Frecha da Mizarela a maior e mais bela cascata Portuguesa Frecha da Mizarela - Serra da Freita - Arouca Ondas da Serra
sábado, 13 junho 2020 02:04

Frecha da Mizarela a maior e mais bela cascata Portuguesa

Classifique este item
(2 votos)

A Frecha da Mizarela foi esculpida na Serra da Freita em Arouca, junto das aldeias da Mizarela e perto de Albergaria da Serra. Neste arrepiante local, que bloqueia os que têm vertigens, do miradouro vislumbra-se o Rio Caima a despejar brutalmente e destemido as águas no abismo,  numa queda com mais de 60 metros de altura, naquela que é a maior queda d'água de Portugal. Neste artigo vamos conhecer este magnífico local, os pontos de interesse, as suas aldeias em redor, geossítios, praia fluvial, ver um vídeo da descida ao vale e fotos, que lhe vão despertar a curiosidade e vontade de a conhecer. 

Frecha da Mizarela - Arouca, a maior e mais bela cascata Portuguesa

Frecha da Mizarela - Arouca

Esta é uma das maiores fraturas geológicas existentes na Península Ibérica, a sua grandiosidade pode ser contemplada do miradouro das aldeias da Mizarela e Castanheira, no lado oposto da encosta. Esta última mais conhecida pelas pedras parideiras, fenómeno assaz curioso onde as pedras parem pedras, para perpetuarem geração.

Esta é uma das maiores quedas de água do distrito de Aveiro, com 60 metros de altura, nós também já visitamos a da Cabreia, situada em Sever do Vouga, com 25 metros. Ambas têm a sua beleza e personalidade, uma mais quente, austera e serrana, outra fria, verde e luxuriante. Agora falta-nos ir conhecer a cascata das Aguieiras em Alvarenga, com um conjunto de desníveis que totalizam cerca de 160 metros.

Leia também: Cascata da Cabreia em Sever do Vouga

Os mais destemidos e em boa forma física, podem descer pela encosta até ao vale profundo, devidamente equipados com calçado e roupa apropriada. O trilho fica localizado perto do miradouro da Mizarela. É curioso vermos descer pelo difícil percurso, pessoas de todas as idades, sexos e vontades, sem cuidados ou equipados. Por vezes paramos a contemplar namoradas a tomar a dianteira e convencer os seus rapazes para descerem até ao fundo. Eles de calças modernas e ar citadino armam um “Ainda falta muito, mas se tu queres”, e continuam pé ante pé, com cara de caso, tempos modernos.

O esforço compensa os aventureiros que têm à sua espera no fundo do vale uma vista soberba sobre as grossas águas que caem do firmamento e uma pequena cascata de águas temperadas no verão para se refrescarem.

O nosso leitor Manuel Serôdio, partilhou connosco uma memória da avó, Ana Rosa Marques, também conhecida por "Tia Barnabé", (nome do avô), que viveu no lugar da Espinheira - Oliveira de Azeméis. Em temos ela ensinou-lhe uma canção sobre este local que a mãe perpetuou, e que ainda hoje conhece:

A água da Mizarela, alta está ela, deixem-na estar... que os fidalgotes do Porto, por ela ser boa querem-na encanar. A água lhes respondeu, cá nestas alturas quem manda sou eu, e nem tínheis tanto esforço para me encanarem daqui para o Porto.

Frecha da Mizarela queda de água com mais de 60 metros1

Frecha da Mizarela - Arouca

"Aqui, o rio Caima projeta-se a mais de 60 metros de altura, num espetáculo natural digno de ser contemplado, à escuta das águas que correm pelas rochas graníticas aproveitado pelos praticantes de canyoning. Do miradouro observa-se, a três dimensões, o granito da serra da Freita, uma rocha mais dura e resistente à erosão fluvial do que a generalidade dos micaxistos localizados a jusante. Estas rochas metamórficas ante-ordovícicas, por serem mais brandas e macias, tornam a erosão fluvial mais eficaz, algo que é bem visível na paisagem, devido ao rebaixamento topográfico que apresentam.

Mas não é só esta erosão diferencial que explica a origem da Frecha da Mizarela. Acredita-se que o sistema de falhas que condiciona toda a serra da Freita terá, igualmente, desempenhado um papel importante para a ocorrência deste fenómeno. Neste sentido, a movimentação dos blocos associada à Orogenia Alpina terá contribuído significativamente para o encaixe do rio e para a formação deste grande desnível.

