O povo de Oliveira de Azeméis

Vamos agora conhecer três pessoas que não receberam ainda nenhuma medalha ou condecoração mas que as mereciam. Todos vivem anonimamente, já construíram as suas casas, criaram os filhos e enterraram amigos e familiares, aqui fica a nossa homenagem a estes cidadãos de UL e Damonde, Lurdes Padeira, Maria Augusta e José Rocha.

  
 

Lurdes, padeira

 
A equipa Ondas da Serra ao fazer a “Rota do Moleiro”, teve necessidade de recuperar forças e aproveitou para o fazer junto às frondosas sombras e vistas do parque de merendas da “Associação Cultural de Travanca”. O relógio Igreja de Ul ali perto cantou o “13 de Maio” e bateu as 12 badaladas do meio dia. Passado um pouco tocou novamente mas de forma lúgubre, anunciava morte de alguém. Antigamente nas aldeias era assim, se calhar agora menos, era o relógio da igreja que marcava a vida e anunciava a morte.
 
Ali perto junto a uma ponte, uma mulher que descia uma ingreme encosta, olhou para nós curiosa e continuou viagem. Retomamos a marcha e ao chegar ao cimo da encosta, vimos a mesma mulher a regressar com uma canastra à cabeça. Para melhorar o equilíbrio deste “aparato” e amenizar o peso usava uma rodilha improvisada com uma tolha enrolada. Este tipo de quadro já se vê raramente e embora seja bonito preservar as tradições, esta é uma daquelas que não ajuda muito a saúde da coluna vertebral de tão fortes mulheres. Esta mulher de nome Lurdes com 57 anos de idade disse ser padeira de profissão e habitante da aldeia de Damonde – freguesia de Travanca – Oliveira de Azeméis.
 
No momento em que lhe falávamos preparava-se para ir buscar pão de Ul para vender pelas portas dos habitantes da sua terra Damonde, já há 47 anos que o faz. Disse ter dez anos quando começou neste ofício. Nas sua palavras disse com a naturalidade e simplicidade, “Eu aqui nasci, é onde vivo desde sempre e não penso mudar”. Transporta à cabeça diariamente cerca de 35 a 40 Kg. Tem cerca de 40 clientes certos na sua aldeia e faz este trajeto uma vez por dia sem folgas. Por dia faz certa de 12 quilómetro e não reconhece a dureza do seu ofício dizendo já estar habituada.

 

 

Maria Augusta

 
Em Ul perto do Castro ali existente encontramos uma idosa refastelada na sua cadeira a dormitar ao sol, um longo pau para se apoiar descançava no seu regaço. Junto a si no chão descansava também o seu gordo gato de aspeto mandrião, olhar manso e roliço colocou-se a olha para nós a jeito para ser fotografado. A idosa conta já 81 anos de idade, em nova trabalhou na lavoura e afazeres doméstico.
 
Ali perto o seu cão refugiava-se à sombra, de nome “Max” como o cão policia da serie televisiva, mas este aparentava má cara a dona disse que estava doente. Tem três filhos, um deles na América que ali passam frequentemente. Tem seis gatos e um cão, disse que às vezes estão todos à sua volta, o que não era o caso naquele dia.

 

 

José Rocha

 
Andávamos nós a percorrer a aldeia de Ul quando vimos um homem bem constituído, muito despachado, com uma catana na mão e ar de que vai trabalhar e tem muito que fazer. José Rocha conta 70 anos e foi sapateiro. Quando o encontrámos preparava-se para ir ao monte buscar umas estacas para ervilhas. Desde os 12 anos que trabalha. Disse gostar do parque molinológico, ainda conheceu o local com os moinhos degradados e as casas velhas.
 
Lembra-se que os seus dentes por ali nasceram. Em criança ia à lenha até às “Almas da Moura”, com a sua madrasta para vender ou cozinhar em casa ao lume nas panelas de ferro. Em pequeno depois da escola ir guardar as ovelhas do seu pai. Sempre viveu nesta aldeia e aqui neste lugar, antigamente chamava-se lugar de “Porto de Barcas” agora chama-se Rua Vicente Ferreira Pinto.

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Ondas da Serra

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