Centro de Interpretação Geológica de Canelas e Trilobites1
"Da jazida fossilífera popularmente conhecida como a "Pedreira do Valério", são extraídas ardósias, desde meados do século XX, cuja finalidade é a sua transformação e posterior utilização na construção civil. Com a lavra desta pedreira, tem sido descoberta uma importante fauna de invertebrados fósseis, constituída por trilobites, bivalves, rostroconchas, gastrópodes, cefalópodes, braquiópodes, equinodermes, Hyolithes, conulárias, ostracodos, graptolites e icnofósseis. Interpretados pelos primeiros trabalhadores como <<animais tempo do dilúvio>>, atualmente sabemos serem fósseis dos seres vivos que habitam o oceano que bordejava a margem sul do paleocontinente Gondwana, há cerca de 465 milhões de anos (Darriwiliano - Ordovícico Médio): Sabemos ainda que o registo paleontológico das trilobites encontradas é importante não só pelo gigantismo alcançado por muitas espécies (as maiores do mundo), mas também pelo seu estado de preservação.
Neste sentido, as condições ambientais de então favoreceram a conservação de mudas de carapaça junto a cadáveres completos de algumas espécies trilobites, de modo que muitos destes fósseis completam o conhecimento de alguns destes animais fósseis. O maior contributo desta jazida ao nível da biologia das trilobites consiste na descoberta de associações mono e pluri-específicas destes fósseis. A concentração em pequenos espaços de grupos de indivíduos em estado ontogénico similar foi aqui interpretada como indicativa do comportamento gregário alcançado por muitas trilobites durante a muda das carapaças ou a reprodução. O CIGC existe desde 1 de julho de 2006 e reúne alguns dos exemplares fósseis mais notáveis encontrados durante a laboração da pedreira de ardósias, tornando-se num dos Geossítios mais importantes do Arouca Geopark."1
Centro de Interpretação Geológica de Canelas possui as maiores trilobites do mundo
As trilobites eram uns pequenos seres que pertenceiam à espécie de “Crustáceos marítimos que dominaram a fauna do planeta durante a era Paleozóica. Encontram-se em Canelas - Arouca algumas das maiores e mais raras e até únicas espécies no mundo. Estes fósseis são da maior importância, mesmo a nível internacional, para estudo da origem e evolução da vida na Terra. Estes animais, que viviam em águas profundas ou em águas superficiais, extinguiram-se rapidamente há cerca de 230 milhões de anos.”2
Naquela altura uma grande catástrofe abateu-se sobre a terra, uma série de violentas explosões vulcânicas lançaram para a atmosfera cinzas e gases nocivos que acabaram por envenenar o mar, extinguindo a maioria dos seres vivos na terra e nos oceanos.
Entrevista ao proprietário do Centro de Interpretação Geológica de Canelas
A visão de Manuel Valério para a proteção destes fósseis
De forma a conhecermos melhor um local onde podem ser encontrados vestígios desses antigos fósseis, foi realizada uma entrevista com Manuel Valério, proprietário do Centro de Interpretação Geológica de Canelas - Arouca, perto do caminho de acesso à Espiunca.
Posso, há cerca de 200 anos que existe aqui ao lado uma exploração de ardósia, durante a exploração destas rochas têm sido encontrados bastantes fósseis de animais que viveram no fundo marinho há 500 milhões de anos, onde se incluem a trilobite que era o animal mais conhecido daquela época.
Pode-se então afirmar que esta zona de Arouca há muitos milênios era um fundo dum vasto oceano?
Estas rochas foram formadas no fundo de um oceano, que na altura não era aqui em Arouca.
Atualmente ainda se podem encontrar fósseis nesta pedreira?
Sim e a pedreira ainda continua a ser explorada.
De que forma os fósseis das Trilobites que aqui foram descobertos se diferenciam a nível internacional?
