Salicórnia conhecida como sal do mar da Ria de Aveiro Salicórnia Ondas da Serra
terça, 22 maio 2018 23:06

Salicórnia conhecida como sal do mar da Ria de Aveiro

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Vamos relembrar novamente um dos nossos lemas “Olhar e Ver, Escutar e Ouvir”. Andávamos nós na foz do Rio Cáster perto da Ribeira de Ovar, como habitualmente para observar aves, quando vimos duas pessoas a colher algo nas margens da Ria de Aveiro, no canal de Ovar, o que seria? Como temos uma curiosidade natural e estamos sempre dispostas apreender, com educação perguntamos o que estavam a fazer. Estavam a colher salicórnia, que são também conhecidos como “sal verde” ou “espargos do mar”.

A Salicórnia é uma erva do Sapal da Ria de Aveiro

Salicórnia em Ovar

"A salicórnia uma erva que cresce espontaneamente em sapais (salinas), sendo altamente tolerante ao sal, com a particularidade de ser salgada. Outrora era vista como uma praga, hoje em dia, contudo as suas propriedades tem levado ao crescente interesse na sua exploração económica, sendo já considerada uma erva gourmet. Os locais mais frequentes onde ela pode ser encontrada é ao longo da costa e nas margens dos canais da Ria de Aveiro e Ria Formosa. O seu paladar salgado é acompanhado por muitos benefícios."1

Onde colher a salicórnia em Ovar

José Matos de Ovar

Fomos encontrar a Caminho da Foz do Rio Cáster em Ovar, num percurso pedestre que parte do Cais da Ribeira, dois irmãos com mais de 70 anos, João Matos e a Natália Matos, tinham acabado de colher esta erva. Disseram que pode ser colocada na comida, como substituto natural do sal. O João Matos disse-nos que há duas qualidades, uma mais clara e outra mais escura. A diferença reside no facto da última não morrer no inverno, embora fique mais mirrada. Mostrou-nos o local onde as tinham colhido e as suas diferentes tonalidades.

Antes de irem embora amavelmente ofereçam-nos um pouco, que ao jantar deu um gosto diferente ao arroz, realmente são muitos parecidas com espargos e têm um travo salgado. O que nos agradou mais foi que o comer ficou com os aromas da nossa ria e do nosso mar. As nossas pesquisas abaixo referidas demonstraram que as suas potencialidades são imensas, podendo ser utilizadas também em saladas frescas, ou simplesmente um pouco cozidas com azeite, como se faz para os espargos. 

Onde cresce a salicórnia

Salicórnia em Ovar

salicórnia cresce em espaços húmidos junto da ria e que não tenham ervas nem arbustos, como o junco ou a gramata-branca. Esta planta perde por competição para outras espécies que depois do seu desenvolvimento venham a crescer no local.  Esta espécie é pioneira de zonas perturbadas pelo homem ou força natural, porque por vezes há pequenas derrocadas de terra sapal, que são aproveitadas pelas espécies pioneiras para ganharem espaço para crescerem, depois acabam por ser substituídas por outras plantas. 

Benefícios da Salicórnia

Salicórnia em Ovar

  • Ação antioxidante;
  • Ação diurética;
  • Ação anti-tumoral;
  • Repositora de eletrólitos;
  • Combate os problemas de hipertensão arterial;

Salicórnia | Ilha dos Puxadoiros

"A Salicórnia é uma planta carnuda, que cresce em terrenos com elevado índice de salinidade, nomeadamente sapais, com uma particularidade, é naturalmente salgada (halófita). É usada para fins alimentares, devendo ser mantida fresca no frio, para melhor conservação a +4ºC. Comercializada fresca sobre a forma de rebentos entre 5 a 6cm, a salicórnia é recolhida entre março e setembro, na Ilha dos Puxadoiros. A salicórnia cresce de forma natural nas antigas marinhas de sal da Ria de Aveiro, existindo na Ilha dos Puxadoiros de forma otimizada, com uma textura única e um bom travo salgado ao paladar. Não é utilizado qualquer tipo de fertilizante ou qualquer outro meio químico para o seu cultivo."2

A Salicónia cresce junto aos sapais da Ria de Aveiro

Salicórnia em Ovar

O sapal é uma formação vegetal halófita adaptada às zonas salgadas, que se origina em zonas costeiras de águas calmas. O reduzido fluxo das marés facilita a deposição dos detritos e sedimentos em suspensão fazendo surgir bancos de vasa favoráveis à instalação dessa vegetação particular. Cada uma das três zonas do sapal é colonizada por espécies distintas, sendo influenciadas pela variação da salinidade, período de submersão, sedimentação e arejamento do solo.”  Biólogo Rafael Marques, da Câmara Municipal de Estarreja 

As diferenças da gramata-branca e da salicórnia

Gramata-brancana Ribeira do Mourão - Ria de Aveiro

gramata-branca também cresce no Sapal e tem o sabor salgado porque a água salobra onde vive e absorve o sal e como o caniço são depuradoras das águas, podendo os metais pesados e os poluentes subirem e por esta razão só as folhas da parte superior devem ser consumidas

Este arbusto pode durar vários anos, podendo por isso acumular mais facilmente poluentes e não sendo por isso tão rentável para ser explorada comercialmente. Já a salicórnia tem um ciclo de vida anual, germinando por volta de maio e atingindo o pico da colheita em julho para depois largar as sementes e secar em outubro/novembro. 

A salicórnia está a ser produzida comercialmente atualmente em antigos tanques das salinas de Aveiro. 

Onde encontrar salicórnia no sapal e como deve ser colhida

Biólogo Rafael Marques mostra à visitante Cristina Ferreira a planta Salicórnia

A salicórnia pode ser encontrada em zonas perturbadas do sapal e a sua colheita deve ser feita com cuidado, porque a planta cede facilmente pela raiz, devendo ser cortada pelo meio com uma tesoura para poder continuar enraizada no solo e desta forma os outros ramos poderem florescer e largar sementes.

Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - asenhoradomonte.com
2 - marca.riadeaveiro.pt

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Autor

Ondas da Serra

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