Recordando Mário de Oliveira Saleiro
Em Pardilhó passeamos, contemplamos a ria, aves, o nascer do sol na Ribeira do Nacinho, onde encontramos muitas vezes o Mestre carpinteiro naval, Felisberto Amador a pintar os seus barcos ou a retirá-los das águas para os levar para o seu estaleiro.
Quando queremos fugir da azáfama e acalmar o espírito é para aqui que viajamos de bicicleta, começando na Ribeira do Mourão e dando à volta pela Ponte da Varela, quando não nos entusiasmamos e vamos até Aveiro e regressamos de comboio.
Recebemos recentemente uma bonita e sentida mensagem de Mário Saleiro Filho, agradecer-nos por ter encontrado nos nossos trabalhos, referências bibliográficas ao livro do pai, que ele ajudou a redigir e que agora partilhamos com os nossos leitores.
O ser humano é eterno, depois de morrermos vivemos através dos nossos filhos e das memórias que deixamos, que poderão ser tanto maior quanto a bondade e vida frutuosa que tivemos.
O filho reside no Brasil e também para nós foi com emoção que recebemos e agradecemos as suas palavras e unimos estes dois continentes separados pelo Atlântico, mas próximos pelo coração.
Ler também: As Ribeiras das Terras Marinhoas de Pardilhó
Fotos: Cedida por Mário Saleiro Filho
Mensagem enviada por Mário Saleiro filho para o Ondas da Serra
ONDAS DA SERRA UM TSUNAMI DE EMOÇÃO
Sou a mais perfeita testemunha que a pandemia induz-nos a introspeção, e consequentemente, muitas vezes, diante desse quadro, afogamo-nos nas pesquisas da internet, e jamais imaginamos que impacto benéfico poderia nos causar.
Em 20 de fevereiro de 2021, resolvi ir a um famoso site de busca da internet e inseri o nome de meu pai "Mário de Oliveira Saleiro" na pesquisa. Descobri uma citação de seu livro "Esboço da História Contemporânea de Pardilhó" no site Ondas da Serra, comandado pelo Sílvio Dias. Foi verdadeiramente uma grande emoção...especialmente de saudades.
Ano que vem meu pai completaria 110 anos, 40 anos do lançamento do seu livro, e 60 anos que eu fui pela primeira vez conhecer o seu lócus natal. Posso afirmar que sou um luso-brasileiro militante porque há seis décadas que vivo, convivo, e interajo com o universo português, sobretudo pardilhoense.
Mesmo vivendo há [quase] 64 anos no Rio de Janeiro, houve quatro intermitências dessa vivência carioca pois fui morar em Portugal: duas em Pardilhó por quase um ano (com 5 e 10 anos de idade respectivamente, a ser apresentado a aldeia [na época] e posteriormente a cursar a escola primária), e duas em Lisboa (atuando como recém arquiteto na virada dos anos oitenta para noventa por quase três anos, e cursando por um ano o pós-doutoramento em arquitetura na Universidade de Lisboa entre 2017 e 2018).
Sou uma pessoa dividida entre duas Mátrias (julgo essa terminologia mais adequada - Mães Pátrias), mas também sou ser multiplicado no âmbito cultural (modéstia à parte). Meu pai plantou uma semente lusa na minha educação e consegui fazê-la germinar. No início dos anos oitenta fui eu que datilografei o seu livro, por quatro vezes, para acontecer a noite de autógrafos na Junta de Pardilhó no verão de 1982 - quando meu pai completaria 70 anos. Atuei na parte mecânica desse processo autoral com muita satisfação. O livro não deixa de ser um afilhado meu.
Como acadêmico, não posso deixar de ficar sensibilizado pelas citações bibliográficas, e sabiamente, Sílvio Dias o fez excecionalmente bem. Consubstanciando ainda mais nesse sentido, no mesmo site, deparo-me com um vídeo de Sílvio Dias manuseando o livro de meu pai sentado a um barco [acredito que] na Ribeira da Aldeia, apresentando-o ao mundo.
A afirmação os olhos são as janelas da alma é indelével. As minhas janelas foram lavadas nesse sábado de fevereiro por uma Onda da Serra um verdadeiro Tsunami de Emoção.
Muito obrigado pelo carinho, um grande abraço.
Mário Saleiro Filho em 20 de fevereiro de 2021.