Os fósseis desta pedreira são considerados em termos de tamanho, os maiores do mundo. Já vieram aqui muitas entidades internacionais fazerem estudos e foram realizados 3 ou 4 congressos mundiais de paleontologia nos últimos 10 anos.
Por vezes ficasse com a ideia que este museu é pouco conhecido e poderia ser mais divulgado?
Pode ser verdade mas nós também não ambicionamos ter milhões de visitantes porque somos um pequeno museu e que fica situado numa zona muito isolada. Mesmo assim estamos contentes com os resultados, principalmente com as escolas, acima de tudo é um museu didático.
Quem quiser visitar aqui o vosso museu como é que o pode fazer?
Podem fazê-lo durante a semana, exceto às segundas e se for em grupo convém fazer marcação prévia. Temos preços especiais para grupos escolares, aliás este museu é visitado 90% por escolas.
Pode indicar-nos qual a média de visitantes que tem anualmente e a sua origem?
Temos em média 10 mil visitantes por ano, sendo na sua maioria nacionais.
Tem alguns projetos para um futuro próximo?
Vamos entrar em obras para melhorar o próprio museu, inaugurar a exibição de um novo filme introdutório, porque antes de visitar o museu é exibido um filme para os visitantes perceberem melhor como se formam os fósseis. Vamos também fazer uma nova exposição e reformular toda a informação que está no museu. Estas obras não vão ser de grande monta mas principalmente para introduzir um pouco de interatividade nas apresentações.
A nível da cooperação institucional existe algum intercâmbio entre o vosso museu e outras entidades públicas?
Sim, nós integramos o Geoparque de Arouca que é o organismo que faz a divulgação de todo o potencial geológico desta terra.
Os incêndios que afetaram Arouca no Verão passado tiveram algum impacto nas visitas e afluência de público a este museu?
Afetou bastante o número de visitantes que decaiu cerca de 80%, agravado pelo facto do incêndio ter ocorrido em pleno Verão no mês de Agosto. Muitas pessoas deixaram de vir e também se queimou parte do passadiço que é uma infraestrutura interessante.
De que forma as pessoas particulares podem ajudar a preservar esta região, já que de todos os percursos pedestres temos conhecimento que só o PR1, Caminhos de Montemuro e PR10, rota dos aromas não foram afetados pelos incêndios?
Isso é muito difícil, isto arde sempre, que me lembre a cada 15/20 anos há um grande incêndio, fora os outros pequenos que há nesses intervalos, isso é normal porque as condições em pleno Verão são muito difíceis. Neste verão em concreto havia muito calor e vento.
Acha que estão a serem tomadas medidas para minimizar este problema, nomeadamente uma gestão integrada da floresta?
Não, cada um faz à sua maneira, o proprietário de um terreno não o limpa porque o seu vizinho também não o faz e se houver um incêndio arde tudo na mesma. É por isso que individualmente não vale a pena fazer nada, talvez só com a criação de um grupo ou uma associação.
Muito obrigada por nos ter recebido na sua "casa" e desejamos que continuem a divulgar este conhecimento às gerações futuras e que as vossas instalações sejam renovadas de forma alcançarem os objetivos pretendidos.
Esta entrevista foi realizada em 2016, em 2022, este senhor faleceu prematuramente e aqui fica a nossa saudade e respeito pelo homem e seu projeto.
Outros pontos de interesse perto do Centro de Interpretação Geológica de Canelas e Trilobites
Junto deste museu parte um caminho que o leva ao geossítio Gralheira d'Água, onde existe vestígios de uma antiga mina romano de ouro e um miradouro com excelente vista. Em Espiunca começam os Passadiços do Paiva e onde também pode ver o geosssitio, Falha da Espiunca.
Créditos e Fontes pesquisadas
Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - aroucageopark.pt/pt/conhecer/geodiversidade/geossitios/colecao-de-fosseis-do-centro-de-interpretacao-geologica-de-canelas/
2 - Câmara Municipal de Arouca
Galeria de foto do Centro de Interpretação Geológica de Canelas e Trilobites
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