As encostas íngremes que circundam esta queda de água apresentam um verde luxuriante, com relíquias da vegetação primitiva da serra da Freita. Da Laurissilva persiste, na base da Frecha, o rododendro (Rhododendron ponticum subsp. baeticum) e nas escarpas observam-se as árvores representativas da Fagossilva, com enfase para o carvalho-alvarinho (Quercus robur) e o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), entre outras espécies raras e protegidas."1

Localidade: Mizarela - União de Freguesias de Albergaria da Serra e Cabreiros;
Altitude: 910 metros;
Coordenadas GPS: 40,863775 | -8,285559;

Miradouro da Frecha da Mizarela2

Miradouro da Frecha da Mizarela

"Na aldeia da Mizarela, aproveite o miradouro que oferece uma magnífica panorâmica da cascata e da exuberante paisagem envolvente. Para se conseguir uma vista mais desafogada, é necessário descer um pouco da estrada (de carro ou a pé). Outro local interessante para mirar a Frecha da Mizarela é a Aldeia da Castanheira, onde ficam localizadas as Pedras Parideiras.

No fundo da Frecha da Mizarela, há um poço onde se pode deliciar com um bom banho e ter uma perspetiva diferente desta majestosa queda de água. Todavia, o local só é acessível a pé e o percurso é dificuldade elevada. Se gosta de aventura e está bem preparado fisicamente, parta à descoberta."

Ponto de interesse da Frecha da Mizarela

Biodiversidade da Serra da Freita*

Loendro - Serra da Freita - Arouca Geoparq

Este vale é um refúgio para a biodiversidade, lar do loendro, espécie endémica muito rara e de aves de rapina, que se elevam no ar com correntes ascendentes e com sorte você poderá ver o falcão-peregrino, águia-de-Bonelli, bufo-real, tartaranhão-caçador, milhafre-preto, peneireiro-comum, águia-cobreira, coruja-do-mato ou o mocho-galego.

Segredos duma queda de água*

Os rios desgastam as rochas escavando vales. Aqui, o rio Caima passa de um leito granítico para um xistento. Porque o granito resiste melhor ao desgaste provocado pelas águas do que os micaxistos mantém-se a um nível topográfico mais elevado. Além disso, esta região é afetada por um conjunto de falhas que facilitam a erosão contribuindo também para o desnível verificado na paisagem onde ocorre esta queda de água.

Serra da Freita*

Do alto dos seus mais de 1000 metros, a Serra da Freita oferece um colorido raro, povoado por gado da raça arouquesa, que deambula livremente. As aldeias da Mizarela, Albergaria da Serra, Cabaços e Castanheira, típicas aldeias serranas, localizadas a mais de 900 metros de altitude, marcam a paisagem. A importância da Frecha da Mizarela reflete-se ainda no património cultural imaterial local, com um belo canto polifónico a três vozes a celebrar as suas águas e a sua altura.

Percurso pedestre PR15 - Viagem à Pré-História - Uma beleza na Primavera

Percurso pedestre PR15 - Viagem à Pré-História - Serra da Freita - Arouca

PR15 Viagem à Pré-História e fragrâncias da Serra da Freita, são "viagens são feitas essencialmente no planalto da Freita. Com partida e chegada na aldeia do Merujal, poderá conhecer alguns dos mais significativos geossítios da Serra, com destaque para a Casa das Pedras Parideiras, a Frecha da Mizarela e as Pedras Boroas do Junqueiro. Merujal, Cabaços e Castanheira são algumas das aldeias mais características desta parte do Arouca Geopark, e poderá, ainda, encontrar alguns testemunhos de monumentos funerários pré-históricos, dignos de visita."2

- O que fazer em Arouca - O que ver em Arouca - Onde comer em Arouca - Onde dormir em Arouca

No meio das montanhas do distrito de Aveiro, há uma grande riqueza que o nosso leitor poderá conhecer na uma síntese que fizemos do que pode fazer, ver, comer e dormir em Arouca. Neste artigo o visitante poderá conhecer o passado geológico da terra, fósseis dos maiores trilobites do mundo, onde os romanos exploraram minas de ouro, um Mosteiro onde está sepultada D. Mafalda, Passadiços do Paiva que colecionam prémios internacionais, uma ponte suspensa de arrepiar que já foi a maior do mundo, praias fluviais paradisíacas e percursos pedestres maravilhosos e outras atrações ímpares do património natural e arquitetónico. Neste concelho destacam-se as suas aldeias, perdidas nos montes, incrustadas em granítica rocha, onde o tempo corre devagar. O visitante depois de tanta atividade tem que comer a conhecida posta arouquesa e provar a doçaria conventual com as conhecidas castanhas doces, mas onde há outros manjares dignos de reis, numa terra que nunca se esgota e tem sempre aventuras e surpresas para descobrir.

Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - aroucageopark.pt/pt/conhecer/geodiversidade/geossitios/frecha-da-mizarela/
2 - visitarouca.pt/atracoes/frecha-da-mizarela/

 

Vídeo da descida à Frecha da Mizarela

 Galeria de fotos da Frecha da Mizarela

 

Lida 3546 vezes

Autor

Ondas da Serra

Ondas da Serra® é uma marca registada e um Órgão de Comunicação Social periódico inscrito na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com um jornal online. O nosso projeto visa através da publicação das nossas reportagens exclusivas e originais promover a divulgação e defesa do património natural, arquitetónico, pessoas, animais e tradições do distrito de Aveiro e de outras regiões de Portugal. Recorreremos à justiça para defendermos os nossos direitos de autor se detetarmos a utilização do nosso material, texto e fotos sem consentimento e de forma ilegal.     

Itens relacionados

Rota do Vale da Bestança trilho dos mais belos de Portugal

O percurso pedestres PR2 - Rota do Vale, fica situado no concelho de Cinfães, distrito de Viseu. Este trilho linear, com 18,8 km de extensão, desenvolve-se pelo Vale da Bestança, que se caracteriza pela sua luxuriante fauna e flora. O rio que lhe inspirou o nome nasce na Serra de Montemuro e corre livremente pela encosta até desaguar no Rio Douro. A Associação para a Defesa do Vale do Bestança trabalha para a conservação deste rico habitat tendo como principal missão impedir o aprisionamento do rio com a construção de mini-hídricas. O auge da sua beleza reside na planície central do Prado, que prende o olhar pela sua formosura, marulhar das águas, sinfonia dos pássaros e harmonia da criação. Veja com os seus olhos e diga-nos como alguém pode escrever fielmente sobre a sua beleza. O percurso é caracterizado também pelas aldeias rurais que atravessa, povo que ainda lavra terras, pontes medievais, grande eira comunitária de Bustelo, Capela e Muralha das Portas de Montemuro. Este é um desafio esgotante que o leva às portas do paraíso e a uma natureza que pensávamos perdida e que afinal ainda subsiste com o empenho das gentes locais.

Ecovia do Arda: Guia técnico completo para fazer o trilho

A Ecovia do Arda, situada em Arouca, com início no coração da vila, é um percurso ribeirinho junto ao rio que lhe inspirou o nome. Os seus 11 quilómetros passeiam pelo interior profundo de seis freguesias, onde se desenrola a vida agrícola, num ambiente bucólico e profundamente rural, com a lida do campo, criação de animais ou o desenrolar diário da vida do seu povo. O visitante ao caminhar ou pedalar pelo seu percurso é surpreendido pela riqueza do seu património natural e arquitetónico, com a profusão de fauna, flora e antigos monumentos. Pelo caminho foram construídos parques de merendas, descanso, atividades radicais e recuperação de moinhos. O percurso foi bem desenhado com construção eficiente do corredor ecológico, passadiços e estruturas metálicas, algumas com 70 metros e passagens vertiginosas sob antigas pontes. O mesmo está bem sinalizado a nível da orientação, sinalização e informação. Em suma, se for conhecer este passeio irá ter uma surpresa agradável e passar um dia tranquilo e sair com forças revigoradas.

Assustadora Estrada do Portal do Inferno na Serra da Arada

A Estrada do Portal do Inferno é uma estreita via sinuosa, com perto de 18 km, a cerca de 1000 metros de altitude que percorre uma crista altaneira da Serra da Arada, caracterizada pelas suas falésias abruptas e precipícios infinitos, que metem medo ao olhar e fazem temer os incautos. O seu percurso em pleno coração do Maciço da Gralheira, começa perto da Capela de São Macário em São Pedro do Sul e termina na aldeia de Ponte de Telhe em Arouca, nos distritos de Viseu e Aveiro. A sua beleza é enaltecida na primavera quando a serra se pinta de tons verdes, amarelos, laranjas e lilases da carqueja, urze e giestas e que perfumam o ambiente e inebriam os sentidos. No seu percurso passa pelo geossítio do Portal do Inferno da Garra, com uma visão panorâmica de arrepiar sobre o vale por onde corre o Rio Paivô e Aldeia de Portugal de Covas do Monte. Os pontos de interesse são variados, desde as aldeias típicas de montanha em xisto, mariolas dos pastores, gado bovino e caprino que pasta livremente, fauna e flora. A mesma é muito popular entre os ciclistas e motociclistas, embora alguns corajosos condutores de automóvel também se aventurem pelos seus domínios.