Rostos de Macieira de Alcôba
Professor João Monteiro
Ainda no início da caminhada, já no coração da aldeia, surgiu um velho homem, de olhar doce, voz pausada e ar sabedor. Paramos debaixo de um grande sobreiro, local emblemático para conversarmos um pouco com o Professor João Monteiro. Solteiro e com 88 anos, foi Professor nos Liceus de Angola e Cabo Verde. Regressou a Portugal após a revolução de 25 de Abril de 1974.
De volta ao nosso país, lançou uma empresa agrícola e ficou pela aldeia desde então a trabalhar na agricultura. Nesta manhã interrompemos a sua rotina de tratar do seu o gado, composto por quinze ovelhas e duas vacas.
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À semelhança da desertificação do interior, as tradições foram perecendo e hoje são peças solitárias no património identitário de Portugal. Uma das que acabou foi a festa em honra do São Martinho, padroeiro do local: “Apesar de termos um Centro com todas as condições não temos pessoal”, diz com voz penosa.
Ali vivem cerca de sessenta pessoas e poucas crianças: “Está tudo para fora, não vem cá ninguém, a escola nem funciona, está tudo morto”.
Deixámos o Sr. Professor e continuamos a nossa caminhada. Só no final da tarde voltamos a cruzar-nos com pessoas, desta vez um casal a tratar das suas cabras. O homem era mais reservado, a esposa lá nos foi dizendo alguma coisa. Chamasse Laurinda Duarte, tem 69 anos e tinha vindo buscar as suas dez cabras e um carneiro ao curral para ir com elas para o mato. Sempre trabalhou na lavoura e não lhe arrancamos mais nada.
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Perto da subida para a Capela de Nª Sr.ª de Fátima, sentadas ao sol junto a uma casa, duas mulheres viram-nos chegar com curiosidade. Uma mostrou-se logo disposta a conversar, a outra lá nós foi maldizendo, mas também acabou por falar e fazer rir toda a gente.
Deolinda Arede
Deolinda Arede, tem 88 anos, trabalhou em vários locais, acompanhando o seu falecido marido que era sargento-mor escriturário. Tem duas filhas, muitos netos e um bisneto, mas não mora lá ninguém, estão todos em Lisboa, embora venham visitá-la várias vezes.
Maria Fernandes
Maria Fernandes, apesar dos seus 91 anos, possui um vozeirão e determinação tão grave como a idade, deveria em nova ser uma forte mulher. Também trabalhou na agricultura e tem uma filha a viver em Lisboa.
Quando lhe perguntamos como passam ali o tempo arrebatou “O Senhor não está a ver, encostada às pedras e ao cabo”, lançando grandes risadas. Vivem sozinhas nas respetivas casas e durante o dia combatem o isolamento pelos cantos das ruas, mas à noite é complicado: “Pois isso à noite é que é uma questão”, partilha Maria. A Deolinda reforça a questão: “À noite é muito esquisito”. Em relação à solidão são unânimes: “Vemos televisão, ligamos para este e para aquele, e assim vamos andando”. Às vezes, passa uma psicóloga da junta de freguesia para fazer a visita de rotina.
Deixamos as duas senhoras e subimos a ladeira em direção à capela de Nª Srª de Fátima, que lá do cimo protege a aldeia.
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