Murtosa ciclável - Olhar os pescadores e a ria da Murtosa pela cicloria

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A Ria de Aveiro que banha esta parte do litoral também chega à Murtosa. Esta localidade possui excelentes condições para os amantes das caminhadas, pedaladas, simples observadores e pescadores. É um local bem iluminado, onde se faz sentir a ruralidade e o cheiro por vezes incomodativo dos fertilizantes naturais. É uma terra plana, cheia de canais, caminhos e recantos encantadores para descobrir.

Pedalando pelas ciclovias da Murtosa

Murtosa ciclável - cicloria

A equipa do Ondas da Serra pegou na bicicleta e com suaves pedaladas depressa percorreu o caminho que liga Ovar a esta terra pela EN 327, no sentido norte-sul. Ao chegar à Ponte Varela, tomou uma pequena estrada local à direita que ladeia a ria, denominada Marginal Padre António. Esta pequena via acompanha a ria vários quilómetros, observando-se da outra banda a Torreira. Por vezes esvoaçavam aves das terras de cultivo ou das margens da ria, a bicicleta não era das mais silenciosas, por fim chegamos à primeira etapa da viagem “Cais da Béstida”.

Uma terra de pescadores da ria

Continuando o caminho fomos encontrar ali perto o pescador António Silva, com esposa e a sua mãe idosa de nome Beatriz Amador, com 85 anos, num quadro familiar já raramente visto, porque hoje os idosos são depositados nos lares. Nas nossas viagens os “velhos” estão sempre prontos para falarem e contarem as suas historias e ricas experiências de vida. Devíamos apreender um pouco com os orientais que tratam esta classe etária doutra forma e aproveitam a sua sabedoria acumulada para cometerem menos erros. Nesta conversa com o pescador ele revelou alguns detalhes da sua vida, da faina e dos problemas que afetam a sua arte, os quais ficam para outro artigo.

Depois de deixarmos o pescador a maldizer os caranguejos que lhe rasgam as redes com as garras e as fracas pescarias, continuamos a pedalar para entrar na parte mais bonita da jornada. Não sabemos a razão, mas preferimos sempre os caminhos em terra batida, é mais natural e próximo da mãe natureza, como aquele que nos levou até ao Cais da Ribeira de Pardelhas.

Uma terra povoada por cegonhas

Este percurso é talvez um dos mais bonito desta zona, as margens estão cuidadas, existem observatórios para aves e com facilidade se avistam flamingos e cegonhas, por sinal tivemos a sorte de ver um grande grupo a esvoaçar. Com tanta cegonha em Portugal e nesta região não se entende a fraca taxa de natalidade, caso para estudo. Encontramos as terras trabalhadas e por isso se encontram bastantes agricultores atarefados, conduzindo as suas máquinas na sua "jorna" diária de tempos imemoriais.

Cegonhas e pescadores na Murtosa

Cais da Ribeira de Pardelhas

Chegado ao cais abriu-se à nossa frente, uma pintura surpreendente de pescadores com as suas bateiras à volta da faina num alegre colorido, parecia recreação, mas era a vida real. Estivemos à conversa com os pescadores Vítor Evaristo e Carlos Vieira com 53 anos de idade, que foi aproveitados pelos outros para lhe mandarem “bocas” sempre em tom de brincadeira e sem ofender, como deve ser mas para haver desentendimentos.

O Bunheiro

Ao passarmos pelo Bunheiro fomos arremetidos pela saudade, dos tempos que já lá vão, da meninice, dos cadernos, das contas, dos "malditos" ditados e dos castigos ao darmos de caras com a Escola Primária S. Silvestre. O olhar fixou-se neste monumento do saber onde se fazem os adultos e tantas vezes são maltratados.

Voltamos para Ovar por outro caminho, passando pelo centro da Murtosa e tomando a direção de Pardilho onde fomos encontrar um antigo mestre de rebocadores em Lisboa, de nome Zé do Castro, que disse ser mais conhecido por Zé Penicheiro, com 69 anos de idade, que nos avisou que o caminho por onde estávamos a ir não tinha saída, lá tivemos que retroceder, não fosse ele na sua antiga profissão mestre em colocar os navios no rumo certo.

A Ribeira do Mourão  

Acabamos o nosso percurso na Ribeira do Mourão, outro local emblemático, bastante cuidado, onde se pode apreciar um braço de ria, os moliceiros atracados no cais e com mesas onde se podem fazer bons repastos, só é pena às árvores por serem pequenas não oferecerem grande sombra.

Leia também: Pescando na Ria de Aveiro com “António Silva”, no Bunheiro - Murtosa

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Autor

Ondas da Serra

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